domingo, 18 de outubro de 2015

CONTRA O GOLPE QUE SE PÕE EM MARCHA

(Edmar Oliveira)

Hannah Arendt por Máximo

Foi impressionante o que aconteceu no enterro do petista José Eduardo Dutra. Apareceram panfletos escritos “petista bom é petista morto” e um grupo de senhoras e senhores portavam cartazes contra Lula (“sua hora vai chegar”) e contra o PT (sintetizado no panfleto apócrifo). Um desrespeito à dor dos familiares e ao cerimonial que se deve prestar aos mortos.

Os denominados “petralhas”, revoltados com a atitude fascista dos senhores “coxinhas”, enxergaram neles o monstro do mal. Inclusive foi descrita uma católica devota (crucifixo no pescoço), senhora próxima da terceira idade, talvez mãe e avó, que segurava o cartaz raivoso de “Lula, sua hora tá chegando”. Certamente o pequeno grupo agressivo apresentava-se em evidente atitude fascista e desrespeitosa com o próximo.

Hannah Arendt veria naquele grupo pessoas banais que carregavam o mal sem nenhuma culpa. Já descaracterizaram os petistas, os bolivarianos (seja lá o que eles entendem por este adjetivo) e os esquerdistas em geral. Os vermelhos foram despojados de todos os atributos humanos para permitir que ódio seja dirigido ao diferente, não a um semelhante. Eles não fazem parte da humanidade, nem são brasileiros e não pertencem à espécie dos patriotas que vestem nas suas passeatas a camisa amarela da seleção brasileira contra a corrupção (não conseguem enxergar a corrupção da CBF na camisa amarela que vestem). E são capazes de atacar os que se vestem de vermelho por serem corruptos, petralhas, bolivarianos, comunistas: “vão pra Cuba” (vaiaram até uma bandeira da Catalunha confundida com a cubana numa passeata). Carregam o ódio nos seus protestos, mas são pessoas banais, nossos vizinhos, a velhinha do cachorrinho, o vovozinho e seus netinhos. São pessoas comuns, que quando botam a camisa amarela se travestem de odientos manifestantes contra os vermelhos. O fascismo estava adormecido dentro deles e foi despertado. Não são monstros, são banais.

Arendt apanhou do outro lado por tentar demonstrar que o fascismo é um mecanismo construído pelas instituições e não pelas pessoas que executam seus atos. As pessoas simplesmente foram excitadas para despejarem seu ódio ao outro (que não considera semelhante) e não houve qualquer mecanismo de contenção institucional deste comportamento.

A mídia construiu esta excitação. Foi ela que amaldiçoou os petralhas, os bolivarianos, os comunistas, a ditadura de Cuba, a ajuda dos governos petistas aos ditadores de Cuba, da Venezuela e da Africa. Foi ela que ajudou a divulgar a corrupção dos petistas e a perdoar a corrupção de não petistas. Quando Eduardo Cunha saiu como corrupto nas páginas de jornal do estrangeiro, a nossa mídia dava uma notinha para não atrapalhar as manchetes das atrocidades cometidas pelo governo. Devia lembrar de um passado recente, onde excitou o fascismo e depois foi censurada por ele. Por outro lado o governo vociferou quanto pode, mas não implementou uma necessária “lei dos meios” que regulamentasse esse desbaratado ódio que a mídia continua a plantar todos os dias. Esquentaram o adormecido ovo da serpente.

Um ministro da Justiça pode ser um pacato cidadão e não reagir quando um grupo de transeuntes grita “petralha”, “ladrão”. O cidadão pode, mas o ministro da Justiça não pode ser insultado. Insulta-se a nação. E não tomar atitude colabora para ajudar a romper o ovo da serpente.

Uma câmara de deputados federais não pode ser dirigida por um presidente que não pode sair do país para não ser preso, com evidência de ter recebido propinas e provas de contas no exterior negadas por ele numa CPI (quebra de decoro absurdo). Mas ele é mantido porque o mal maior é tirar a presidente do poder e ele é um aliado da oposição para o processo de impeachment, que ameaça o tempo todo a estabilidade da nação. Claro que este comportamento institucional excita a direita adormecida. E acordada a serpente da direita o fascismo se manifesta no comportamento dos cidadãos. A oposição devia lembrar recente passado, onde ajudou o fascismo e foi depois esmagada por ele.

Por outro lado o judiciário se apresenta culpando os neo-corruptos como os vilões do momento. Qualquer ato de corrupção que não sejam praticados por governistas são esquecidos e adiados na sua apreciação. Isso ajuda a criar um sentimento de que somos governados por ladrões e é preciso acabar com a “raça” dos petistas. Qualquer semelhança não é mera coincidência. E o judiciário devia lembrar também do passado recente onde foi amordaçado.
Somos todos Bolsonaro por Máximo

Os bolivarianos, os comunistas, os esquerdistas, nós que vamos pra Cuba somos companheiros de infortúnio da “raça” a ser combatida, mesmo que não sejamos iguais e até expressamos ao PT a nossa discordância pela esquerda. Quem não ver diferença entre o azul da bandeira cubana do amarelo da Catalunha, menos verá diferença entre os matizes do vermelho. O fascismo está na rua excitado pela mídia, pelo judiciário, pelo legislativo, pelas omissões do governo.

Arendt veria que erros foram cometidos pelos petistas e apontaria estes erros também na geração das atitudes fascistas. E seria acusada de perdoar as atitudes fascistas dos “coxinhas” e culpar os petistas pela corrupção, que não começou com eles.

Mas temos de aprender com ela que o ódio pode ser provocado por seres banais e não por monstros. E nos desarmarmos de uma política do ódio para combatermos o fascismo provocado pelas instituições com todas as nossas forças e ações políticas e não dar também ódio por troco. O PT precisa fazer uma autocrítica dos seus enormes erros. Os esquerdistas devem se juntar numa frente para enfrentarem as instituições de direita. Contra o golpe que se põe em marcha!

  

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