(Edmar Oliveira)
A Beija-Flor escancarou a sujeira do dinheiro banhado em
sangue para ganhar o carnaval desse ano. Foi um desfile de exaltação à riqueza
imaginária dos africanos homenageados, financiado por um ditador de um país
onde 95% da população vivem na miséria. Juan Ávila, escritor e dissidente da
Guiné Equatorial, se diz incrédulo com a quantia anunciada, revelando que esse
valor é impronunciável na desvalorizada moeda local.
Mas a Beija-Flor mostrou uma Guiné-Equatorial exuberante,
tirando a nota máxima até no enredo fantasioso. O ditador ficou contente. Seu
filho – e vice-presidente – alugou dois camarotes na Sapucaí por 120 mil, onde
serviu paella de Bacalhau e Champanhe dom Pèrignon para 40 convidados em
ambiente com decoração africana. Antes e depois da folia relaxou em uma das sete
suítes do Copacabana Palace, reservadas para sua comitiva. E viva o carnaval com
a riqueza esbanjada pelo novo rei do Rio, Teodorín Obliang, tão bem executada
pela escola de Nilópolis na avenida, campeã do carnaval deste ano.
O país africano tem a maior renda per-capta do continente
africano – pela produção petrolífera –, mas distribuída apenas entre os cinco
por cento da população que têm negócios ou são parentes do ditador. Nem a
metade da população tem água potável, 20% das crianças morrem antes de completarem
cinco anos, tem o IDH na 144ª posição. A ditadura de Obliang-pai controla a
imprensa, não permite manifestações oposicionistas e mantém sua população sob
controle. Segundo "US Trafficking in Persons Report", o tráfico de
pessoas é um problema e "a Guiné Equatorial é uma fonte e destino
para mulheres e crianças vítimas de trabalho forçado e tráfico de sexo."
Aqui na terra a gente brinca o carnaval e faz de conta que
tudo vai muito bem.
Sinceramente acho que a Beija-Flor prestou um serviço ao
desfile das escolas de samba. Mostrou o quanto o maior espetáculo da terra é
financiado por uma lavagem do dinheiro sujo de sangue. Hipocritamente há uma
associação do dinheiro público com o dinheiro do submundo do crime. Todo mundo
sabe que as escolas de samba do Rio são financiadas por contraventores ligados
ao crime organizado, milicianos e bandidos que costumam frequentar as páginas
policiais. Entretanto no carnaval desfilam na avenida em companhia de políticos
e governantes como se tivessem brincando num bloco de sujos no Carnaval. Alegoria
carnavalesca.
Se a multidão delira na passagem de sua escola, a maioria
dos cariocas se vangloria de ter desfilado num carnaval na Sapucaí, pagando por
sua fantasia a culpa de participar do “maior espetáculo da terra”, minimizando
o congraçamento carnavalesco com o crime organizado.
Todo mundo foi Beija-Flor um dia, apesar de ser Portela,
Salgueiro, Imperatriz...
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desenho: Gervásio
Um comentário:
É isso Edmar.
Realmente é de lascar o cano esse campeonato para a Beija Flor, tirando nota dez inclusive em enredo, que tinha um dos julgadores o Hélio Bicudo.
Dizem por aí, nas esquina da cidade, que o Ditador comprou o enredo com o resultado.
Salvou-se aí a charge do Gervásio.
Chico Salles.
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