Cheguei ao mundo em 1941 em plena Primeira Guerra Mundial. Eu
tinha quatro anos, quando a guerra terminou, e, me lembro, como se fosse um
sonho, que o pessoal lá de casa, juntamente, com os meus primos, simpatizante
dos comunistas, comemoraram a vitoria dos Aliados. Soltaram foguetes, pintaram
bandeira e saíram em passeata pelas ruas da cidade. Fiquei sabendo de muitas
outras coisas que não consigo relembrar. E que depois recapturei em conversas com
outras pessoas ou em leituras de livro e jornais.
Com a democratização,
depois da guerra, Dutra vai eleito (
1946 – 1951) Legalizam o partido comunista, que concorre às eleições para a
Constituinte. Uma vizinha, lá de perto de casa, na rua Campos Sales, candidata-se
pelo partido, ganha apenas um voto. A alegria foi rápida. O partido é cassado,
e volta à ilegalidade.
Começada a década de 1950 Getulio volta ao Poder(1951- 1954),
após o seu tempo na querência. Seus inimigos da UDN o empreitam no Palácio do Catete.
Ele não tem para aonde escapar, e, por isso mesmo, dispara um tiro no peito. E deixa uma Carta Testamento. Depois de alguns
suspenses, o governo entra na
interinidade. Até as novas eleições.
Nessa época eu era um
passageiro de apenas treze anos viajando de segunda classe. Não entendia nada
de nada de política, a não ser a domestica, entre meu pai, minha mãe, e meus
irmãos e parentes. Eu apreciava mesmo era o cinema, filmes de caubói e seriados
do Zorro, no cine Rex e no Theatro. A morte de Getulio não me comoveu. Diziam que ele era o pai dos
pobres. Eu não era pobre.
Juscelino entrou na dança das
eleições e foi eleito(1956 -1961 ), e
resolveu construir Brasília, provocando uma grande imigração, principalmente de
nordestinos e funcionários federais da antiga capital do Brasil a custa de
salários astronômicos. Correu muito dinheiro e deve ter havido muita corrupção.
Corriam os anos dourados, era a época
das grande chanchadas, da comicidade de Oscarito.
Apareceu para
substituir Juscelino um cara chamado Jânio Quadro, (1961-1961) com um farto
bigode e casaco à gola Mao, e tendo como símbolo uma vassoura, para limpar
a sujeira do nosso país. Parece que foi a primeira vez que votei. Votei
nele. Seu discurso parecia sincero, mas, por trás, havia muito populismo e
demagogia. Homenageou Che Guevara com
uma medalha, o que deixou os militares, com a mosca na orelha. Proibiu a luta
de galos. Fez bilhetes para ministros dispensando a morosidade burocrática. De
uma hora para a outra renunciou mandando
para o alto milhões de votos que o povo
lhe tinha agraciado. Doidice. Culpou as forças oculta. Foram apenas sete meses
de governo.
Seu vice era de outro partido. João Goulart
(1961 – 1964). Estava na China, no momento da renuncia. Voltou e quase não
assume a presidência. Tiveram que
admitir o sistema parlamentarista para
que ele tomasse posse. Já era o começo do golpe. As Forças Armadas já
estavam de olho em João Gullart. Ele era, de certo modo, herdeiro de Getulio
Vargas, fora seu ministro do trabalho, e amigos dos comunistas, um balaio de
gatos. O tempo fechou. Muitos comícios aglomerando multidões. A luta de classe tomando
vulto. Eu tinha 23 anos de viagem por esse mundo cão quando deu-se o golpe de Estado obrigando
políticos a se refugiarem no
exílio, ou a ficarem amontoados em prisões.
A partir daí começamos a
contar o tempo áspero da história do Brasil. Vinte e um ano de Ditadura.
Os generais brilhavam nas paradas militares. Castello Branco morreu em um
acidente aéreo. Disse que logo mais iria restaurar a democracia. Quimera. As
traças comeram o meu titulo eleitoral. Apareceu Costa e Silva com o rosto
escondido atrás de seus óculos escuros. Depois veio Médice, o AI 5. Geisel,
Figueiredo; esse não entregou o poder ao Sarney, não oficialmente de acordo com
a liturgia do poder. Pois não o esperou para lhe entregar a faixa de
presidente. Saiu pelos fundos do Palácio. Figueiredo queria mesmo era o Tancredo que seria uma rima, mas não foi a solução.
Todo esse parágrafo durou vinte e um anos.
Depois do governo do Sarney ( 1985
- 1990) vieram as eleições diretas. Votei no Lula,
ganhou o Collor, que mão demorou muito tempo, foi impedido de governar (1990-
1992). Itamar tomou a direção do governo, (1992-1994) até chegar as próximas
eleições. Lula entrou no páreo, ganhou
Cardoso. Governou oito anos. ( 1915 – 2003). Finalmente dei uma dentro.
Lula ganhou; O século vinte tinha acabado. O
governo do PT começou mais ou menos. Do meio para o fim meteu os pés pelas mãos, tentando agradar
a gregos e baianos. Esquecendo a sua
origem operaria.
Acho que, como passageiro do século
vinte, extrapolei os meus limites
cronológicos. E começo a ver coisas que
não tenho coragem de dizer aqui. Mas, não é preciso mesmo dizer. A esta altura
da minha viagem todo mundo está sabendo. E bem que me avisaram. Mas, eu não
acreditei.
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