desenho: 1000TON |
Edmar Oliveira
Impressionante
o papel das organizações Goblo para incentivar a cizânia na cidade partida: com
a mesma foto na capa de dois jornais, as manchetes são diferentes. No Globo,
jornal mais lido pela zona sul, “após assaltos, reações violenta em
Copacabana”. No Extra, o outro jornal das organizações dirigido aos suburbanos:
“gangues da zona sul cercam ônibus na saída da praia”.
As imagens
de vídeos divulgados na internet são assustadoras. Grupo de brutamontes,
brancos e exibindo o preparo nas academias, entram em um ônibus, tiram um
pequeno e esmirrado preto e o entrega para a fúria da malta que agride o menino
violentamente. Ele consegue escapar e outros o golpeiam no meio da rua,
acompanhado de gritos histéricos de “mete a porrada”. O autor das filmagens
grita “hurru!”, torcendo pelos agressores covardes.
Noutro
vídeo, um ônibus superlotado é cercado e os agressores quebram várias janelas
para agredir aos passageiros, que sacam as janelas de emergência e tentam fugir
pelo outro lado, entre os carros em plena Avenida Nossa Senhora de Copacabana. A
polícia aparece para tentar mandar o ônibus deixar Copacabana e impedir o
massacre, mas, claramente, protege os agressores como cidadãos que tem o
direito da revolta. Afinal a praia foi invadida pelos pretos e pobres, que
fizeram arrastão e assaltaram durante o domingo de sol. Estavam sendo agredidos
os moradores do Jacaré, pouco importando se fossem os assaltantes ou não. Eram
irmãos de cor e de miséria. Ali não era o seu lugar, pareciam dizer as ações
dos policiais.
Coincidentemente,
o Secretário de Segurança reclamava que o Ministério Público tinha impedido a
ação “preventiva” da polícia, que consistia em parar os ônibus do subúrbio e
retirar os que eram suspeitos de serem assaltantes. Ação “preventiva” baseada
na cor e aparência, que bem fez a Defensora Pública Eufrásia das Virgens em decretar
ilegal, porque é. Dona Eufrásia deu uma entrevista com muito medo dos ataques
que tem recebido pelas redes sociais. As mesmas redes que convocaram esses
modernos milicianos para a ação contra os ônibus 474, conhecidos como
4-7-crack, no avanço da criminalização da pobreza.
Na
reportagem do Globo, repórteres fazem várias viagens no ônibus marcado para
testemunhar musica alta, uso de drogas e assaltos pelo caminho: os assaltantes
descem do ônibus, roubam e voltam ao mesmo ônibus. O motorista, morto de medo,
obedece. A conclusão vai dar razão ao Secretário: é necessária a ação
“preventiva”. Mais: a partir de novembro este será um dos ônibus que não mais
entrarão na zona sul. Fim de linha na Cadelária.
Que tal se
os policiais encarregados da ação “preventiva” tivessem uma ação efetiva
viajando nos coletivos para impedir os atos ilegais? Não precisa, parece
argumentar a autoridade, já os conhecemos e deveremos prendê-los antes da ação.
Mas essa nova lei “minority report” não pode ser usada no estado de direito. A
autoridade insiste que só violando o estado de direito pode dar segurança ao
“cidadão de bem”, outra excrescência normativa que condena aos mais pobres a não
ser cidadão.
Na zona sul
o Globo parece dizer que o “cidadão de bem” está apenas se defendendo dos
assaltantes. No subúrbio o Extra diz que tem gang na zona sul agredindo ônibus,
o que parece ser uma ação de agente duplo para incentivar o confronto. Porque o
incentivo a pogroms precipita ações fascistas. As organizações dos Marinhos
estão passando de todos os limites da constituição de uma ordem democrática. A
autoridade parece querer ver o circo pegar fogo para ser chamada a agir fora do
estado de direito.
Dona
Eufrásia vive ameaçada, repetindo o velho mantra que possibilita sair da
barbárie para entrar numa democracia:
“Qualquer pessoa deve ter acesso ao lazer. A praia é o lazer desses
jovens. Arrastão não é só caso de polícia. Tem a ver com falta de acesso à
educação, ao esporte e ao lazer”.
Mas dona
Eufrásia e eu vamos ficar falando sozinhos. Não há espaço na mídia onde essas
opiniões possam sem discutidas. Tá tudo dominado!
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