(Edmar Oliveira)
Li, em desespero, que o sistema Cantareira só aguenta até
meados de novembro e daí em diante São Paulo vai racionar a água e entrar em
guerra com o Rio de Janeiro para disputar as águas da bacia do Rio Paraíba, que
nasce no estado vizinho. A estiagem no sudeste ameaça devolver os nordestinos
de volta, passada a ilusão que a água pelo sul maravilha abunda.
Os governantes deixaram a preocupação da falta d’água com
São Pedro e o santo esqueceu de ligar as torneiras do céu, nestes anos que
vivemos a maior seca do planeta pelas bandas do sul.
Passei, nesses dias, por Resende e as águas do Paraíba já
davam sinais de cansaço na sua mansidão, ainda mais recebendo os esgotos
daquela cidade para só virem ser tratados, mais tarde, na estação do Guandú,
que fornece água para a Cidade Maravilhosa. E as cidades verticais são mais sensíveis
à falta d’água. A higiene dos habitantes que moram em caixotes sobrepostos
depende da água para que as cidades não apodreçam. Imagine o aumento da
poluição de São Paulo e o odor da podridão sanitária que uma crise da água pode
fazer a cidade exalar! Aliás, nem tente imaginar. É inimaginável. Morrer por
falta de água numa cidade margeada por dois rios podres é de uma ironia sem
sentido. Cidades europeias, muito mais antigas, resolveram a despoluição dos
seus rios. Nós esperamos eles nos sufocarem.
Pensando assim, salto de imediato para os dois rios da minha
cidade verde. Um, já seco e secando a olhos vistos sempre que o visito, ameaça
acabar com a fronteira física com o Maranhão e tornar o Mercado Velho mais
perto de Timon. O outro recebeu um tapete verde de aguapés que se alimentam do
esgoto dos prédios que fizeram na cidade nova. Tive a curiosidade de ver e
sentir o cheiro de um grotão existente debaixo da ponte onde termina a Avenida
Frei Serafim. Uma tristeza!
Ainda leio que a nascente do Rio São Francisco parou de
brotar. Muito grave a crise d’água que não vi ser discutida nos recentes
debates eleitorais. Tive oportunidade de ver brotar do chão, borbulhando, a
água escassa que se juntando fazia as águas fartas do Rio São Francisco.
Imagino aquelas pedras sem sua água borbulhante. Há pouco tempo passei em
Pirapora e vi a paisagem desolada da falta d’agua. Até o vapor Bernardo
Guimarães que fazia um passeio turístico interrompeu seu movimento para ancorar
no porto por falta de navegabilidade. E ainda falam em transposição do rio. Com
que água?, perguntaria num plágio de um samba do Noel.
É, mas os cientistas, e suas instigantes pesquisas,
descobriram um planeta, fora do sistema solar, rico em vapor d’água. Só que
essa fartura fica a 124 mil anos-luz de distância. Até lá temos que nos virar,
por aqui, com a água que ainda resta. Esse assunto me deixa com sede!
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