Não me lembro
mais do nome da figura. Era uma pessoa importante da política municipal, à
época. Setembro de 2011. Andava vendendo
o meu livro, recém-publicado, novinho em folha. E achei por bem chegar até à
casa dos vereadores. Em chegando lá me dirigi à biblioteca. Um espaço pequeno,
acanhado. Feio e triste. Quase não tinha
livros. De alegre mesmo apenas a moça que me recebeu. Ofereci-lhe o meu livro.
Aí ela fez uma cara triste. Com certeza se ganhasse um salário razoável, teria
me comprado, ou não? Fica a dúvida.
De boa vontade,
querendo me ajudar, levou-me ao presidente da Câmara, essa distinta pessoa de
quem não me lembro mais o nome. Falou-me com toda segurança, de uma criatura,
que, ainda acredita, no valor dos livros, que ele compraria, um ou dois, para a
biblioteca.
Chegando lá,
ofereci-lhe o meu livro de crônicas o qual ainda não declinei o nome. Ele olhou
para mim como se eu fosse um alienista. Parecia enfadado. Eu apostaria que a
sua postura era de quem faz muito tempo não abre um livro. Mandou que eu
falasse com fulano de tal que devia estar na recepção. Ele me compraria um
livro. Fiz o que ele mandou. Só que o cara da recepção não estava lá. Mandaram
que eu esperasse. Aí começou o chá de cadeira. E eu pensando, que situação. Um
escritor brasileiro, ainda, por cima, piauiense, esperando numa antessala de um
gabinete de um vereador para vender um livro para a biblioteca da
municipalidade. Que ridículo. Pensei. Mas já estava ali. O que me restava era
esperar. Pensei em Kafka. O tempo passava. Eu me retorcia na cadeira.
Levantei-me. Fui ao bebedouro.
Quando de repente
entrou alguém na sala, acompanhado de outras pessoas que traziam apetrechos de
televisão. Este alguém eu o reconheci, estava mais gordo, e trajava paletó. Era
o jornalista Erivaldo Carvalho, nome que não esqueço. Velho companheiro do
tempo em que lutamos pelas Diretas já. Perguntou-me o que eu estava fazendo
ali. Uma das funções do jornalista e fazer perguntas. Respondi. Estou esperando
alguém que vai comprar o meu livro. Aí mostrei um exemplar para ele. Leu o
titulo: Província Submersa. Perguntou o preço. Eu disse. Ele comprou um
exemplar E pediu que eu o autografasse. Depois desapareceu, alegre e
satisfeito, em uma sala.
Continuei
esperando. Até que enfim o cara chegou. Eu o abordei e ele me disse que não
tinha dinheiro. Só no fim do mês. Notei que ele queria, ou estava insinuando,
que eu deixasse o livro e viesse pegar o dinheiro depois. Loucura. Queria que
eu continuasse esperando por ele. Pensei novamente em Kafka.
Resolvi voltar
para casa. Antes, porém, fiz uma visita à vereadora Maria do Rosário Bezerra, e
lhe ofereci o meu livro. Ela terminara de fazer um discurso no plenário. Estava
entusiasmada. Alegre. De pronto perguntou quanto era. Declinei o preço. Ficou
com um exemplar.
Estes episódios,
aos quais me refiro, aconteceram no ano de 2011.
Em 2012 a Assembleia
Legislativa através de um projeto, de uma deputada, agraciou, o escritor
Ignácio de Loyola Brandão, com o titulo de cidadão piauiense. Se o espírito não me engana já era
cidadão teresinense. O escritor alugou um terno no dia do ato de sua
diplomação. E fez um discurso na Assembléia para um publico de estudantes. Havia
alguns deputados no plenário. Eles não deram ouvidos ao discurso do escritor.
Desatenção. Descompromisso com os livros.
Para
colocar ponto final nessa crônica e iniciar uma dúvida que pode ser
certificada, eu perguntaria. Existem livros do ilustre escritor Ignácio de
Loyola Brandão nas estantes da biblioteca da casa dos deputados e da casa dos
vereadores? Se existe, muito bem. Loyola
ficará satisfeito, e sentir-se-á orgulhoso e alegre de ser um cidadão
piauiense. Senão do que adianta a liturgia dos títulos, até porque a melhor
maneira de se elogiar e eleger um escritor é comprando seus livros.
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