domingo, 7 de fevereiro de 2016

OS SERTÕES E O CLIMA



(Edmar Oliveira)

O Capítulo V de “Os Sertões”, parte em que ainda trata da TERRA, já no primeiro subtítulo, Euclides da Cunha chama atenção para “uma categoria geográfica que Hegel não citou”. Está falando dos sertões nordestinos e de sua ocupação.

Tirante as ilhas e os habitantes do litoral, que fixam o homem pelo que o mar pode lhe fornecer, o pensador alemão dividiu o interior do continente como Vales Férteis, que prendem o homem à terra de onde tiram o sustento; e as Terras Inférteis (desertos, terras inundáveis, savanas com secas prolongadas), que produzem os nômades viajantes que não retornam – procurando sempre a terra prometida.

Do que o alemão não falou, Euclides faz uma análise minuciosa da terra sertaneja: nos períodos de seca aproxima-se aos desertos para expulsar o sertanejo. Nos períodos chuvosos é um vale fértil que traz o nordestino de volta. Os sertões, nas palavras do mestre escriba brasileiro, são “Barbaramente estéreis. Maravilhosamente exuberante”. Muda a paisagem na seca e na cheia. O nordestino é um retirante que volta.

Sempre fiquei impressionado com essa passagem de os Sertões, só descoberta depois de grande, pois na escola meus professores “recomendavam” saltar a TERRA para irmos direto à ação do HOMEM – antes de tudo um forte.

Estou falando dessa Terra, planeta que agoniza na mão do homem, mas ao mesmo tempo mostra uma força de recuperação enorme. Estávamos a assistir uma seca abissal, consequente a fenômenos de efeito estufa, aumento da temperatura, degelo nas calotas polares, aumento dos oceanos. Tentaram me explicar o El Niño, que, confesso, nunca entendi direito. Quando o planeta reage vigorosamente.

Este foi um inverno de grandes nevascas no hemisfério norte e uma estação das chuvas maravilhosa no hemisfério sul. Pra nós do nordeste a estação das chuvas é inverno – que o clima não muda mesmo. Mas assistimos, de forma gratificante pra mim, um verão no Rio melhor que o inverno passado. No meu nordeste, o Rio São Francisco renasceu exuberante, o Benjamin Guimarães apitou singrando as águas de Pirapora – como há muito tempo não fazia; os rios secos do Ceará correram seus leitos há muito esquecidos; Teresina ficou muito tempo “bonita pra chover”, Caicó lavou a alma do sertão de sol inclemente. E o verde renasceu daquele cinza desbotado da caatinga.

Eu, cá com meus botões, imagino que os cientistas – explicadores da meteorologia – foram apanhados com as calças na mão. Nada disso estava nas suas previsões.

O velho Euclides da Cunha, lá no capítulo que citei acima, reforça nos seus sérios estudos sobre a terra dos sertões a magia da crença dos sertanejos. Para estes, se chover, como choveu agora, entre o 12 de dezembro e o 19 de março teremos um inverno dos bons. Os cientistas podem aproximar essas datas do solstício de verão e equinócio de outono. Euclides reforça esse período como a certeza que se estabeleceu no sertão e que não falhou nos levantamentos historiográficos que fez de anos anteriores aos períodos de seca e de cheia. Mas não diz que o sertanejo se baseia é na fé entre o dia de Nossa Senhora e o dia de São José.


E eu, não sei por que, tô com vontade de voltar!  









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