(Geraldo Borges)
Eu estava à porta da rua, em minha casa, olhando as poucas pessoas que passavam, esperando que alguma
coisa acontecesse Nesse momento alguém atravessou a rua, e subiu a minha calçada
tropeando nos buracos, e se aproximou de mim. Era uma mulher ordinária, suja,
desgrenhada, usando óculos escuros. Pensei em entrar em casa e fechar a minha porta. Mas,
movido pela curiosidade, fiquei. Ela dirigiu – se a mim dizendo que ia me
contar uma história.
Quem não gosta de ouvir uma história?
Pois não.
Começou dizendo que tinha um namorado. E que no começo tudo
era um mar de rosas. Depois veio a procela. E claro que não usou essas
metáforas . Na linguagem oral.sempre
se é mais direto Chamou o namorado de traidor, bandido. Antes ele era o
mocinho. Dava – lhe abraços e beijos, e
a levava ao cinema e a outros lugares.
Agora lhe dera um murro na cara, bem num olho e a deixara meio cega.
Dito isso, levou a
mão ao rosto,tirou os óculos e em seguida arrancou da cara um olho de vidro, e
me mostrou com a maior naturalidade.
Mais que de repente eu deixei a mulher com o seu olho na mão
falando sozinha, e tranquei a minha
porta atrás de mim.
Com certeza, ela deve a essa hora, está abordando mais
alguém, ao pé de uma porta dessa mesma rua solitária. Talvez contando a mesma
história, ou uma versão diferente.
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