domingo, 5 de outubro de 2014

Falta d'água

(Edmar Oliveira)

Li, em desespero, que o sistema Cantareira só aguenta até meados de novembro e daí em diante São Paulo vai racionar a água e entrar em guerra com o Rio de Janeiro para disputar as águas da bacia do Rio Paraíba, que nasce no estado vizinho. A estiagem no sudeste ameaça devolver os nordestinos de volta, passada a ilusão que a água pelo sul maravilha abunda.

Os governantes deixaram a preocupação da falta d’água com São Pedro e o santo esqueceu de ligar as torneiras do céu, nestes anos que vivemos a maior seca do planeta pelas bandas do sul.
Passei, nesses dias, por Resende e as águas do Paraíba já davam sinais de cansaço na sua mansidão, ainda mais recebendo os esgotos daquela cidade para só virem ser tratados, mais tarde, na estação do Guandú, que fornece água para a Cidade Maravilhosa. E as cidades verticais são mais sensíveis à falta d’água. A higiene dos habitantes que moram em caixotes sobrepostos depende da água para que as cidades não apodreçam. Imagine o aumento da poluição de São Paulo e o odor da podridão sanitária que uma crise da água pode fazer a cidade exalar! Aliás, nem tente imaginar. É inimaginável. Morrer por falta de água numa cidade margeada por dois rios podres é de uma ironia sem sentido. Cidades europeias, muito mais antigas, resolveram a despoluição dos seus rios. Nós esperamos eles nos sufocarem.

Pensando assim, salto de imediato para os dois rios da minha cidade verde. Um, já seco e secando a olhos vistos sempre que o visito, ameaça acabar com a fronteira física com o Maranhão e tornar o Mercado Velho mais perto de Timon. O outro recebeu um tapete verde de aguapés que se alimentam do esgoto dos prédios que fizeram na cidade nova. Tive a curiosidade de ver e sentir o cheiro de um grotão existente debaixo da ponte onde termina a Avenida Frei Serafim. Uma tristeza!

Ainda leio que a nascente do Rio São Francisco parou de brotar. Muito grave a crise d’água que não vi ser discutida nos recentes debates eleitorais. Tive oportunidade de ver brotar do chão, borbulhando, a água escassa que se juntando fazia as águas fartas do Rio São Francisco. Imagino aquelas pedras sem sua água borbulhante. Há pouco tempo passei em Pirapora e vi a paisagem desolada da falta d’agua. Até o vapor Bernardo Guimarães que fazia um passeio turístico interrompeu seu movimento para ancorar no porto por falta de navegabilidade. E ainda falam em transposição do rio. Com que água?, perguntaria num plágio de um samba do Noel.

É, mas os cientistas, e suas instigantes pesquisas, descobriram um planeta, fora do sistema solar, rico em vapor d’água. Só que essa fartura fica a 124 mil anos-luz de distância. Até lá temos que nos virar, por aqui, com a água que ainda resta. Esse assunto me deixa com sede!


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