domingo, 27 de março de 2011

na contra-mão nuclear

Edmar Oliveira


Tem coisas com só acontecem ao Botafogo ou ao Piauí. Como torço pelos dois a probabilidade de constrangimento duplica em mim. O Botafogo perder mais uma partida ganha nem é mais assunto para uma crônica. Agora, não sei se perceberam aí, mas uma notinha nos jornais, na mesma semana em que a notícia principal era a catástrofe nuclear no Japão, me tirou do sério: o Governador do Piauí pedia à Presidenta da República que a próxima usina nuclear a ser instalada no Brasil fosse no Piauí. Precisava?



Digamos que a Presidenta atendesse o desejo do nosso Governador. Onde ele desejaria ver sua grande obra, geradora de empregos nucleares, ser erguida no nosso estado: certamente não seria no norte, próximo ao estuário encantador do delta do Parnaíba. Nem podia ser um pouco mais embaixo, matando outra vez os mortos de Jenipapo ou ameaçando contaminar a saborosa carne de sol de Campo Maior. Também ninguém ia agüentar que fosse perto da Chapada do Corisco, sujeita a raios e trovoadas e podendo inviabilizar, por rejeitos tóxicos, o Encontro das Águas e a lenda do Cabeça de Cuia. Ainda podia ter reclamos exaltados do Maranhão, pela proximidade de Timon.


Se o Governador erguesse a usina mais ao sul, certamente teríamos protestos em Floriano, na Regeneração dos Ferreiras, em Angical, Amarante e na minha pacata Palmeirais. Se puxasse a usina no rumo de Oeiras, aí é que a briga seria grande, com a ex-capital reclamando na voz de seus poetas, de seus políticos e de seus loucos: afinal, querem acabar com a memória de que Oeiras existiu? Pros lados de São Raimundo Nonato, junto aos fósseis do Homem Americano da Serra da Capivara, no mínimo, o senhor Wilson Martins levaria uma varada da zangada Niède Guidon.


Lá mais embaixo, na região do Gurguéia, o Governador provocaria o movimento separatista do Estado das Águas de Gurguéia. Na região da Serra Vermelha, onde já transitam os queimadores de carvão, os ecologistas do Morro Cabeça do Tempo botariam sua excelência pra correr. Mais ao sul, com a soja da monocultura, teríamos uma briga capitalista.


Pois bem, senhor Governador, porque não temos energia eólica, aproveitando os ventos do litoral, e a energia solar, reverenciando a terra “Filha do Sol do Equador” (dos versos imortais do nosso poeta)? Acho que a energia atômica, por qualquer tremorzinho que balance as estruturas, não há resfriamento possível no nosso calor de cinqüenta graus. Nem o frio de lascar do Japão resfriou a porqueira quando a reação começou... Imaginem no quentão do sertão... Vamos esquecer essa idéia?

5 comentários:

MARCIA disse...

COM TUDO ISSO, ACHO QUE TORCER PELO BOTAFOGO, PODE SER MENOS CONSTRANGEDOR... QUE DIABOS PASSA PELA CABEÇA DE UM CARA,NO MEIO DA CRISE DO JAPÃO, QUERER UMA USINA NUCLEAR EM SUAS TERRAS?

Damasceno disse...

Factóides pra desviar a atenção do nada que está acontecendo no Piauí sob nova direção. A preocupação no momento, pelo que tenho sido informado, é que rumo o Wilsão tomará, visto que, de socialista/ petista, nem cacoete tem. O cara não recebe nemmais os "companheiros" que se elegeram pelo interior afora.
Molin. molin? Ele não sabe nem como diabos iniciar a administração de um Estado. Ficar de verborragia em púlpitos de Câmara de vereador e de Assembleia Legislativa, é facin, facin, realizar é tarefa para o menino Wellington Dias.
O Wilsão vai se juntar ao Aécio Neves e ao Cito Gomes na feitura de mais uma SIGLA do mesmo saco.

Administração disse...

Rapaz, só mandam coisa ruim para o nosso Piauí. Que inveja é essa, que essa turma tem do povo do Piauí?

Anônimo disse...

Prezado Edmar,
pouca gente sabe disso (o que já uma coisa natural no Piauí), mas o Estado dispõe da Lei nº 4.162, de 29 de dezembro de 1987, que proíbe depósito de lixo atômico no Piauí.
Agora é só extender a lei para a produção.
abs,
marcos.

Fonte: Legislação de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí. Marcio Antonio Sousa da Rocha Freitas. Teresina. Ed. 2003, 500p.

Anônimo disse...

Concordo apenas em parte. Sou adepto da energia nuclear. O acidente de Fukushima ocorreu em três reatores enquanto outros três resistiram intactos ao desastre. Por quê? Explicar isso tomaria tempo demais e não vem ao caso agora. A questão é a usina nuclear no Piauí. A condição básica para sua instalação é a necessidade de grande volume de água para o seu resfriamento. E quanto mais quente a água, maior será o volume necessário para tal. Porém, sendo a água naturalmente quente, acima de 25 graus, talvez o resfriamento não seja suficiente. Nesse ponto concordamos. Voltemos à possível localização. Conheço muito pouco do Piauí, estive apenas duas vezes no estado, mas percebi que há uma instabilidade hídrica muito grande, e que a grande aorta hídrica do estado é o Parnaíba. Como uma usina hidrelétrica usa água somente para o resfriamento, ela poderia ser captada na represa de Boa Esperança e devolvida a ela. Sem risco de contaminação, mas não vou entrar nesse detalhe. A única alternativa seria o litoral.
Uma usina nuclear pode gerar 2.000 MW numa área minúscula, mas não proporia que fosse construída no Piauí. Minha sugestão é no Sudeste mesmo, afinal, boa parte da geração das hidrelétricas do Madeira e do Xingu serão injetadas diretamente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, por meio de linhas de transmissão em corrente contínua. O impacto ambiental fica ao Norte, mas os benefícios diretos estão sempre ao Sul. E há quem defenda a independência dos estados sulistas.
Rodrigo