(Edmar Oliveira)
A prefeitura do Rio resolveu tirar 700 ônibus, que trafegam
pela zona sul do Rio de Janeiro, de circulação. Que na zona sul há uma
quantidade muito grande de ônibus circulando, quem mora aqui já sabia há muito
tempo. Contra a escassez do subúrbio, onde num ponto de ônibus se espera uma
eternidade, é notória a quantidade excessiva de ônibus circulando com um
confortável vazio na privilegiada zona sul. O subsídio do governo, para
compensar prejuízos, colocam os ônibus para rodar. Qualquer aplicativo mostra
que os ônibus que circulam dentro da zona sul não demoram cinco minutos de
intervalo entre eles. Portanto, nesses não se tem quase tempo de espera. Que o
excesso de ônibus atrapalham o fluir do trânsito também já se sabe. Até aqui
embarcou Neves. A princípio concordei com a diminuição dos ônibus.
Mas examinando o plano da prefeitura fica mais claro o
motivo de tirar os 700 ônibus de circulação. Não vão diminuir a frotas dos
ônibus circulares internos que, como supus no início, aumentaria a espera para
dez, quinze minutos razoáveis. Não senhor! Esses continuarão excedendo! O plano
da prefeitura pretende acabar com 70 linhas de ônibus, que ligam o subúrbio a
zona sul, ou passam pela zona sul para ir ao centro da cidade.
Isso mesmo, com a desculpa de melhorar o trânsito e melhorar
a circulação de carros e de bicicletas, o que se esconde é o ISOLAMENTO maior
da zona sul do resto da cidade. Reparem que a proposta coloca os pontos finais
da zona sul na Central do Brasil, no Maracanã, na Rodoviária, por exemplo. Quem
mora no subúrbio terá que fazer baldeação para entrar na maravilhosa orla da
zona sul. Quem sabe não se está pensando em diminuir os arrastões e a
frequência de suburbanos na praia já para o próximo verão e nas olimpíadas? E a
polícia ainda pode montar uma barreira nos pontos de baldeação para fazer uma “triagem”
de “potenciais” criminosos.
Esta é uma nova proposta de “apartheid” do nosso alcaide. No Porto
Maravilha circulará os Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs). Do centro para a
zona sul algumas linhas de ligação. E a Cidade Maravilhosa será resumida no
acontecimento da revitalização do Porto Maravilha somada com sua integração à
zona sul. No Porto o processo de gentrificação já expulsou os antigos moradores
para a revitalização de um centro comercial e de novas moradias (o velho
edifício de “A Noite”, na Praça Mauá será um hotel ou moradias de luxo). Na
zona sul os alugueis e operações de compra e venda subiram tanto, que se torna
proibido para novos ascendentes do subúrbios. Como em Paris, quem está dentro
não sai, quem está fora não entra mais. E o resto da cidade pode ficar no
abandono que ninguém quer ver.
Lembrei da inauguração da Linha Amarela, que liga o subúrbio
à Barra da Tijuca. Tem um caríssimo pedágio, único pedágio urbano do país, para
dificultar a entrada dos suburbanos na Praia da Barra. E na época, uma
socialite (diabo é isso?) reclamou do preço: estava muito barato para impedir a
invasão da praia dela no final de semana.
Enfim, a atual prefeitura capricha no "apartheid" da Cidade
Maravilhosa. Ela fica menor e separada. O resto é Cidade Horrorosa! E como disse o poeta: para o subúrbio até o Cristo Redentor está de costas.
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