(Edmar Oliveira)
Eu sempre
achei a intolerância religiosa uma das mais abomináveis. Dos monoteístas,
então, é a intolerância exclusiva: se o meu deus é o certo, o teu não é.
Defendi aqui que não se pode matar por um desenho, por mais que discordemos
dele, apesar dos atenuantes dos que enxergavam provocação.
E agora?,
porque mataram em Paris? Por blasfêmia, comportamento impuro? Ou porque os
ocidentais fazem um terrorismo sistemático com bombardeios na Síria? Aqui o “olho
por olho” toca mais em mim quando esse olho pode ser o meu. Quando me podem
metralhar em um café em Paris, apesar de eu não ter nada com a guerra religiosa
deles. Sou ateu.
Ah, esses
deverão ser os maiores cassados pela fúria da intolerância religiosa. Apesar de
uma recente pesquisa, sobre o comportamento de crianças, mostrar – como eu já
suspeitava - que as crianças criadas sem religião são mais tolerantes com o
próximo do que as crianças judias, cristãs ou muçulmanas. A condição de ser
humano não precisa da religião para exercer a solidariedade, apesar de o
Dostoievski encontrar um bom enredo para o seu romance “Crime e Castigo”. O
ensino religioso faz ver em quem não é de sua religião um inimigo. O exercício
da tolerância religiosa, ela mesma, já traz a intolerância aos que não são “eleitos”
ou iguais a nós.
Mas a
ganância humana também é um estado egoísta do ser que o faz terrorista
assassino. Não estou falando do fundamentalismo religioso. Mas o terrorismo do
capitalismo sem limites, que aqui perto de nós, conseguiu matar talvez mais que
a quantidades de vítimas dos atentados em Paris, devastou a flora e a fauna de
novecentos campos de futebol, matou um rio e contaminou o mar, enlameou o
bonito litoral do Espírito Santo, podendo chegar à Bahia.
Uma barragem
de rejeitos da exploração mineral não é fiscalizada, rompe-se e faz uma
devastação no maior crime ambiental dos últimos anos. As populações ribeirinhas
estão ameaçadas pela morte do Rio Doce. Tribos de remanescentes indígenas não
têm mais como viver às margens do rio morto. Populações de grandes cidades
ficaram sem água literalmente, assistindo a morte do rio pela lama tóxica.
Culpa da
ganância humana de donos de mineradoras com a cumplicidade de um Estado que não
fiscaliza. E como um Estado pode exercer uma fiscalização efetiva se os
capitalistas donos de mineradoras controlam os políticos por financiamento de
campanha? Basta seguir o dinheiro investido pela Vale Mineradora a cada
parlamentar, prefeitos, governadores para entender que os que deviam fiscalizar
a mineradora são controlados financeiramente por ela.
Um crime que
ficará impune pelo financiamento privado das campanhas políticas. Se quiserem
uma razão para ser contra, esta é mais que suficiente. O terrorismo do Estado e
do Capital mata mais e silenciosamente e é tão cruel quanto os abomináveis terroristas fundamentalistas
do Estado Islâmico.
Paris por Clémentine Sarlat |
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