(Geraldo Borges)
Deoclécio Dantas está morto, não obstante ser imortal.
Agora vai entrar para o reino da ficção, ser lembrado com saudade pelos seus
pares da Academia, amigos da infância, parentes e familiares.
Aproveito esta crônica para
recordar o nosso tempo de menino na Rua Campos Sales Éramos amigos de infância,.amigos de tomar
banho no rio Poti: no Porto do Gregório, no porto do Meduna. Um luxo que os
meninos de hoje não se dão ao prazer, amigo de jogar bola, pelada, na rua
Palmeirinha, perto da avenida Miguel Rosa, próximo do corte do trem de ferro.Deoclécio
Dantas era o dono da bola, no sentido literal, denotativo, e era quem nomeava o
time.
Time esse que não existe mais, está desfalcado. Pois a maioria dos jogadores, nossos velhos amigos da
infância já viraram ficção, memórias póstumas. Por enquanto, restam alguns, que estão assistindo os seus companheiro
saírem de campo. O pior e que esse time não tem reserva; um por um, vamos
dizendo adeus à torcida. Uma vez por outra me assusto com a noticia de um companheiro, que recebeu cartão
vermelho.
Foi o que aconteceu no dia 10 de agosto desse ano com a morte de
meu amigo Deoclécio Dantas. De súbito o seu passamento me fez retornar à infância,
à velha Rua Campos Sales de uma arquitetura tão diferente de hoje, onde as
casas eram apenas de residências, com quintais cheios de arvores frutífera,
cadeiras nas calçadas, e aqui e ali, em uma esquina, havia uma quitanda, ou um
quiosque, com uma garapeira. E se ouvia
de madrugada o apito do trem. A rua ficava repleta de vozes infantis,
meninos empinando pipas,
papagaios .Deoclécio era um pouco mais velho do que o resto da meninada.As vezes
chegava dirigindo um caminhão de seu
pai, e nos levava a passear. Teresina
ainda não estava organizada com sinais de trânsito; tinha mais burros e
carroças do que carro. Lembro – me que o motor do carro de seu pai pegava à
manivela, era um velho GMC. A Rua Campos
Sales mudou, nos também mudamos através das estações da vida. Pelos jornais fui
acompanhando a biografia do Deoclécio, até a sua entrada para a Academia
Piauiense de Letras, na sua luta pela imortalidade. E o resto e silêncio nesse
mundo de som e fúria.
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