
você produz profecias como quem anda
no fio do serrote
o que faria hoje com a sua morta biografia
transgressora?
tão flébil, tão engasgada de melancolia fértil
totalmente gesto
integralmente grito
a matéria não seria coisíssima nenhuma
sem o desejo
o seu desejo me agride com grosserias
você é tão passional que a tinta com que escrevo
sangra
você não me dá tempo para o sangue
secar
parece que sou um canalha ou que fui um covarde
enquanto você se queima em praça pública
para me aquecer
você fala demais, deixa abertas todas as possibilidades
muda de freqüência, descreve detalhes vergonhosos
dirige o seu carro de vidros escuros como louca
para o abismo
você permanece insuportável e me deixa confuso
a supor que mente o dito no vivido
e vice-versa
ou quando chama as deusas de biscates
você me deixa excitado com o ridículo e me comove
com o desprezível
você no fio suspenso me sacode de pavor e delírio
desequilibrista do contratempo que vai
da radical mitomania das palavras
à matriz poética da prosa
e nunca cai
não por inteiro
mas por não ter um norte, um porto seguro
não ter chão deve ser um incômodo para todos
menos para você
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O pessoal do Mirada Anterior (veja blog nas recomendações abaixo) comparece e bem na fita.Texto de Filipe, foto de Julia (O Muro).
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