domingo, 13 de março de 2011

Um aceno para o menino

Geraldo Borges


O trem passava todo santo dia pela cidadezinha do distrito. Quando o menino ouvia o apito da locomotiva sai de casa correndo, e, ficava, a uma distância do corte em que podia avistar os vultos de pessoas sentadas em bancos à janela . A locomotiva apitava e diminuía a marcha porque havia uma estação na cidade. Ai o menino acenava indistintamente para as pessoas. Esperava um aceno, um simples gesto de boas vindas, cordialidade. Mas não era correspondido. Mesmo assim, sempre que o trem passava, ele acenava.


Um dia, voltando para casa, vitima de mais um insucesso, encontrou o pai que ia saindo para o trabalho. O pai lhe perguntou por que estava triste. É que sempre dou com a mão para os passageiros do trem e eles não me respondem. O pai passou a mão na cabeça do filho, e disse: continue acenando, quem sabe um dia alguém lhe retribua o gesto.


E saiu para o trabalho. Mas não voltou no mesmo dia para casa.


Resolveu pegar o trem e ir para a cidadezinha mais próxima. Chegando lá procurou uma pequena pensão. Falou com o hospedeiro para lhe arranjar um quarto só por uma noite.


A pensão estava lotada, disse o hospedeiro. Mas se ele quisesse, havia um quarto, que já tinha um hóspede, um sujeito mal encarado, tosco. Não sei se você vai aceitar. Ele disse, não tem problema, é só por uma noite. Amaná de manha eu pego o trem de volta. Então tudo bem, disse o hospedeiro.


O pai do menino entrou no quarto. Deu boa noite ao estranho. Não notou nenhuma antipatia, embora ele tenha resmungado boa noite. Até conversaram antes de dormirem. O novo hospede disse que estava ali para cumprir uma missão. Ai contou o caso do filho dele. Disse que de manhã cedo pegaria o trem e quando passasse perto da estação da cidade iria ver seu filho dando com a mão para os passageiros sentados à janela E ele aproveitaria, então, e daria com a mão para o seu filho.


Terminou de contar a história. Falou um pouco sobre o tempo. E tratou de dormir. O companheiro de quarto também deitou. Pois ia viajar também de madrugada.


O dia amanheceu. Quando o pai do menino acordou olhou para um canto da parede viu a cama do seu companheiro de quarto vazia, os lençóis desarrumados. Assustou - se e olhou para o relógio no pulso, mais um susto. Havia perdido a hora do trem. Na sua imaginação viu o menino acenando mais uma vez sem ninguém lhe corresponder o gesto. Que diabo. Por que foi dormir tanto. Deve ter sido a chuva. E pensou. Esta chuva deve estar caindo na minha cidade também. E meu filho vai ficar em casa desta vez. Tomara que sim.


Enquanto isso, na estação, o trem partia, ao som de apitos e nuvens de fumaça e acenos de pessoas dizendo adeus na plataforma. Ao chegar próximo a estação da cidadezinha do distrito apitou, diminuiu a marcha


O menino apareceu correndo. E deu com a mão para um passageiro que estava em uma janela O hospede que havia saído antes da chuva. Este sem perda de tempo correspondeu como se fosse o verdadeiro pai do menino. Os acenos demoram até o trem diminuir na distancia, no meio da fumaça.


No outro dia o pai voltou. E não viu o menino acenando. Mas o encontrou alegre como um passarinho. Perguntou por que ele não tinha ido acenar para as pessoas no trem; O menino respondeu:


- Ontem alguém correspondeu o meu aceno. Estou satisfeito... .


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito emocionante ,e, profundo sentimento de interação_ de um mundo especial da infância, que busca dá sinal de bem -vinda, boa passagem, "Eu estou aqui", sigam bem; o caminho é longo, pelas estradas da vida: nesse mundão nosso que é o Brasil.