(Edmar Oliveira)
Chegamos ao estágio em que o estado representa as corporações,
sua elite que orbita as empresas e nada tem a oferecer ao distinto público, que
quanto mais periférico habita as cidades, mais sofre com os serviços oferecidos.
Tomemos o caso da água em São Paulo, para a localização do
problema, mas vai acontecer no Rio ou em qualquer parte do planeta.
É certo que tivemos uma estiagem grande, prejudicando o
nível dos reservatórios e que a população vem aumentando exponencialmente,
enquanto a água é ofertada na mesma quantidade. Falhou São Pedro, e não tendo
programação alternativa de captação, é certo a seca.
Mas quem vai sofrer com a falta d’água? Não se pode mais
esconder que 70 a 80% do consumo de água são destinados ao agronegócio.
Produzir soja, carne e outras commodities para exportação tem um custo de
lavagem n’água excepcional. Um hectare de soja consome 4,6 milhões de litros de
água, por exemplo. Um quilo de carne “custa” 200 litros de água. A indústria
fica em torno de 20 a 30% do gasto da água. Para o comércio e os habitantes de
uma cidade esse gasto fica em torno de 10%. Portanto não é o banho demorado o
culpado pela falta d’água.
Foi criada uma culpa coletiva para que se economize água na
residência de cada um. A madame do Morumbi vai ter que desativar uns quatro dos
seis banheiros da mansão. A SUV não vai ser lavada toda semana. A piscina não
vai ter água trocada com o costume de sempre. Os jardins não podem ser regados
com mangueira. Um dia ou dois a água pode ser racionada, mas a caixa d’água da
mansão sustenta madame sem que falte água na torneira. Afinal ela tem de
economizar, pois a empresa da família não pode parar e o país está numa
situação de crise “que essa gente do PT criou”.
O Zé Mané da periferia também tá economizando água. Não lava
mais a calçada, não deixa as crianças brincarem com a torneira aberta, baldes e
latas guardam um pouco d’água para um vaso sem descarga. Mas mesmo assim o seu
chuveiro vai parar de pingar, sua torneira da cozinha deu um nó e a louça suja
faz um monte. O calor tá de matar. Se no racionamento do Morumbi a água falta dois dias e
volta nos outros, na periferia pinga num dia, quando pinga.
O Zé não sabe o que é agronegócio, não tem empresa, mas é o
mais sacrificado na falta d’água. Não é de se espantar se uns pneus forem
queimados na rua, que é a única maneira do Zé Mané dizer, pra ser ouvido, que
falta alguma coisa. A guerra por água vai começar. E nunca se sabe por que as
guerras começam...
______________________
desenho do Gervásio
gráfico do Zé Maria do PSTU, que dessa vez tá certo.
Um comentário:
Parabens Edmar Oliveira. O PIAUINAUTA TA D+ !
Postar um comentário