(Edmar Oliveira)
Foi uma decisão muito difícil, mas consegui superar mais um
vício e sua dependência. Desde moleque, ainda na Teresina, roubava dinheiro da
loja do meu pai para comprar jornal. Corria à tardinha na banca do Joel na
Pedro II para comprar o Correio da Manhã que saía do Rio de manhã, mas só
chegava à tardinha, vindo naqueles voos pinga-pinga da Real Aerovias Nacional.
Nos famosos DC-3, aquele modelo que ficou exposto por muito tempo no Parque do
Flamengo e não sei pra onde foi.
Lembro de um tempo em que passei a ler a Última Hora do Samuel Wainer, mas voltei ao Correio.
E depois disso passei ao Jornal do Brasil, que me acompanhou até a sua morte.
Assinei a Folha de São Paulo por um período, sem deixar o meu Jornal do Brasil.
Quando ele acabou, foi um “Deus nos acuda”! Não conseguia
ler O Globo, com aquelas síntese de notícias na segunda página. Vício é vício e
o prazer se faz por etapas. Nunca quis já saber de todas as notícias ao mesmo
tempo sem degusta-las vagarosa e prazerosamente. Mas o quê fazer? O meu jornal
tinha acabado. Mudei de produto.
A princípio estranhei um pouco, mas com o tempo acabei me
acostumando. Não sabia ir ao banheiro sem meu jornal.
Há um bom tempo os jornais foram para a internet. Não fez
minha cabeça. Sempre gostei do cheiro da tinta, das mãos sujas das notícias,
das dobras no papel que não se consegue no computador.
Mas ao passar do tempo, lentamente as notícias foram ficando
só de um lado. Não havia mais o contraditório. E quando acabou a ilusão da
governabilidade de coalizão, os jornais passaram a falar do ponto de vista das
grandes corporações apenas (já falavam antes, mas a "política" disfarçava). Por certo, eles sempre as defenderam. Mas tinha o
contraditório nos colunistas, que foram sendo mandado embora para que o
pensamento único fosse escandalosamente dominante na nossa mídia. O governo não
teve peito para fazer uma regulamentação, que minimizasse esse efeito. E a
linguagem dos jornais é a voz da direita que quer o poder de qualquer forma.
Como se dissesse “chega dessa raça” nas palavras de um Bornhausen.
Tentei parar algumas vezes, mas tinha recaídas. Foi preciso
um tratamento de choque. Hoje estou liberto. Limpo há mais de um ano.
Satisfeito como se fica ao vencer uma dependência.
Não preciso mais ser torturado diariamente como no desenho
do Latuff...
Um comentário:
Meu Prezado Edmar:
JORNAIS e REVISTAS.
A imprensa brasileira vem muito mal há longo tempo. Penso que desde a Revolução de 1964. As informações sempre distorcidas e tendenciosas, para atender a interesses internacionais do capitalismo externo e a políticos internos, descompromissados com as causas Nacionais.
As revistas e jornais sempre circularam com grande aparato publicitário predominante quantitativamente sobre as matérias propriamente ditas.
A Revista Veja, por exemplo, que fui assinante por algum tempo, passou a apresentar matérias duvidosas, incompletas ou incoerentes com a realidade política que se vivia, desde os anos oitenta.
O Jornal do Brasil que nos alimentava de esperança, com um relativo grau de credibilidade nos os seus editoriais e com os seus colunistas, fechou por razões não bem explicadas pelos proprietários, deixando órfãos os seus habituais leitores, de um jornalismo isento, ético e confiável. A Coluna Castelo, por exemplo, do jornalista Carlos Castelo Branco, era esperada e lida por todo universo de interessados por um jornalismo verdadeiro e contundente.
Agora, diariamente verificamos, na nossa imprensa escrita, um verdadeiro jogo de xadrez com esgrima, enigmático, para consubstanciar uma espécie de faz de conta com as notícias diárias. As verdades e mentiras se misturam de um jeito que o bom é ruim e que o ruim é bom.
Os modernos jornais virtuais também apresentam o mesmo desserviço, misturando os fatos verdadeiros do cotidiano com as falcatruas e interesses excursos de sempre.
Para alguém saber a verdade verdadeira é necessário um exercício diário e permanente de busca, checagem e avaliação das informações lançadas nesse labirinto de estereótipos e ficções implantados pelos jornais e revistas.
Chico Salles, 01/03/2016.
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