domingo, 29 de novembro de 2015

Tempos modernos e motorizados no sertão

desenho: Izânio

Notícias transmitidas pela própria ministra do agronegócio, divulgadas recentemente, dão conta de que os chineses querem importar até um milhão de jumentos, por ano, do Brasil.

Certamente esses empresários dos olhos puxados pela esperteza dos negócios sabem da desvalorização que os jumentos vêm sofrendo no sertão. Depois da facilidade de comprar motocicletas, os sertanejos, os vaqueiros, trocaram o burro de carga, o jumento, e seu cavalo ligeiro pelas cilindradas motorizadas de maior rapidez na caatinga. Já é comum nas estradas ver-se animais abandonados. O cavalo ainda serve de montaria. Estão abandonados os pangarés sem utilidade. O burro de carga e, principalmente, os jumentos são vistos abandonados por seus antigos donos. Aquele que Luiz Gonzaga cantou como sendo o “nosso irmão” nas agruras das terras ressecadas do sertão, foi deserdado pelo irmão mais esperto que gasta muito dinheiro com a conservação do jumento. Um litro de gasolina, para movimentar a nova paixão motorizada, dá menos trabalho e custa muito menos que a ração e o tratamento de quem já foi considerado irmão de infortúnio. O sertanejo de hoje não tem com o jumento qualquer parceria. A motocicleta é paixão da vez feita no Japão ou na China. Em troca os chineses querem nossos jumentos desvalorizados.

E pra quê? A carne de burro, jumentos e cavalos pode ser comercializada na China sem restrições. Portanto, o “nosso irmão” vai pro matadouro, apesar de ter nas costas uma cruz “onde o menino Jesus fez pipi”, segundo a prosa de Luiz Gonzaga.


E também o nosso vaqueiro aderiu à motocicleta. De gibão agora corre motorizado atrás de gado perdido na caatinga. Tem que aboiar mais alto por causa do barulho da moto. Mas o cavalo, símbolo maior da vaquejada faz perdendo seu lugar na paisagem e na canção nordestina. Tempos modernos!

(Edmar Oliveira) 


Paramentados para uma pega de motos? Só não precisa das esporas. Foto: Luciano Klaus






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