O México é o país de mais católicos, proporcionalmente.
Nossa Senhora de Guadalupe a santa de devoção nacional. Aqui parece que o
colonizador venceu. Mas só parece.
Em 1531 o índio Juan Diego ia para sua aula de catecismo, no
esforço doutrinador do colonizador. No meio do caminho ouviu uma voz que lhe
chamava e Nossa Senhora lhe apareceu dizendo que Juanito era o melhor dos seus
filhos e que fosse ao bispo pedir que erguesse uma igreja para ela naquela
colina da aparição. O bispo não acreditou e pediu um sinal dos céus que
provasse a aparição.
Juanito deixou o bispo e foi se queixar à santa. Esta lhe
deu um manto com rosas de Castela (Espanha) que não existia no México. Juanito
pegou o manto com as rosas e foi levar a prova ao bispo. Quando despejou as
rosas – que já seriam o sinal exigido – o manto mostrava a imagem da santa que
hoje está na catedral de Nossa Senhora de Guadalupe.
A imagem tem sinais de sincretismo com os antepassados
astecas como se pode perceber:
1.
O cabelo partido da santa é um sinal asteca de
que a moça é virgem. Porém o cinto preto de pano com um nó à frente era usado
pelas mulheres astecas que estavam grávidas. Portanto a gravidez da Virgem
Maria é asteca.
2.
A virgem pisa no meio da lua. A palavra México
na língua asteca significa “no meio da lua”.
3.
A flor de quatro pétalas no manto é a
representação do deus máximo na cultura nauhati e significa a plenitude, o
centro do espaço e do tempo.
4.
As asas do anjo, aos pés da imagem, são de águia
– pássaro com significado mágico na cultura asteca.
5.
A Virgem está rodeada de raios do Sol – a suprema
divindade da cultura asteca.
6.
As estrelas do manto mostram o solstício de
inverno – tempo da aparição e de extrema importância no calendário asteca.
O colonizador pode achar que estes são signos astecas
submetidos à fé cristã. Aqui com meus botões acho que Diego resistiu
culturalmente e a maior santa católica carrega a religiosidade do seu povo e a
fé nos seus deuses.
O papa João Paulo canonizou Juan Diego. Os astecas fizeram
um deus na religião do dominador. Isso é ou não é resistência cultural?
PS - Numa visita ao México é prioritária uma ida ao santuário de Guadalupe. A antiga igreja (século XIV), que afunda na aterrada lagoa, onde hoje é a cidade do México, contrasta com a moderna catedral - imponente e grandiosa obra do genial arquiteto Pedro Ramiro Vasquez, construída em 1974.
Guadalupe: a moderna e a antiga |
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