(Geraldo Borges)
Certa vez fiz uma viagem até a Barragem da Boa Esperança, em face de construção, para
fazer uma reportagem. Tomei o ônibus na rodoviária de Teresina. Desci em
Floriano, meio dia, para comer alguma coisa. Entrei em um bar restaurante. Uma
moça que vinha no mesmo ônibus, ao meu lado, desceu comigo. Quando eu me sentei
ela me pediu para me fazer companhia.
- Pois não, eu disse.
A moça era bonita, loura de olhos verdes e sobrancelhas
cerradas, parecendo pente fino, cabelos caindo por cima dos ombros redondos. Quando ria fazia uma covinha
graciosa na face. Eu imaginava que ao reiniciarmos a nossa viagem poderíamos conversar bastante.
E eu lhe ofereceria a minha janela caso ela gostasse de olhar
para fora do ônibus.
Chamei o garçom e pedimos o nosso lanche. Ela pediu a mesma
coisa.
Quando já estávamos comendo ela me perguntou de boca cheia,
a queima roupa, se eu era engenheiro, e estava indo ajudar na construção da barragem. Eu poderia ter
dito, sim. Seu engenheiro. Não custava nada.
Era isso que ela queria que eu
fosse. Andava atrás de um engenheiro. Mas, a minha musa, falou mais alto. E eu
disse
- Eu não sou engenheiro, sou poeta.
Ela que estava mastigando, quando ouviu a palavra poeta,
quase se engasgou, como se algo estivesse atravessado a sua garganta. Pediu
licença para ir ao banheiro e foi embora.
Terminei de comer e paguei a nossa conta. Eu não sei como
ela vai me encarar quando voltarmos para
o nosso assento no ônibus. Mesmo assim vou lhe oferecer a minha janela. Quem sabe
não vislumbrará alguma poesia na paisagem: uma vaca ruminando no pasto com um
passarinho no seu lombo, picando carrapato.
Surpresa. O lugar dela estava vazio. Havia desistido de
sentar ao meu lado. Eu a avistei no
fundo do ônibus. Ri para ela. Não correspondeu o meu riso. A covinha do rosto
tinha desaparecido. Era como se ela não quisesse saber de prosa. Muito menos de
poesia.
Acomodei-me, sozinho, no meu banco e continuei na janela
penando que já havia encontrado um tema para a minha reportagem.
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