domingo, 9 de junho de 2013

O aprendizado do menino

 
(Geraldo Borges)
 
             O menino estava na escola, o murmúrio de falas infantis prendo trinado de passarinhos pairava abaixo do teto. A professora escrevia no quadro negro, de perfil. Às vezes ficava de frente para a turma e explicava a matéria; O menino com os cotovelos fincados na sua carteira, cochilava de leve. Às vezes, ate sonhava com os olhos embaçados, relembrava as luzes da madrugada, e a penumbra do quarto quando seu pai aos gritos lhe tirava da cama  para levá-lo para o trabalho. Era uma criança ainda. Mas tinha de ajudar o pai no cabo da enxada. Ele admirava os passarinhos que cantavam nos galhos das árvores enquanto  caminhava para a roça. O menino começava a suar cedo. Ele sentia a caneta quando ia escrever as anotações da professora tão pesada quanto o peso da enxada. O pai não lhe dava uma trégua. Achava que estudar e trabalhar eram a mesma coisa.

                Justino. Falou a professora. Tá na hora da merenda. Acorda menino. Uma mosca zumbiu no seu ouvido. O menino passou a mão na orelha. E voltou do sonho, à realidade, que parecia mais um pesadelo. Os seus colegas riram.

                A professora não sabia de sua história. O que sabia era  que o seu boletim escolar estava péssimo. A única nota razoável, era o comportamento, até mesmo porque vivia cansado, e quase não tinha coragem para brincar, nem rir das brincadeiras dos colegas.

                O primeiro  semestre se passou. Os pais do menino viram que as suas notas não estavam boas. Era preciso melhorar. Mas de que jeito. Com certeza, seria tirar o menino do trabalho. O pai  reagiu.  Não acreditava que o trabalho de cada dia, o ganha pão estivesse prejudicando-o.

               Veio o segundo semestre. O menino continuou cochilando na classe, os cotovelos enfiados na cadeira, a mosca zumbindo na orelha, a professora escrevendo na lousa, de perfil, sujando sua roupa de giz  a caneta da criança pesando tanto quando a enxada. As notas do menino  diminuindo de valor, os meninos sorrindo quando ele acordava do sonho embaçado. Às vezes criava um pouco de ânimo depois da merenda escolar.

               Fim de ano, o menino trouxe o boletim com as suas notas para casa. Resultado. Não passou. Uma irmã menor, mais nova  que não  estava sujeita ao regime de trabalho do pai,  e estudava na mesma escola, passou. E alcançou a  classe do irmão, que, além da reprovação, ainda pegou uma sova do pai.

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