Paulo José Cunha
Passam-se os anos, as décadas, e esta cidade mais e mais se esconde em seu segredo, mais e mais se oferta em desafio. Passarão os séculos, os milênios, legiões de nuvens desfilarão pelo céu, o tempo deixará suas marcas nos painéis de Athos, sobre as curvas de Niemeyer, e nem assim o enigma se decifrará.
Eternamente intraduzível, suas ruínas se erguerão um dia, ao sol do Planalto, desafiando os visitantes. Que deuses eram cultuados nesses altares a céu aberto? Que força conduziu a mão do gênio para traçar as linhas desses horizontes infinitos? O que significam esses campos largos onde naves espaciais pousarão em busca de antigas civilizações?
Os anos passam, e o enigma cada vez mais cresce e desafia. Quase meio século depois de ofertada ao mundo, tal como os primeiros candangos continuamos, espantados, a devorar os olhos da esfinge, em busca de uma resposta. Quanto mais os devoramos, mais se agiganta o enigma.
Resta-nos então admirar (sem tentar entender muito) as retas e curvas dessa esfinge do cerrado, feita de céu e de gramado; de suor e riso; de concreto e aço e gênio e ousadia.
Brasília:
Quanto mais a devoramos, menos
Deciframos esta bela imagem do cerrad0.
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Paulo José nos explica a inspiração:
Amigo(a)s,
Como sabem, a "Crônica da Cidade", da TV Globo, já acabou faz algum tempo. Mas o meu carinho por Brasília, a "cidade que eu plantei pra mim" (como diria Torquato Neto), este não termina nunca.
Para ela, aí vai um presentinho de aniversário. Dia 21 ela completa 48 anos. E continua maravilhosamente indecifrável. Com disse André Maulraux, quando a conheceu, na época ainda pouco habitada: "Se não der certo e for abandonada, que belas ruínas produzirá!".
Se entendesse um pouco de computadores, mais do que simplesmente enviar e receber e-mails, ilustraria com fotos e uma música bonita, suave. Não entendo dessas coisas. Portanto, peço que apenas leiam o texto devagarzinho, e imaginem ou lembrem grandes paisagens da Esplanada desenhada por Lúcio Costa, detalhes da Catedral, os gramados sem fim, os palácios imponentes e horizontais, ornados com as curvas de Niemeyer, os horizontes profundos e o por-de-sol indescritível. Ah. E assoviem uma valsa, talvez o "Danúbio Azul", aquela de "2001 - Uma Odisséia no Espaço", que tocava quando a nave viajava pelo espaço.
Abraços.
PJ
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