domingo, 29 de novembro de 2015

As lembranças de uma foto

(Geraldo Borges)


               Olhar fotografias, principalmente em preto e branco, nos transporta a  outras épocas. Foi o que aconteceu comigo ao receber uma foto do filho do livreiro Nobre Aguiar. Os componentes da foto são velhos freqüentadores da livraria de seu pai. Nesse tempo ele ainda era menino.

Ao estudar a foto comecei a sentir o movimento de seus personagens e aos pouco fui identificando alguns, embora a pátina do tempo já houvesse corroído a face de muitos deles.

 Aos sábados íamos assinar o ponto na Livraria, o nosso clube, a nossa academia. Aos pouco iam chegando os seus membros. Conversava-se, tomava-se café e fumava-se. Nem todos eram tabagistas. Mas ninguém fazia cara feia para os fumantes. Até mesmo porque o dono da livraria  era quem fumava mais.

A primeira pessoa que eu distingo no claro escuro da foto sou eu. Só podia era ser. Estou sentado, jovem, distante do momento presente, nas fronteiras de outro século; ao meu lado, também sentado encontra-se o escritor de  Rio Subterrâneo. OG Rego de Carvalho, já falecido, era imortal.

 Atrás de nós dois em pé como se fosse uma cerrada floresta humana, começo a distinguir algumas personagens, entre elas me chama atenção o poeta, sonetista. Eulino Martins, que, na mocidade, esteve na  FEB, e  correu o risco de morreu na Itália.  Como  medalha ganhou um emprego publico. Morava no mesmo quarteirão do professor Pantaleão, mestre em matemática, na Rua Benjamim  Constant,  descendo para a Praça do Liceu.Também já faleceu, e sua casa já foi derrubada.

Agora vejo o Pedro Celestino, meio escondido,  com um sorriso enfastiado, no meio de outras que não consigo identificar. Pedro Celestino era um velho amigo, autor do livro de contos – Sinais de Seca. Morou muito tempo na Avenida Campos Sales. Depois se mudou para o Mafuá. Também já faleceu. A fotografia parece mais um mausoléu.

Talvez  o professor Didácio estivesse ali, no meio dos que eu não estava  conseguindo reconhecer. Se a foto pudesse falar, eu o teria reconhecido pela voz, a voz alta de professor de cursinho. Também já faleceu. Pompílio Santos também era freguês do clube. Talvez estivesse ali meio escondido no meio da floresta de cabeças. No meio dessa procura dei com os olhos  nas feições de Cineas Santos. Está vivo. E muito fotografado atualmente.

Procurei o doutor Clidenor na foto, pois ele também gostava de frequentar a livraria; seria fácil encontra-lo, pelo seu bigode e sua elegância. Não o encontrei. Mas lembro-me bem de sua presença na Livraria. Gostava de falar sobre a cultura grega, sobre a Paidea, e sobre as propriedades terapêuticas de confrei (Sympthytum officinale).


Continuei tentando identificar mais alguns companheiros. Eis que me entra pelos olhos a figura do poeta Chico Miguel. Também está vivo e é imortal. Alguém ali me pareceu ser o Herculano de Morais. Talvez. Não tenho certeza. Ele também é imortal. A foto e muito antiga. Preto e branca, opaca, embaçada. E a sua luz vai cada vez ficando mais fraca, como se fosse as nossas vidas que estivessem se apagando.


O Piauinauta, tomando uma dobra no tempo, voltou à Livraria do Nobre, ponto do pessoal que gostava de trocar palavra na Teresina de então. Em pé: o proprietário Nobre com a mão na cabeça e Cinéas Santos (a moça, entre os dois, não sei quem é). Sentados: O. G. Rego de Carvalho, Herculano de Moraes e o professor Didácio. Esta foto está muito próxima da que o Geraldo fala em seu artigo. Nesta ele não está presente. Esta foto o Piauinauta publicou na sua edição de 21 de agosto de 2008.

Um comentário:

Unknown disse...

Meu irmão, cada vez que publicam esta foto deletam alguém.Desta feita, saíram dois: Lucimar Uchoa e um velho professor de matemática cujo nome não me ocorre agora. A "moça" é o Paulo,um garoto que trabalhava na Dilertec