domingo, 24 de novembro de 2013

Autoajuda: Jó e a felicidade


 

Caro leitor, me pediram para ser bom, justo, decente, honesto... eu até que tento. Juro! Me obrigaram a obedecer as leis e eu me vi coagido a ser legal. Não satisfeitos, os caras me jogaram nos cornos 10 mandamentos, zil costumes, ordens, proibições, censuras, tabus, regras de etiquetas e me disseram para, no fim das contas, tratar de ser feliz. Puta que nos pariu a todos, ser feliz assim? Lembrei-me de Jó, de seu suplício no tempo, de suas pequenas e grandes tragédias e, é claro, da sua fé inquebrantável. No fundo, querem que sejamos como Jó. Mas se ligo o rádio ou a TV e ouço notícias terríveis sobre peste, morte, destruição; se leio no jornal as notícias de fome, abandono, dor; se vejo da janela a miséria que nos rodeia, e ainda assim sou feliz, é sinal de que sou, no mínimo, uma besta egoísta. Não adianta me sensibilizar com os que não têm nada a partir do meu agradecimento a um Deus pelo que tenho. Ora, é simples. Qualquer sofrimento alheio é também meu sofrimento. Ou pelo menos deveria ser.  Mas não. Seguimos todos nos iludindo com a promessa da felicidade, como se ela estivesse na estante de um supermercado existencial qualquer e fosse, ela, a felicidade, uma certeza absoluta. Não me engano, eu não nasci pra ser feliz enquanto a maioria está condenada à infelicidade. Esse papo de dormir com a consciência tranqüila por que contribuo para uma creche, porque dei moedinhas para um flanelinha, porque não nego comida a quem bate em minha porta, é conversa para boi dormir. Não quero dizer com isso que a culpa disso tudo seja minha, até porque não falo de culpa, mas de responsabilidade. O mundo é minha responsabilidade sim e é justamente por isso que grito com plenos pulmões: Não me peçam pra ser feliz debaixo de tanto entulho moral. Tampouco esperem que eu sorria passivamente diante de todas as censuras do mundo. Eu não vim ao mundo para ser feliz, mas, se eu quiser, para tentar sê-lo.

Leonardo, o bofe

A luz na noite matinal.

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