domingo, 23 de agosto de 2015

Deoclécio Dantas

(Geraldo Borges)

Deoclécio  Dantas está morto, não obstante ser imortal. Agora vai entrar para o reino da ficção, ser lembrado com saudade pelos seus pares da Academia, amigos da infância, parentes e familiares.

Aproveito esta crônica para recordar o nosso tempo de menino na Rua Campos Sales  Éramos amigos de infância,.amigos de tomar banho no rio Poti: no Porto do Gregório, no porto do Meduna. Um luxo que os meninos de hoje não se dão ao prazer, amigo de jogar bola, pelada, na rua Palmeirinha, perto da avenida Miguel Rosa, próximo do corte do trem de ferro.Deoclécio Dantas era o dono da bola, no sentido literal, denotativo, e era quem nomeava o time.

Time esse que não existe mais,  está desfalcado. Pois a maioria  dos jogadores, nossos velhos amigos da infância já viraram ficção, memórias póstumas. Por enquanto, restam alguns,  que estão assistindo os seus companheiro saírem de campo. O pior e que esse time não tem reserva; um por um, vamos dizendo adeus à torcida. Uma vez por outra me assusto com a noticia  de um companheiro, que recebeu cartão vermelho.

Foi o que aconteceu  no dia 10 de agosto desse ano com a morte de meu amigo Deoclécio Dantas. De súbito o seu passamento me fez retornar à infância, à velha Rua Campos Sales de uma arquitetura tão diferente de hoje, onde as casas eram apenas de residências, com quintais cheios de arvores frutífera, cadeiras nas calçadas, e aqui e ali, em uma esquina, havia uma quitanda, ou um quiosque, com uma garapeira. E  se ouvia de madrugada o apito do trem. A rua ficava repleta de vozes infantis, meninos  empinando pipas, papagaios .Deoclécio era um pouco mais velho do que o resto da meninada.As vezes chegava dirigindo um  caminhão de seu pai,  e nos levava a passear. Teresina ainda não   estava organizada com  sinais de trânsito; tinha mais burros e carroças do que carro. Lembro – me que o motor do carro de seu pai pegava à manivela, era um velho GMC. A Rua  Campos Sales mudou, nos também mudamos através das estações da vida. Pelos jornais fui acompanhando a biografia do Deoclécio, até a sua entrada para a Academia Piauiense de Letras, na sua luta pela imortalidade. E o resto e silêncio nesse mundo de som e fúria.


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