(Edmar Oliveira)
Acerca da polêmica do Uber, lembrei um episódio que me
aconteceu. Desembarquei um dia no Santos Dumont e pequei um taxi. Durante a
corrida o motorista tentou me vender CDs de bossa nova e sambas que ele
gravava. Na oportunidade me dizia que as gravações, que vendia a turistas que
chegavam ao Rio, lhe davam um lucro até maior que as corridas. Ele se orgulhava
de apresentar a alma carioca aos turistas que chegavam. E não via nenhum
problema na pirataria que fazia das músicas sem pagar direitos autorais. Deve
ser um dos que protestam agora contra o aplicativo que tenta desregulamentar a
profissão de taxista.
Aqui não quero ser contra nem a favor. Mas a
desregulamentação do Estado é uma ambição predadora do liberalismo em última
instância. As lojas de discos já fecharam, as livrarias estão fechando. O
direito autoral do autor intelectual já acabou nessa desregulamentação
pretendida pela internet. Já as carrocinhas gourmet fecham algumas lanchonetes.
Vi numa reportagem que os americanos já inventaram um jantar particular. O dono
da casa faz um jantar e aceita convites pré-pagos para a ceia com a bebida
escolhida. E você janta com pessoas que nunca viu, na casa de quem também não
conhece. A desregulamentação dos restaurantes virou moda por lá. Lojas de
departamento cada vez mais atendem pela internet em detrimento das filiais
físicas, que correm o risco de fecharem. Não é nenhuma surpresa que a
desregulamentação atinja os serviços de taxis.
Não querendo estar na contramão do progresso, nem também
apoiando os taxistas que prometem quebrar os carros que operam com aplicativo
da Uber, como os operários fizeram com as máquinas no começo da revolução
industrial, tenho minhas preferências, apesar de não serem tão modernas assim.
Não quero jantar na casa de ninguém. Quando saio da minha,
prefiro um bom restaurante. Para bebericar ainda gosto das mesas na calçada,
venda as modas passarem. Não sei ler livro ou jornais em tabletes ou celulares.
Gosto do cheiro do jornal e de passar as páginas de um livro. Já tentei mudar
esses hábitos, sem sucesso. Não gosto de baixar música na internet e ouvir num
pen drive. Gosto da capa do disco, do encarte, de saber quem tá tocando ou quem
fez os arranjos. Ainda uso e-mail, apesar de conhecer o facebook, o watsapp. Na
cidade em que vivo não preciso de qualquer aplicativo para chamar um taxi.
Chego à rua e estendo a mão. Brigam pra me levarem.
E gostaria que as coisas continuassem assim, pelo menos no
pouco tempo que me resta. Ah, e este blog é para protestar contra os blogs.
2 comentários:
Nada substitui um bom restaurante, um bom buteco, um bom livro,uma boa música. Adoro não ser " moderninha". Se o mundo caminha pra isso, fazer o quê?....é a delícia de estar em outra.
Acima: Lelê
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