domingo, 5 de outubro de 2014

A Porca


(Edmar Oliveira)

As eleições no Piauí tem uma característica que as distinguem das eleições de outros estados. Todos os candidatos temem ser comidos pela Porca. A simples possibilidade de “ser comido pela Porca” deixa qualquer candidato nervoso. Hoje já é líquido e certo entre os piauienses que perder a eleição é a mesma coisa de ser “comido pela Porca”. Mas isso não faz o menor sentido para quem não é piauiense.

Essa magistral charge de Izânio, excelente cartunista local, é entendida de imediato por todos os conterrâneos. A Porca, cantando na chuva, abre o bocão para engolir os candidatos, que são atraídos pelo apetite de derrotar candidatos à cargos eletivos. Se essa figura tem um significado especial entre nós, não tendo nenhum sentido para os de fora, deve ter uma história que a explique.

Ouvi essa história há muito tempo e vou tentar reproduzi-la. Numa cidade do interior, não lembro qual, mas os historiadores piauienses devem saber, havia um candidato a vereador, queridinho de todos e com chances de ser um dos primeiros eleitos em número de votos, mesmo não tendo ainda os institutos de pesquisa que fazem a eleição desnecessária.

Pois bem, contada as urnas, a eleição do rapaz foi decepcionante com um número de votos longe do suficiente para que ele fosse um dos vereadores. Lembremos aqui que não existia a urna eletrônica e a velha urna era de lona recheada com votos de papel. O moço para tentar explicar o fracasso inventou a história de que uma porca tinha comido as urnas, justo as que tinham os seus votos.

Ninguém acreditou, mas a irreverência piauiense, desde aqueles tempos remotos, ressuscita a figura da Porca em todas as eleições. E desde então a porca vem comendo os votos de quem perde a eleição, mesmo que os votos sejam virtuais. A Porca também é cultura! E brinca de pique esconde para procurar os candidatos e comer...


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