desenho: Izânio |
Notícias transmitidas pela própria ministra do agronegócio,
divulgadas recentemente, dão conta de que os chineses querem importar até um
milhão de jumentos, por ano, do Brasil.
Certamente esses empresários dos olhos puxados pela
esperteza dos negócios sabem da desvalorização que os jumentos vêm sofrendo no
sertão. Depois da facilidade de comprar motocicletas, os sertanejos, os
vaqueiros, trocaram o burro de carga, o jumento, e seu cavalo ligeiro pelas
cilindradas motorizadas de maior rapidez na caatinga. Já é comum nas estradas
ver-se animais abandonados. O cavalo ainda serve de montaria. Estão abandonados
os pangarés sem utilidade. O burro de carga e, principalmente, os jumentos são
vistos abandonados por seus antigos donos. Aquele que Luiz Gonzaga cantou como
sendo o “nosso irmão” nas agruras das terras ressecadas do sertão, foi
deserdado pelo irmão mais esperto que gasta muito dinheiro com a conservação do
jumento. Um litro de gasolina, para movimentar a nova paixão motorizada, dá
menos trabalho e custa muito menos que a ração e o tratamento de quem já foi
considerado irmão de infortúnio. O sertanejo de hoje não tem com o jumento
qualquer parceria. A motocicleta é paixão da vez feita no Japão ou na China. Em
troca os chineses querem nossos jumentos desvalorizados.
E pra quê? A carne de burro, jumentos e cavalos pode ser
comercializada na China sem restrições. Portanto, o “nosso irmão” vai pro
matadouro, apesar de ter nas costas uma cruz “onde o menino Jesus fez pipi”,
segundo a prosa de Luiz Gonzaga.
E também o nosso vaqueiro aderiu à motocicleta. De gibão
agora corre motorizado atrás de gado perdido na caatinga. Tem que aboiar mais
alto por causa do barulho da moto. Mas o cavalo, símbolo maior da vaquejada faz
perdendo seu lugar na paisagem e na canção nordestina. Tempos modernos!
(Edmar Oliveira)
Paramentados para uma pega de motos? Só não precisa das esporas. Foto: Luciano Klaus
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