quinta-feira, 3 de abril de 2008

PIAUINAUTA II

Edmar Oliveira

Antes de Yuri Gagarin, naquele dia memorável de 1961, dizer que a terra era azul - numa forma poética de explicar que o céu era aqui - eu era quem ficava à noite vendo os satélites cruzarem o espaço. Lembro que, antes do Gagarin, a cachorra Laika foi mandada ao espaço para ver como seria a ação do espaço num animal próximo ao homem. Ali descobri que o cachorro é o melhor amigo, não o homem. Ainda quando morava em Codó, Maranhão, nas noites escuras do interior, ficava olhando o céu, acompanhando os satélites que desfilavam entre as estrelas. Em terra estrangeira já era um “Piauinauta”. Era uma tal de corrida espacial. Os americanos e os russos brigavam lá em cima no espaço e eu assistia aqui de baixo. Os satélites saiam piscando dos lados do rio Itapecuru, passavam por cima lá de casa e iam desaparecer por trás da paróquia de santa Rita e Santa Filomena. Os meninos daquela época não sabiam o que era esquerda e direita. A gente era Ford ou Chevrolet, Botafogo ou Flamengo, Vassoura ou Espada, Americano ou Russo. Eu tinha um tio esquisito, que além de ser internado num hospício algumas vezes, dizia que era comunista. Como eu gostava do meu tio, eu era russo. E quando o pisca-pisca do satélite avermelhava, eu jurava que era o russo.


Tinha dez anos quando o Gargarin foi rodar a terra lá em cima pra dizer que azul era aqui em baixo. O espaço não tinha cor, não tinha nada. Mas além do meu time ganhar a corrida espacial – o Botafogo aqui na terra era imbatível – Gagarin foi por em xeque minha aulas de catecismo. O azul do céu era cá embaixo. Mesmo quando os americanos, que nem o Flamengo depois, conquistaram a lua, pisando nela, o que me interessava era a fotografia da terra azul, no espaço escuro, feita a partir da lua. Coisas de Botafoguense.

Acho que daí vem essa minha mania de olhar pro céu pra ver se entendo alguma coisa aqui embaixo. E neste espaço virtual me coloco como um “Piauinauta”. Daqui deste espaço tento entender o que se passa na terra neste século XXI. Posso só tá olhando os satélites nas noites escuras de Codó, mas é com a mesma vontade que tento entender o passar dos acontecimentos...

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