domingo, 30 de março de 2014

Livros

(Geraldo Borges)
 
Não me lembro mais do nome da figura. Era uma pessoa importante da política municipal, à época.  Setembro de 2011. Andava vendendo o meu livro, recém-publicado, novinho em folha. E achei por bem chegar até à casa dos vereadores. Em chegando lá me dirigi à biblioteca. Um espaço pequeno, acanhado.  Feio e triste. Quase não tinha livros. De alegre mesmo apenas a moça que me recebeu. Ofereci-lhe o meu livro. Aí ela fez uma cara triste. Com certeza se ganhasse um salário razoável, teria me comprado, ou não? Fica a dúvida.

De boa vontade, querendo me ajudar, levou-me ao presidente da Câmara, essa distinta pessoa de quem não me lembro mais o nome. Falou-me com toda segurança, de uma criatura, que, ainda acredita, no valor dos livros, que ele compraria, um ou dois, para a biblioteca.

Chegando lá, ofereci-lhe o meu livro de crônicas o qual ainda não declinei o nome. Ele olhou para mim como se eu fosse um alienista. Parecia enfadado. Eu apostaria que a sua postura era de quem faz muito tempo não abre um livro. Mandou que eu falasse com fulano de tal que devia estar na recepção. Ele me compraria um livro. Fiz o que ele mandou. Só que o cara da recepção não estava lá. Mandaram que eu esperasse. Aí começou o chá de cadeira. E eu pensando, que situação. Um escritor brasileiro, ainda, por cima, piauiense, esperando numa antessala de um gabinete de um vereador para vender um livro para a biblioteca da municipalidade. Que ridículo. Pensei. Mas já estava ali. O que me restava era esperar. Pensei em Kafka. O tempo passava. Eu me retorcia na cadeira. Levantei-me. Fui ao bebedouro.

Quando de repente entrou alguém na sala, acompanhado de outras pessoas que traziam apetrechos de televisão. Este alguém eu o reconheci, estava mais gordo, e trajava paletó. Era o jornalista Erivaldo Carvalho, nome que não esqueço. Velho companheiro do tempo em que lutamos pelas Diretas já. Perguntou-me o que eu estava fazendo ali. Uma das funções do jornalista e fazer perguntas. Respondi. Estou esperando alguém que vai comprar o meu livro. Aí mostrei um exemplar para ele. Leu o titulo: Província Submersa. Perguntou o preço. Eu disse. Ele comprou um exemplar E pediu que eu o autografasse. Depois desapareceu, alegre e satisfeito, em uma sala.

Continuei esperando. Até que enfim o cara chegou. Eu o abordei e ele me disse que não tinha dinheiro. Só no fim do mês. Notei que ele queria, ou estava insinuando, que eu deixasse o livro e viesse pegar o dinheiro depois. Loucura. Queria que eu continuasse esperando por ele. Pensei novamente em Kafka.

Resolvi voltar para casa. Antes, porém, fiz uma visita à vereadora Maria do Rosário Bezerra, e lhe ofereci o meu livro. Ela terminara de fazer um discurso no plenário. Estava entusiasmada. Alegre. De pronto perguntou quanto era. Declinei o preço. Ficou com um exemplar.

Estes episódios, aos quais me refiro, aconteceram no ano de 2011.

Em 2012 a Assembleia Legislativa através de um projeto, de uma deputada, agraciou,  o escritor  Ignácio de Loyola  Brandão,  com o titulo de cidadão  piauiense. Se o espírito não me engana já era cidadão teresinense. O escritor alugou um terno no dia do ato de sua diplomação. E fez um discurso na Assembléia para um publico de estudantes. Havia alguns deputados no plenário. Eles não deram ouvidos ao discurso do escritor. Desatenção. Descompromisso com os livros.

                        Para colocar ponto final nessa crônica e iniciar uma dúvida que pode ser certificada, eu perguntaria. Existem livros do ilustre escritor Ignácio de Loyola Brandão nas estantes da biblioteca da casa dos deputados e da casa dos vereadores?  Se existe, muito bem. Loyola ficará satisfeito, e sentir-se-á orgulhoso e alegre de ser um cidadão piauiense. Senão do que adianta a liturgia dos títulos, até porque a melhor maneira de se elogiar e eleger um escritor é comprando seus livros.

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