(Edmar Oliveira)
Carnaval das antigas |
O Piauinauta desta quinzena sai no domingo gordo de carnaval
e muitos foliões não se darão conta. Meus carnavais ficaram pra trás, pra
outros tempos de brincadeiras que já não voltam mais. “No Guarapari / eu vou
brincar só / é um grande clube / no coração de Codó”. Essa primeira marchinha
me ecoa na lembrança dos carnavais de Codó, no interior do Maranhão. O outro
clube da cidade era o do Operário, que, como o próprio nome diz, não era
frequentado pelas elites da cidade da macumba. Mas o “terecô”, como nós chamávamos
o tambor de criola de lá, corria solto nos terreiros debaixo dos mangueirais.
Os “fofões” dominavam o carnaval de rua e eram semelhantes aos Clovis do
carnaval do subúrbio do Rio.
Em Teresina lembro do carnaval de rua e suas figuras
símbolo: o Bernardo Cruz, a Nicinha que vocês conhecerão mais na crônica da
Graça Vilhena nesta edição. Tinha o corso e o famoso “Caminhão das Raparigas”
para insultar a elite. No mais era uma exibição “dazelites” desfilando em seus
carros para uma plateia que ia à pé. Meu pai tinha um Jeep Willys e a gente
desfilava no corso atrás de automóveis importados, aero willys, simca chambord,
vemaguetes. Em pleno Zé Pereira que morreu de caganeira. Na folia dita da rua
tinha as escolas de samba: “escravo quer mostrar o seu valor / que preto pode
ser doutor” cantou uma delas que ainda ecoa na minha memória. Na Baixa da Égua
tinha o Sambão. E o Bloco Aprontação do Pierre Baiano agitava no Beco do
Prazer. Depois teve a Banda Bandida que ainda hoje sobrevive. Mas o tempo foi
esmagando o carnaval de Teresina, com todo mundo indo brincar a folia nas
praias do litoral. Morreram os bailes do Clube dos Diários, das Classes
Produtoras, do Piauí Esporte Club. E a cidade mingua no carnaval.
O maior do mundo... |
Agora, me dizem, o corso foi reativado em alguns anos e a
moçada tem orgulho de ter entrado para o livro de Recordes como o “maior corso
do mundo”. Tem um caminhão das raparigas fake e quando a Bety Cuscuz quis botar
suas raparigas de verdade pra desfilar teve o maior quiproquó. Não tive ainda
oportunidade de ver esse Zé Pereira, mas acho que ele continua se cagando todo.
Com a quantidade de carrões que tem agora a Teresina que mora do outro lado do
Poty acho que as elites desfilam os novos modelos orgulhosos de hilux com as
raparigas de luxo. Depois o corso toma o caminho de Altos com o PIB teresinense
indo “se banhar” nas praias de Luís Correia. E o carnaval fica na melancolia do
Sanatório Geral da cidade que perdeu o Meduna. O maior corso do mundo foi pra
praia deixando a cidade triste e o sob o sol do equador sua filha chora.
O Rio é tomado de um frenesi nesse verão mais quente que
Teresina. Vou pras montanhas de Minas que são quem me acalmam dessa
efervescência momesca. Fui!
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