domingo, 2 de março de 2014

Õ Jardineira...


(Edmar Oliveira)
Carnaval das antigas
 
O Piauinauta desta quinzena sai no domingo gordo de carnaval e muitos foliões não se darão conta. Meus carnavais ficaram pra trás, pra outros tempos de brincadeiras que já não voltam mais. “No Guarapari / eu vou brincar só / é um grande clube / no coração de Codó”. Essa primeira marchinha me ecoa na lembrança dos carnavais de Codó, no interior do Maranhão. O outro clube da cidade era o do Operário, que, como o próprio nome diz, não era frequentado pelas elites da cidade da macumba. Mas o “terecô”, como nós chamávamos o tambor de criola de lá, corria solto nos terreiros debaixo dos mangueirais. Os “fofões” dominavam o carnaval de rua e eram semelhantes aos Clovis do carnaval do subúrbio do Rio.

Em Teresina lembro do carnaval de rua e suas figuras símbolo: o Bernardo Cruz, a Nicinha que vocês conhecerão mais na crônica da Graça Vilhena nesta edição. Tinha o corso e o famoso “Caminhão das Raparigas” para insultar a elite. No mais era uma exibição “dazelites” desfilando em seus carros para uma plateia que ia à pé. Meu pai tinha um Jeep Willys e a gente desfilava no corso atrás de automóveis importados, aero willys, simca chambord, vemaguetes. Em pleno Zé Pereira que morreu de caganeira. Na folia dita da rua tinha as escolas de samba: “escravo quer mostrar o seu valor / que preto pode ser doutor” cantou uma delas que ainda ecoa na minha memória. Na Baixa da Égua tinha o Sambão. E o Bloco Aprontação do Pierre Baiano agitava no Beco do Prazer. Depois teve a Banda Bandida que ainda hoje sobrevive. Mas o tempo foi esmagando o carnaval de Teresina, com todo mundo indo brincar a folia nas praias do litoral. Morreram os bailes do Clube dos Diários, das Classes Produtoras, do Piauí Esporte Club. E a cidade mingua no carnaval.

O maior do mundo...
Agora, me dizem, o corso foi reativado em alguns anos e a moçada tem orgulho de ter entrado para o livro de Recordes como o “maior corso do mundo”. Tem um caminhão das raparigas fake e quando a Bety Cuscuz quis botar suas raparigas de verdade pra desfilar teve o maior quiproquó. Não tive ainda oportunidade de ver esse Zé Pereira, mas acho que ele continua se cagando todo. Com a quantidade de carrões que tem agora a Teresina que mora do outro lado do Poty acho que as elites desfilam os novos modelos orgulhosos de hilux com as raparigas de luxo. Depois o corso toma o caminho de Altos com o PIB teresinense indo “se banhar” nas praias de Luís Correia. E o carnaval fica na melancolia do Sanatório Geral da cidade que perdeu o Meduna. O maior corso do mundo foi pra praia deixando a cidade triste e o sob o sol do equador sua filha chora.

O Rio é tomado de um frenesi nesse verão mais quente que Teresina. Vou pras montanhas de Minas que são quem me acalmam dessa efervescência momesca. Fui!   

 

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