domingo, 8 de fevereiro de 2015

De títulos de romances



(Geraldo Borges)

Esta historia de dar titulo a romance é um pouco complicada. Mas se formos  pesquisar os primórdios da nossa literatura, quero dizer, da literatura  ocidental, iremos encontrar a fonte onde podemos beber os ensinamento da titulação. Que é o de titular o romance com o nome de seu herói o personagem principal.

Este modelo vem historicamente da tradição de Miguel Cervantes (1547 – 1616) um dos pilares da formação do romance europeu, com a publicação de Dom Quixote, mais propriamente: O Engenhoso Hidalgo Dom Quixote de La Mancha,  todo grande  romance adotou como bandeira  o nome de seu herói. Podemos oferecer muitos exemplos ao longo da história da literatura de ficção, tanto na Europa como na Rússia que  sofreu grande influencia cultura do Velho Continente, estendendo –se depois para a America do Norte, e posteriormente para o Brasil e America Espanhola.

Seguindo, mais ou menos, uma ordem cronologia, sem muito rigor, poderíamos citar  outro precursor do romance ocidental. Trata-se de Daniel Defoe (1660 – 1731), autor do romance  Robison Crusoe, um romance que vale a pena ser lido e relido, pois reflete a corri da para a colonização do Novo Mundo, é um clássico. Enriqueceu-nos também com o romance Moll Flandres,  historia de uma anti-heroína, contada na primeira pessoa.

Podemos  incluir nessa lista de escritores Henry Fielding (1707 – 1754 ) com a sua grande obra  intitulada Tom Jones, dando relevância ao seu personagem principal.

Não podemos também deixar de  citar um dos grandes mentores de Machado de Assis, com o qual ele  aprendeu a fazer digressões, e retardar a narrativa,, Laurence Stern , (1713 – 1768)  com o seu celebre romance – A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy.

No século  dezenove o romance desenvolveu –se plenamente e participou do banquete da burguesia, mesmo sendo um filho bastardo do capitalismo, e lido de preferência por mulheres .E continuou  expondo na capa os nomes de  seus heróis ou anti – heróis, quase uma biografia. Dando ênfase a individualidade  dos  personagens, a caracterização dos tipos O folhetim era o seu principal meio de expressão.

Charles Dickens (1812 – 1870 ) movimenta a vida literária  da Inglaterra, com seus grandes romances, - David Copperfield, Oliver Twist ; seus romances  são tão realistas  que sensibilizaram a burguesia e a nobreza  da Inglaterra, a ponto de a história de David abandonado pelas ruas de Londres  impressionou de tal maneira os ingleses, que contribuiu para  a instituição  de assistência à infância desvalida da Grã Bretanha .

Vejamos  como os  escritores franceses se comportavam   no exercício de dar titulo aos seus romances. Começamos por um  dos mais ilustres romancista Frances , o genial Honoré de Balzak, (1799 – 1850 ) Quem não  conhece  Eugénie Grandet. Le Pére Goriot, Le  Colonel  Chabert  e muitos outros personagens importantes que dão nome aos títulos de seus romances.

 Segue-se Gustavo Flaubert  ( 1821 – 1880 ) autor  de  Madame Bovary, romance realista que lhe valeu um processo. Perguntado  no tribunal que era Madame Bovary . Disse. Madame Bovary sou eu. Continuando na França. Quem não  conhece o Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas, e a Dama das  Camélias de Alexandre Dumas filho?  E  Jacques, o fatalista de Diderot?

Passemos agora  para a America do Norte  e  citemos Mark Twain (1835- 1910 )  autor de  As Aventuras de Tom Sawyer,  Huckieberry Finn. O tema é muito extenso  e vale  a pena ser pesquisado .
Vamos agora para o Brasil. Começando por Machado de Assis, ( 1839 – 1908). Os seus romances, da segunda fase, quando abandona o romantismo, leva  o  nome do personagem principal: Dom Casmurro,, Quincas Borba  Esaú e Jacó . Memórias Póstumas de Brás Cubas r Memorial de Aires.

Outro ilustre romancista brasileiro, Lima Barreto, (1821 – 1922) seguiu o meso ritmo da tradição, criando personagens inesquecíveis que dão títulos aos seus romances; Vida e Morte de M J Gonzaga de Sá, Clara dos Anjos, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Recordação do Escrivão Isaias  Caminha.


 Bom. Eu acho que a tradição de titular o romance  com o nome do personagem principal ainda não faliu, pois o capitalismo privilegia a disputa pessoal, o sucesso biográfico,  se bem que conhecemos na literatura brasileira  romances cujo o titulo simboliza uma comunidade embora a sombra do personagem principal, como por exemplo o Cortiço de Aluísio de Azevedo. O Ateneu de Raul Pompéia, São Bernardo de Graciliano  Ramos; esse podia  ser chamado  de Paulo Honório. Mas Graciliano sabia o que estava fazendo. Foi além da individualidade do personagem. Deu lhe apenas  permissão para escrever a sua história e reconhecer o seu fracasso.   

       

Nenhum comentário: