(Geraldo Borges)
O menino estava na escola, o murmúrio de falas infantis
prendo trinado de passarinhos pairava abaixo do teto. A professora escrevia no
quadro negro, de perfil. Às vezes ficava de frente para a turma e explicava a
matéria; O menino com os cotovelos fincados na sua carteira, cochilava de leve.
Às vezes, ate sonhava com os olhos embaçados, relembrava as luzes da madrugada,
e a penumbra do quarto quando seu pai aos gritos lhe tirava da cama para levá-lo para o trabalho. Era uma criança
ainda. Mas tinha de ajudar o pai no cabo da enxada. Ele admirava os passarinhos
que cantavam nos galhos das árvores enquanto caminhava para a roça. O menino começava a
suar cedo. Ele sentia a caneta quando ia escrever as anotações da professora tão
pesada quanto o peso da enxada. O pai não lhe dava uma trégua. Achava que
estudar e trabalhar eram a mesma coisa.
Justino. Falou a professora. Tá na hora da
merenda. Acorda menino. Uma mosca zumbiu no seu ouvido. O menino passou a mão na
orelha. E voltou do sonho, à realidade, que parecia mais um pesadelo. Os seus
colegas riram.
A professora não sabia de sua história. O que
sabia era que o seu boletim escolar
estava péssimo. A única nota razoável, era o comportamento, até mesmo porque
vivia cansado, e quase não tinha coragem para brincar, nem rir das brincadeiras
dos colegas.
O primeiro
semestre se passou. Os pais do menino viram que as suas notas não
estavam boas. Era preciso melhorar. Mas de que jeito. Com certeza, seria tirar
o menino do trabalho. O pai reagiu. Não acreditava que o trabalho de cada dia, o
ganha pão estivesse prejudicando-o.
Veio o
segundo semestre. O menino continuou cochilando na classe, os cotovelos
enfiados na cadeira, a mosca zumbindo na orelha, a professora escrevendo na
lousa, de perfil, sujando sua roupa de giz a caneta da criança pesando tanto quando a
enxada. As notas do menino diminuindo de
valor, os meninos sorrindo quando ele acordava do sonho embaçado. Às vezes
criava um pouco de ânimo depois da merenda escolar.
Fim de
ano, o menino trouxe o boletim com as suas notas para casa. Resultado. Não
passou. Uma irmã menor, mais nova que não
estava sujeita ao regime de trabalho do
pai, e estudava na mesma escola, passou.
E alcançou a classe do irmão, que, além
da reprovação, ainda pegou uma sova do pai.
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