(Geraldo Borges)
Olhar
fotografias, principalmente em preto e branco, nos transporta a outras épocas. Foi o que aconteceu comigo ao
receber uma foto do filho do livreiro Nobre Aguiar. Os componentes da foto são
velhos freqüentadores da livraria de seu pai. Nesse tempo ele ainda era menino.
Ao estudar a foto comecei a
sentir o movimento de seus personagens e aos pouco fui identificando alguns,
embora a pátina do tempo já houvesse corroído a face de muitos deles.
Aos sábados íamos assinar o ponto na Livraria,
o nosso clube, a nossa academia. Aos pouco iam chegando os seus membros.
Conversava-se, tomava-se café e fumava-se. Nem todos eram tabagistas. Mas
ninguém fazia cara feia para os fumantes. Até mesmo porque o dono da
livraria era quem fumava mais.
A primeira pessoa que eu distingo
no claro escuro da foto sou eu. Só podia era ser. Estou sentado, jovem,
distante do momento presente, nas fronteiras de outro século; ao meu lado, também
sentado encontra-se o escritor de Rio
Subterrâneo. OG Rego de Carvalho, já falecido, era imortal.
Atrás de nós dois em pé como se fosse uma
cerrada floresta humana, começo a distinguir algumas personagens, entre elas me
chama atenção o poeta, sonetista. Eulino Martins, que, na mocidade, esteve
na FEB, e correu o risco de morreu na Itália. Como medalha ganhou um emprego publico. Morava no
mesmo quarteirão do professor Pantaleão, mestre em matemática, na Rua
Benjamim Constant, descendo para a Praça do Liceu.Também já faleceu,
e sua casa já foi derrubada.
Agora vejo o Pedro Celestino,
meio escondido, com um sorriso
enfastiado, no meio de outras que não consigo identificar. Pedro Celestino era
um velho amigo, autor do livro de contos – Sinais de Seca. Morou muito tempo na
Avenida Campos Sales. Depois se mudou para o Mafuá. Também já faleceu. A
fotografia parece mais um mausoléu.
Talvez o professor Didácio estivesse ali, no meio
dos que eu não estava conseguindo
reconhecer. Se a foto pudesse falar, eu o teria reconhecido pela voz, a voz alta
de professor de cursinho. Também já faleceu. Pompílio Santos também era freguês
do clube. Talvez estivesse ali meio escondido no meio da floresta de cabeças. No
meio dessa procura dei com os olhos nas
feições de Cineas Santos. Está vivo. E muito fotografado atualmente.
Procurei o doutor Clidenor na
foto, pois ele também gostava de frequentar a livraria; seria fácil encontra-lo,
pelo seu bigode e sua elegância. Não o encontrei. Mas lembro-me bem de sua
presença na Livraria. Gostava de falar sobre a cultura grega, sobre a Paidea, e
sobre as propriedades terapêuticas de confrei (Sympthytum officinale).
Continuei tentando identificar
mais alguns companheiros. Eis que me entra pelos olhos a figura do poeta Chico
Miguel. Também está vivo e é imortal. Alguém ali me pareceu ser o Herculano de
Morais. Talvez. Não tenho certeza. Ele também é imortal. A foto e muito antiga.
Preto e branca, opaca, embaçada. E a sua luz vai cada vez ficando mais fraca,
como se fosse as nossas vidas que estivessem se apagando.
Um comentário:
Meu irmão, cada vez que publicam esta foto deletam alguém.Desta feita, saíram dois: Lucimar Uchoa e um velho professor de matemática cujo nome não me ocorre agora. A "moça" é o Paulo,um garoto que trabalhava na Dilertec
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