(Edmar Oliveira)
Hannah Arendt por Máximo |
Foi impressionante o que aconteceu no enterro do petista
José Eduardo Dutra. Apareceram panfletos escritos “petista bom é petista morto”
e um grupo de senhoras e senhores portavam cartazes contra Lula (“sua hora vai
chegar”) e contra o PT (sintetizado no panfleto apócrifo). Um desrespeito à dor
dos familiares e ao cerimonial que se deve prestar aos mortos.
Os denominados “petralhas”, revoltados com a atitude
fascista dos senhores “coxinhas”, enxergaram neles o monstro do mal. Inclusive
foi descrita uma católica devota (crucifixo no pescoço), senhora próxima da
terceira idade, talvez mãe e avó, que segurava o cartaz raivoso de “Lula, sua
hora tá chegando”. Certamente o pequeno grupo agressivo apresentava-se em
evidente atitude fascista e desrespeitosa com o próximo.
Hannah Arendt veria naquele grupo pessoas banais que
carregavam o mal sem nenhuma culpa. Já descaracterizaram os petistas, os
bolivarianos (seja lá o que eles entendem por este adjetivo) e os esquerdistas
em geral. Os vermelhos foram despojados de todos os atributos humanos para
permitir que ódio seja dirigido ao diferente, não a um semelhante. Eles não
fazem parte da humanidade, nem são brasileiros e não pertencem à espécie dos
patriotas que vestem nas suas passeatas a camisa amarela da seleção brasileira
contra a corrupção (não conseguem enxergar a corrupção da CBF na camisa amarela
que vestem). E são capazes de atacar os que se vestem de vermelho por serem
corruptos, petralhas, bolivarianos, comunistas: “vão pra Cuba” (vaiaram até uma
bandeira da Catalunha confundida com a cubana numa passeata). Carregam o ódio
nos seus protestos, mas são pessoas banais, nossos vizinhos, a velhinha do
cachorrinho, o vovozinho e seus netinhos. São pessoas comuns, que quando botam
a camisa amarela se travestem de odientos manifestantes contra os vermelhos. O
fascismo estava adormecido dentro deles e foi despertado. Não são monstros, são
banais.
Arendt apanhou do outro lado por tentar demonstrar que o
fascismo é um mecanismo construído pelas instituições e não pelas pessoas que
executam seus atos. As pessoas simplesmente foram excitadas para despejarem seu
ódio ao outro (que não considera semelhante) e não houve qualquer mecanismo de
contenção institucional deste comportamento.
A mídia construiu esta excitação. Foi ela que amaldiçoou os
petralhas, os bolivarianos, os comunistas, a ditadura de Cuba, a ajuda dos
governos petistas aos ditadores de Cuba, da Venezuela e da Africa. Foi ela que
ajudou a divulgar a corrupção dos petistas e a perdoar a corrupção de não petistas.
Quando Eduardo Cunha saiu como corrupto nas páginas de jornal do estrangeiro, a
nossa mídia dava uma notinha para não atrapalhar as manchetes das atrocidades
cometidas pelo governo. Devia lembrar de um passado recente, onde excitou o
fascismo e depois foi censurada por ele. Por outro lado o governo vociferou
quanto pode, mas não implementou uma necessária “lei dos meios” que
regulamentasse esse desbaratado ódio que a mídia continua a plantar todos os
dias. Esquentaram o adormecido ovo da serpente.
Um ministro da Justiça pode ser um pacato cidadão e não
reagir quando um grupo de transeuntes grita “petralha”, “ladrão”. O cidadão
pode, mas o ministro da Justiça não pode ser insultado. Insulta-se a nação. E
não tomar atitude colabora para ajudar a romper o ovo da serpente.
Uma câmara de deputados federais não pode ser dirigida por
um presidente que não pode sair do país para não ser preso, com evidência de
ter recebido propinas e provas de contas no exterior negadas por ele numa CPI
(quebra de decoro absurdo). Mas ele é mantido porque o mal maior é tirar a
presidente do poder e ele é um aliado da oposição para o processo de
impeachment, que ameaça o tempo todo a estabilidade da nação. Claro que este
comportamento institucional excita a direita adormecida. E acordada a serpente
da direita o fascismo se manifesta no comportamento dos cidadãos. A oposição
devia lembrar recente passado, onde ajudou o fascismo e foi depois esmagada por
ele.
Por outro lado o judiciário se apresenta culpando os
neo-corruptos como os vilões do momento. Qualquer ato de corrupção que não
sejam praticados por governistas são esquecidos e adiados na sua apreciação.
Isso ajuda a criar um sentimento de que somos governados por ladrões e é
preciso acabar com a “raça” dos petistas. Qualquer semelhança não é mera
coincidência. E o judiciário devia lembrar também do passado recente onde foi
amordaçado.
Os bolivarianos, os comunistas, os esquerdistas, nós que
vamos pra Cuba somos companheiros de infortúnio da “raça” a ser combatida,
mesmo que não sejamos iguais e até expressamos ao PT a nossa discordância pela
esquerda. Quem não ver diferença entre o azul da bandeira cubana do amarelo da
Catalunha, menos verá diferença entre os matizes do vermelho. O fascismo está
na rua excitado pela mídia, pelo judiciário, pelo legislativo, pelas omissões
do governo.
Arendt veria que erros foram cometidos pelos petistas e
apontaria estes erros também na geração das atitudes fascistas. E seria acusada
de perdoar as atitudes fascistas dos “coxinhas” e culpar os petistas pela
corrupção, que não começou com eles.
Mas temos de aprender com ela que o ódio pode ser provocado
por seres banais e não por monstros. E nos desarmarmos de uma política do ódio
para combatermos o fascismo provocado pelas instituições com todas as nossas
forças e ações políticas e não dar também ódio por troco. O PT precisa fazer
uma autocrítica dos seus enormes erros. Os esquerdistas devem se juntar numa
frente para enfrentarem as instituições de direita. Contra o golpe que se põe
em marcha!
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