(Geraldo Borges)
A Vênus de Milo encontra-se no
Louvre, sem os braços, é claro. E onde estão os braços da Venus de Milo? Vamos
saber. Se bem que se encontrássemos os braços de Venus de Milo, ela deixaria de
ser Venus de Milo, tamanho é o poder
dessa escultura em nossa
imaginação que já não podemos concebê-la com os braços. Mas vamos em frente
atrás dos braços de Venus. Mas como Venus de Milo chegou ao Louvre? Conforme o
romance Os Braços de Venus de John Appleby foi assim.
Foi
descoberta por um camponês, na ilha grega de Melo – ou, em italiano, Milo – daí
o seu nome. Nessa época Grécia estava
sob domínio turco, e os turcos tinham pouco respeito por qualquer aspeto da
cultura helênica (...) sendo assim uma estatua partida encontrada num nicho de uma cidade em ruína nem era
coisa a que pudessem dar importância. Mas o embaixador Francês na Turquia era
um homem mais esclarecido. Comprou a estatua, apesar de partida, e embarcou-a
logo para a França como presente para o seu rei, Luis XVIII. O rei, por sua
vez, doou ao Louvre, onde hoje pode ser vista, e onde decerto permanecerá para
todo o sempre.
Bom.
Voltemos aos braços. Eles foram encontrados na Grécia por uma turma de arqueólogos alemães. Mas, aconteceu
um imprevisto. A Guerra já estava no fim. E os Aliados estavam chegando. Não dava tempo levar o tesouro arqueológico.
Tiveram de esconde-lo na esperança de voltarem a reconquistar o terreno. E
fizeram um mapa. Mas aconteceu outro imprevisto. Pior. Na hora de esconder os
caixotes a tropa alemã, de elite, recusou-se a cavar um buraco na pederneira para botar o tesouro.
O arqueólogo chefe valeu-se de um bando de camponeses andrajosos para esse serviço. E para que não desses com a língua nos dentes, quando os
aliados chegassem, fuzilou a todos. Crime de guerra.
A
guerra acabou. No romance aparece um personagem em busca dos braços de Venus.
De posse de pistas, vai para a Grécia. E
perseguido justamente pelo arqueólogo alemão que matou os camponeses. Pois teme
agora em tempo de paz pela sua reputação. O personagem principal vai para
Atenas com uma identidade falsa. Perseguido, pega uma pancada na cabeça e perde a memória. Mas
não demora muito se recupera e enfrenta os seus inimigos. Os mesmos que já
tinha enfrentado antes de perder a memória. As pistas estão bem guardadas,
dentro de uma brecha de pedra no alto da Acrópole. Lá em cima seus
perseguidores estão de olho nele para abocanhar os papeis. Um é morto por ele.
O outro, o arqueólogo chefe, assassino, acuado, depois de rendido, pede para
que ele mesmo ponha fim a sua vida, para que resgate com dignidade
aquele momento, e, então se atira do alto da Acrópole no abismo.
O
protagonista da história volta ao seu
hotel.E depois vai a Universidade de Atenas conversar com o arqueólogo
Patianos, a quem seu tio o recomendara. O arqueólogo ficou contente e acreditou
na história. Agora iam encontrar os braços de Venus. Então de acordo com o mapa
se dirigiram para o norte da cidade, onde o governo grego com a ajuda dos americanos tinham terminado
de construir a barragem de Maratona.
Antes
de se dirigirem para a barragem Patianos falou.
Há
um ponto que desejo discutir em qualquer
ocasião menos emocionante, um ponto de
filosofia. Como a todos nós, a ética
interessa-me, e pergunto: o indizível sofrimento que os alemães
infligiram a Grécia, a dor, a fome a degradação... irá a posteridade considerar
que as justifica a descoberta por ele feita em Melos, e que nós vamos trazer a
luz do dia? Como grego, que tem sentimento e que não esqueceu, responderei sem
hesitar: não! Mas como cidadão do mundo... Podemos concluir que, mesmo na
bestialidade dos nazistas, o bem pode resultar acidentalmente.
Chegamos ao
sitio onde o mapa indicava o local em que estavam escondidos os braços de
Venus. O que vimos? O que o personagem principal do romance viu. O ruído de sua
garganta começou como riso e acabou como soluço seco de tal maneira que Saxton
saltou para a frente, receando que ele caísse. Onde fora a pederneira, brilhava
a água dum lago artificial, ao fundo do qual se erguia a brancura ofuscante da
barragem.
Para terminar
eu me pergunto: como iríamos nos acostumar com a Venus de Milo com braços; qual
das duas seria mais autêntica, mais verdadeira? Eis aí a questão.
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