Cineas Santos
Consta que, no Piauí, houve um governador – o nome não me ocorre agora - que não podia dormir sem que isso acarretasse despesas extras para os contribuintes.O homem, atestam alguns, sofria de megalomania galopante. Mal madornava, já sonhava com projetos faraônicos, que seriam risíveis não sangrassem as burras do Estado.Eram iniciativas mirabolantes: navios para navegar rios secos, máquinas de arrancar toco, hortas em telhados, caiação de asfalto ou elevados ligando a prepotência ao populismo desenfreado. Mas deixemos isso ao julgamento da história, que o objeto dessa arenga é outro.
Peço permissão aos meus três leitores para relatar um sonho, nada grandioso, mas, ainda assim, capaz de gerar conseqüências. Noite dessas, sonhei que atirava uma pedra com um prosaico bodoque (alguém aí ainda se lembra disso?) e derrubava um gavião que planava livre nas alturas. Sonho tolo, politicamente incorreto e improvável: as poucas vezes em que atirei pedras com bodoque, que nós chamávamos “badogue”, o máximo que consegui foi acertar o dedão da mão direita, experiência bastante dolorosa. Ao acordar, me dei conta de que faz uns cinqüenta que não vejo um bodoque. Naquela madrugada não consegui mais dormir pensando nos badulaques, brinquedos, brincadeiras e práticas que, em menos de meio século, saíram de circulação. Foi aí que me ocorreu a idéia de arrebanhar o maior número possível de parceiros e criar o MUSEU DA CRIANÇA PIAUIENSE. Na manhã seguinte, disparei telefonemas em todas as direções e a idéia começou a ganhar corpo.
Paulo José Cunha, mestre Santana, João Cláudio, Zózimo Tavares, Cláudia Brandão, Isabel Cardoso, Biá, Amaral, Gabriel, Graça Vilhena, Edivaldo Nunes e todos os companheiros do projeto “ A Cara Alegre do Piauí” foram acionados em tempo recorde. Para nós, o Museu passou a ser prioridade. O alcaide Sílvio Mendes comprometeu-se a apoiar o projeto, independentemente do resultado da eleição.
O MUSEU DA CRIANÇA não será, como pode parecer à primeira vista, um simples depósito de brinquedos antigos ou bugigangas imprestáveis. Será algo vivo, dinâmico, vibrante e interativo. A molecada terá acesso não apenas aos brinquedos, mas às práticas, aos costumes e tradições das crianças do Piauí, da alimentação às mezinhas, passando pelas cantigas de roda, histórias de trancoso e tudo mais. O espaço será equipado com uma biblioteca temática: livros sobre o lúdico. Colocaremos à disposição de professores e alunos de Teresina toda a bibliografia disponível sobre o assunto. No espaço haverá também lugar para oficinas, cursos, práticas recreativas e, principalmente, brincadeiras, muitas brincadeiras.
Irmãos e irmãzinhas, está lançada a idéia. Quem tiver, em casa, algum brinquedo antigo, quem souber a letra de uma cantiga de roda, quem tiver disposição para ajudar que se credencie. O Museu terá o tamanho da nossa disposição para realizá-lo. Será a nossa contribuição para que essa geração, que dorme e acorda mergulhada nas salas de bate-papo , nos vídeo games, nos jogos eletrônicos, tome conhecimento de uma época em que brincar não era necessariamente sinônimo de consumir. Mãos à obra, irmãos
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Mestre Cineas brincando de sonhar. Mas aposto, com quem valer, que ele ganha a brincadeira...(Edmar)
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