domingo, 30 de março de 2014

A guerra das águas


(Edmar Oliveira)
Rio Tietê, ontem, hoje.
 
Eu tinha até uma impressão de que a guerra ia acontecer, mas achava que não iria viver tanto para vê-la. Além do que também achava que a guerra ia começar noutros países e até chegar neste Brasil e sua imensa riqueza hídrica ia demorar mais ainda. Vez por outra lia notícias de falta d’água em outros continentes que provocavam algumas escaramuças, mas a guerra não tinha começado.

Por bem da verdade a falta d’água expulsou levas de nordestinos pobres, mas só os desvalidos, que a indústria da seca sempre foi rentável para as elites. Tinha a guerra da fome, não por água. Os miseráveis acalmavam-se com a polícia.

Mas nesse verão a água das duas grandes metrópoles ficou escassa. Por um fenômeno meteorológico não choveu, como de costume. As chuvas retidas fizeram a cheia do rio Madeira no Amazonas e as represas do sudeste ficaram em estado crítico. São Paulo deixou morrer o Tietê como o Rio deixou agonizar a Guanabara e toda sua bacia hídrica. O Rio só tem um rio – doente, mas ainda vivo – que saindo de São Paulo corta todo o estado e vai até perto do Espírito Santo desaguar no mar. Mas só este rio Paraíba alimenta todas as cidades deste estreito estado. Pois o governador de São Paulo ameaça tirar água dos afluentes e do começo do Paraíba no estado de São Paulo. Acha que tem o direito de sangrar o Paraíba para matar a sede dos paulistas. O governador do Rio, acostumado às bravatas, responde que no Paraíba ninguém mete a mão. O governo federal não se mexeu para legislar a guerra d’água. O pau vai comer feio. Foi dado a largada para a guerra das águas. Com a poluição avançando tanto, o precioso líquido logo vai valer mais que petróleo. Aliás, em alguns restaurantes do Sudeste, meio litro de água vale mais que um litro de gasolina. O bicho vai pegar!

E fico aqui imaginando como era rica de água a minha Teresina nascida entre dois rios. O Parnaíba está morrendo a olhos vistos, desde a construção da barragem de Boa Esperança e assoreado nas duas margens. Os esgotos da Teresina velha sempre poluíram as águas do “velho monge” – como o poeta o chamava – e sua batina barrenta tá ficando podre. Pior destino teve o outro rio. O Poty recebe “in natura” os esgotos dos prédios da Teresina dos novos ricos e a água ficou tão suja, que um tapete verde de aguapés – que crescem em contato com a merda – cobre todo o espelho d’água. Eu mesmo já desci debaixo da ponte velha que sai da avenida Frei Serafim e constatei que a merda dos ricos é jogada sem tratamento no rio Poty. Teresina tem o seu próprio Tietê e já, já, vai entrar numa guerra das águas com o Maranhão!
Rio Poty, deixando acontecer agora!
 

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece uma visão apocalíptica daqueles profetas que aparecem de tempos em tempos, e o pior é que não é, nossos rios estão agonizando... no Tietê tem ainda famílias de capivaras, a gente que pega trem, que passa bem ao lado, vê; tem até placa pros ciclistas, eu gostaria de ver placas com humaninhos pra alertar as capivaras, eu não sei como elas chegaram ali, mas dá muita pena. A vida "sobrevive" onde não há vida, como pode uma coisa dessas?

Lelê