(Edmar Oliveira)
Rio Tietê, ontem, hoje. |
Eu tinha até uma impressão de que a guerra ia acontecer, mas
achava que não iria viver tanto para vê-la. Além do que também achava que a
guerra ia começar noutros países e até chegar neste Brasil e sua imensa riqueza
hídrica ia demorar mais ainda. Vez por outra lia notícias de falta d’água em
outros continentes que provocavam algumas escaramuças, mas a guerra não tinha
começado.
Por bem da verdade a falta d’água expulsou levas de nordestinos
pobres, mas só os desvalidos, que a indústria da seca sempre foi rentável para
as elites. Tinha a guerra da fome, não por água. Os miseráveis acalmavam-se com
a polícia.
Mas nesse verão a água das duas grandes metrópoles ficou
escassa. Por um fenômeno meteorológico não choveu, como de costume. As chuvas
retidas fizeram a cheia do rio Madeira no Amazonas e as represas do sudeste
ficaram em estado crítico. São Paulo deixou morrer o Tietê como o Rio deixou
agonizar a Guanabara e toda sua bacia hídrica. O Rio só tem um rio – doente,
mas ainda vivo – que saindo de São Paulo corta todo o estado e vai até perto do
Espírito Santo desaguar no mar. Mas só este rio Paraíba alimenta todas as
cidades deste estreito estado. Pois o governador de São Paulo ameaça tirar água
dos afluentes e do começo do Paraíba no estado de São Paulo. Acha que tem o
direito de sangrar o Paraíba para matar a sede dos paulistas. O governador do
Rio, acostumado às bravatas, responde que no Paraíba ninguém mete a mão. O
governo federal não se mexeu para legislar a guerra d’água. O pau vai comer
feio. Foi dado a largada para a guerra das águas. Com a poluição avançando
tanto, o precioso líquido logo vai valer mais que petróleo. Aliás, em alguns
restaurantes do Sudeste, meio litro de água vale mais que um litro de gasolina.
O bicho vai pegar!
E fico aqui imaginando como era rica de água a minha
Teresina nascida entre dois rios. O Parnaíba está morrendo a olhos vistos,
desde a construção da barragem de Boa Esperança e assoreado nas duas margens. Os
esgotos da Teresina velha sempre poluíram as águas do “velho monge” – como o
poeta o chamava – e sua batina barrenta tá ficando podre. Pior destino teve o
outro rio. O Poty recebe “in natura” os esgotos dos prédios da Teresina dos
novos ricos e a água ficou tão suja, que um tapete verde de aguapés – que crescem
em contato com a merda – cobre todo o espelho d’água. Eu mesmo já desci debaixo
da ponte velha que sai da avenida Frei Serafim e constatei que a merda dos
ricos é jogada sem tratamento no rio Poty. Teresina tem o seu próprio Tietê e
já, já, vai entrar numa guerra das águas com o Maranhão!
Rio Poty, deixando acontecer agora! |
Um comentário:
Parece uma visão apocalíptica daqueles profetas que aparecem de tempos em tempos, e o pior é que não é, nossos rios estão agonizando... no Tietê tem ainda famílias de capivaras, a gente que pega trem, que passa bem ao lado, vê; tem até placa pros ciclistas, eu gostaria de ver placas com humaninhos pra alertar as capivaras, eu não sei como elas chegaram ali, mas dá muita pena. A vida "sobrevive" onde não há vida, como pode uma coisa dessas?
Lelê
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