quinta-feira, 3 de abril de 2008

PRÊMIO NOBEL

Geraldo Borges

Estou bastante surpreso. Não acredito. Mas, no fundo, não posso disfarçar o meu contentamento, por ser o primeiro brasileiro a ser escolhido para o prêmio Nobel da literatura. Até que enfim o Brasil ganhou o prêmio. Um espetáculo. Não sei mesmo por que não deram para o mestre Jorge Amado, que fez da cidade da Salvador o grande cenário dos seus romances. Não sei por que não deram para Nelson Rodrigues, que conhecia tão bem a nossa classe média E por que não deram para o Paulo Coelho, o autor de o Alquimista, bem que merece pela sua condição de mago e mágico ao mesmo tempo, pois faz chover, ou fazia; se ainda não levou o prêmio foi porque não quis . Não está interessado. Melhor para mim. Eu vou levá-lo.



Mas o melhor do prêmio não e a fama. Não estou preocupado com a fama, com os holofotes, na minha idade prefiro ser um simples vaga – lume. O melhor do prêmio é a bolada. E vou gastar este dinheiro com mulheres e viagens. Algumas lindas secretárias.


Logo estarei embarcando para Estocolmo para receber o prêmio tão aclamado das mãos do rei. Esqueci-me do nome dele. Talvez seja George, Gustavo, Guilherme. Preciso me lembrar. Já pensou? Vou ter que enfrentar o frio de um pais nórdico. Comprar: sobretudo, casaco, luvas, botas, meias de lã, cachecol. Estou imaginando as notícias nos jornais, televisão. A mídia querendo me entrevistar. Todo mundo querendo ler os meus romances, que estão encalhados nas editoras, dormindo nas prateleiras dos sebos. Agora as editoras me disputarão. O estado do Piauí vai adorar e sentir-se orgulhoso de seu filho querido.


O Nobel tem mais de cem anos Muitos escritores de nosso continente, estou me referindo a América Latina, já ganharam o prêmio. Gabriela Mistral (Chile), Otávio Paz (México), Neruda (Chile), Astúrias (Guatemala), Gabo ( Colômbia). Portugal ganhou uma vez. Mas a língua portuguesa lá de Portugal não é igual a nossa. Embora muitos escritores brasileiros do século passado tenham sofrido influência estilística de Eça de Queiroz. Machado de Assis se tivesse começado a escrever no começo do século, não tivesse morreu em 1908, e a língua portuguesa tivesse expressão internacional positivamente teria ganhado o prêmio Nobel.


Sei que o leitor bisonho está se perguntando. Quem é este cara? Eu nunca ouvi falar dele por estes brasis afora. Nunca o vi mais gordo. Mas como ele diz que ganhou o premio Nobel e o papel agüenta tudo, vamos esperar o que a diz a Imprensa. Eu já sei o que ela vai dizer. Vai me colocar nos cornos da lua. De repente virei celebridade. Mas acho que já estou me repetindo. Mas este é o meu estilo. O estilo do brasileiro: redundância, redundância.


No avião lembrei-me de um autor famoso que foi receber o prêmio completamente embriagado. E na hora de fazer o seu discurso na presença do rei Augusto, Guilherme, Gustavo, George, não se exatamente qual deles vomitou no salão nobre da recepção. Como era um grande poeta e além do mais laureado, a sua ação foi considerada uma excentricidade. Não obstante o constrangimento do seleto público, ali presente.
Agora tenho que fazer o meu discurso diante do rei. Nunca pensei ou sonhei em minha vida que isso fosse acontecer. Um escritor rabo de cabra ser alçado a estas alturas.



Falar em altura o avião está descendo no aeroporto de Estocolmo. Um dos itens do meu discurso, o qual encaixarei no último parágrafo, será uma sentença propondo que ele acabe com este negócio de premio Nobel da literatura, o que duvido muito que ele acate. Caso leve a minha proposta em consideração eu serei o último e o único brasileiro a ganhar o prêmio Nobel da literatura. Uma façanha para ficar nos anais da república das letrss.



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Geraldo Borges, de Estocolmo para o Piauí.

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