(Geraldo Borges)
Tive um sonho, mas não gostaria de
contar. Sonho ás vezes é profecia; ainda bem que as profecias nem sempre
acontecem. Mas, seguindo a linha do texto, já devo ter aguçado a curiosidade do
leitor. Existe sonhos simbólicos que
precisam ser interpretados. O meu foi claro. Mas, de minha parte o considerei
um pesadelo. Não vou resumir de uma pancada só o que eu vi dormindo. Sei também
que os meus leitores não gostariam de sonhar o que sonhei. O diabo é que o
cristão não escolhe os seus sonhos, e quando escolhem, geralmente viram
pesadelos.
Vamos a mais um parágrafo de meu
sonho. Ainda não contei por que, se contar logo, a crônica acaba e eu acordo.
O que estava acontecendo? Engenheiros, arquitetos, mestre de
obras, operários, restauravam a cidade. Recriavam casarões antigos, sobrados de
varanda e janelas persianas, mais ou menos, dentro do perímetro que hoje
poderíamos chamar de Cidade Velha, que sai do cais do Parnaíba e chegava até o Alto
da Moderação e o Alto da Jurubeba.
De repente eu vi toda a Cidade Velha, de ruas antigas, como
qualquer habitante do tempo passado poderia ver a capital com seus monumentos
de origem, os quais, garantiam
autenticidade a cidade verde.. No sonho tudo voltava ao normal, a origem. Os habitantes da cidade estavam
contentes. Vinham turistas de toda parte para ver a cidade velha, caminhar nas
ruas sem asfalto, ver os acendedores de
lampiões das ruas, curtir a província rediviva.que ante estava submersa. Ver os
barcos a vapor ancorado no cais, visitar
os cabarés da Paissandu, sentar a boca da noite em cadeiras nas calçadas, e
ficar conversando até soprar a brisa marinha di litoral.A cidade não
estava como no livro de Paulo Tabatinga,
completamente deformada e monstruosa... Sitiada.
Todo sonho termina de repente, como
um filme que quebra a fita, e o melhor ou pior acontece. Engenheiros e arquitetos
e outras autoridades resolveram num
lance de vaidade adornar a cidade com um monumental Arco do Triunfo.E tomaram a
liberdade, ali mesmo, na Praça de Liberdade, de fazerem um projeto, que teria
como foco derrubar a Igreja São Benedito, esta foi a parte do sonho que considero
um pesadelo. Escutei os notáveis, o alcaide, os conselheiros municipais, confabulando tudo. A minha vontade era dizer não. Não. Isto
é um sacrilégio. Mas a minha língua estava presa. Eu queria acordar, ficar
livre do pesadelo. E como não podia dizer nada fiquei pensando: tudo pode
acontecer. Mas, caso aconteça Frei Serafim de Catânia, o missionário
católico vai se revirar dentro do
tumulo, e São Benedito vai ficar pálido de espanto. Mesmo assim desculparão a
desfaçatez dos notáveis da cidade. E pedirão desculpas aos escravos e
flagelados que construíram com suor e lagrima
esse monumento da cultura cristã, e que na entrada para a nave já tem o
seu arco triunfal.
Acredite leitor que o sonho mexeu
com a minha cabeça. Ao acordar de manhã cedo, a primeira coisa que fiz foi
tomar um banho, beber café, E pegar um ônibus, até a Avenida Frei Serafim. Fui ver a Igreja. Estava lá,
imponente, com seu relógio e suas torres. As pessoas vinham chagando para a
missa e entravam na igreja com o entusiasmo de sua fé, e, com certeza, jamais
sonharia o sonho que eu sonhei.
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