domingo, 9 de junho de 2013

Órfãos do Maraca


(Edmar Oliveira)
 
Desde que começaram a quebrar a marretadas aquela cobertura de concreto, o maior vão livre do mundo, com mais de sessenta anos de idade que eu fiquei contra a destruição do Maracanã. E para botar uma lona que não durou cinco anos no Engenhão e já vazou água na Fonte Nova. O Maracanã era um monumento que tinha que ter sido tombado. O dinheiro que usaram (e abusaram) para a reforma daria para fazer um novo estádio em outro lugar, deixando o Maracanã e sua história em paz.

Mas não. O prazer do moderno é destruir o antigo. E, depois de alguns anos e muito dinheiro (sempre os aditivos contratuais) inaugurou-se o que se teima de chamar Novo Maracanã. Não tem nada de Maracanã no estádio novo. Derrubaram o Maracanã e construíram um estádio novo, moderno, igual aos europeus, bonito, iluminado, colorido, de cúpula transparente e cheia de luzes, conforto nos assentos, camarotes de luxo, painéis incandescentes. Penduricalhos que disputam a atenção com o futebol no gramado impecável. Mas nada, nada mesmo, tem do velho Maraca e sua arquibancada de cimento, a geral e seu fosso. O Maraca era lugar das emoções, das bandeiras desfraldadas, das torcidas separadas, da mãe do juiz sendo xingada, dos palavrões que acompanhavam um ataque ou que zoavam uma defesa.

Nem precisei ir lá. Vi na TV. Aquela torcida homogênea segurando ridículos balõezinhos distribuídos na entrada. Não eram os torcedores que frequentavam o Maracanã os que estavam no novo estádio. Estádio não, agora eles se chamam arenas. Sem se perceber que o jogo é no gramado e não na areia que justificava o nome romano.

Lembram dos torcedores do Maraca? É só assistir a um canal 100. Os desdentados geraldinos tentando roer as unhas de uma mão enquanto a outra colava um radinho de pilha no ouvido para ampliar a visão do jogo. O fosso era necessário para evitar que os palavrões e xingamentos aos adversários (o principal deles era o juiz) se transformassem em atos de guerra para onde as emoções os empurravam. O fosso era o impedimento da ação. O catalizador do grito do torcedor fanático. Emoções que faziam a única diversão do suburbano que superlotava o vagão do trem da Central. Os que podiam pagar mais tinham na arquibancada de cimento a sua poltrona. Que quase não tem serventia para quem se emociona e levanta, grita e pula acompanhando o ataque do seu time ou fecha os olhos e emudece sentado quando o adversário encurrala o torcedor contrário num belo gol. O outro lado enlouquecia, as bandeiras coloriam e os fogos pipocavam para falar mais altos que os gritos e os tambores exaltados. Nós não somos europeus. Era assim que torcíamos. O novo estádio vendido ao Eike não quer esses fanáticos.

Esse torcedor está órfão. O Maracanã acabou para eles.

4 comentários:

contato disse...

Construiram um novo estádio e mantiveram o mesmo nome. Sugiro uma campanha, se que esse nome aqui no Brasil é muito perigoso, ou um movimento para a troca do nome. O MARACANÃ já era, se foi sem se perceber. Nós, crítico de plantão não percebemos esta violência do Poder Público, no tempo de impedi-la. Agora é tarde, e já que se foi, que vá por completo, inclusive o nome. Minha sugestão inicial é se chamar FULECO. Chico Salles

Edmar Oliveira, disse...

um amigo sugere Arena Galvão Bueno. Outro sugeriu Maracutaia. rsrs

Edmar Oliveira, disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
elena disse...

Também não fui...não tenho coragem por enquanto. Mas uma coisa me impressionou. Me contaram que a acústica endoidou. Que começa um coro e vc não entende o que estão gritando...não dá mais gritar todo mundo junto...Já pensou que droga??!!