domingo, 18 de outubro de 2015

Apenas um sonho



(Geraldo Borges)

            Tive um sonho, mas não gostaria de contar. Sonho ás vezes é profecia; ainda bem que as profecias nem sempre acontecem. Mas, seguindo a linha do texto, já devo ter aguçado a curiosidade do leitor. Existe sonhos simbólicos  que precisam ser interpretados. O meu foi claro. Mas, de minha parte o considerei um pesadelo. Não vou resumir de uma pancada só o que eu vi dormindo. Sei também que os meus leitores não gostariam de sonhar o que sonhei. O diabo é que o cristão não escolhe os seus sonhos, e quando escolhem, geralmente viram pesadelos.

            Vamos a mais um parágrafo de meu sonho. Ainda não contei por que, se contar logo, a crônica acaba e eu acordo.

O que estava acontecendo? Engenheiros, arquitetos, mestre de obras, operários, restauravam a cidade. Recriavam casarões antigos, sobrados de varanda e janelas persianas, mais ou menos, dentro do perímetro que hoje poderíamos chamar de Cidade Velha, que sai do cais do Parnaíba e chegava até o Alto da Moderação e o Alto da Jurubeba.

De repente eu vi toda a Cidade Velha, de ruas antigas, como qualquer habitante do tempo passado poderia ver a capital com seus monumentos de origem, os quais, garantiam  autenticidade a cidade verde.. No sonho tudo voltava  ao normal, a origem. Os habitantes da cidade estavam contentes. Vinham turistas de toda parte para ver a cidade velha, caminhar nas ruas sem asfalto, ver os acendedores  de lampiões das ruas, curtir a província rediviva.que ante estava submersa. Ver os barcos  a vapor ancorado no cais, visitar os cabarés da Paissandu, sentar a boca da noite em cadeiras nas calçadas, e ficar conversando até soprar a brisa marinha di litoral.A cidade não estava  como no livro de Paulo Tabatinga, completamente deformada e monstruosa... Sitiada.



            Todo sonho termina de repente, como um filme que quebra a fita, e o melhor ou pior acontece. Engenheiros e arquitetos e outras autoridades resolveram  num lance de vaidade adornar a cidade com um monumental Arco do Triunfo.E tomaram a liberdade, ali mesmo, na Praça de Liberdade, de fazerem um projeto, que teria como foco derrubar a Igreja São Benedito, esta foi a parte do sonho que considero um pesadelo. Escutei os notáveis, o alcaide, os  conselheiros municipais, confabulando  tudo. A minha vontade era dizer não. Não. Isto é um sacrilégio. Mas a minha língua estava presa. Eu queria acordar, ficar livre do pesadelo. E como não podia dizer nada fiquei pensando: tudo pode acontecer. Mas, caso aconteça Frei Serafim de Catânia, o missionário católico  vai se revirar dentro do tumulo, e São Benedito vai ficar pálido de espanto. Mesmo assim desculparão a desfaçatez dos notáveis da cidade. E pedirão desculpas aos escravos e flagelados que construíram  com suor e lagrima esse monumento  da cultura  cristã, e que na entrada para a nave já tem o seu  arco triunfal.

            Acredite leitor que o sonho mexeu com a minha cabeça. Ao acordar de manhã cedo, a primeira coisa que fiz foi tomar um banho, beber café, E pegar um ônibus, até a Avenida  Frei Serafim. Fui ver a Igreja. Estava lá, imponente, com seu relógio e suas torres. As pessoas vinham chagando para a missa e entravam na igreja com o entusiasmo de sua fé, e, com certeza, jamais sonharia o sonho que eu sonhei.







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