Edmar Oliveira
Recebi uma intimação da Receita Federal. Fiquei com a orelha
em pé e o bolso de resguardo. Esse é o país da impunidade com duas honrosas
exceções: Pensão Alimentícia e Sonegação à Receita. A primeira honra leva o
sujeito à cadeia sem direito a apelação. No segundo crime você é inscrito na
Dívida Ativa da União, tendo quaisquer bens bloqueados para pagar essa dívida,
atingindo inclusive aos possíveis herdeiros. Em alguns casos a única herança é
a dívida. Nunca tive motivo para infringir as honrosas exceções que implicam em
implacáveis punições. Por isso fiquei assustado com a intimação.
Não tinha quaisquer motivos para cair nas malhas da Receita.
Meus rendimentos são frutos amargos do meu trabalho assalariado como servidor
público. Algumas vezes prestei assessorias às Prefeituras e Estados, mas nunca
deixei de declarar, até porque é burrice sonegar um rendimento público. Sei que
a Receita cruza essas informações e a sonegação pública é passível de demissão.
Tão cuidadoso assim, porque diabos fui intimado? Que crimes teria cometido para
comprometer meu patrimônio, parco e esfarrapado?
Longa espera nos corredores enormes e desertos da Receita
Federal do Rio de Janeiro. A funcionária burocrática me acusava de não ter
declarado aluguéis e parte de um dinheiro que a Prefeitura me pagou atrasado. O
dinheiro da Prefeitura eu tinha como explicar, pois tive que abrir um processo
para receber meus direitos que foram pagos em dois exercícios. Erro da
informação da Prefeitura. Mas aluguéis eu até já paguei, nunca recebi. Não me
consta alugar o imóvel que eu moro. A burocrata fuçou pra lá e pra cá dentro do
computador e disse que havia um erro ali que fora mal compreendido. Eu estava
sonegando era royalties. Aí eu não entendi: nunca tive poços de petróleo! A
moça disse que não podia me explicar mais e mandou falar com o diretor do
departamento.
Dificuldade de achar a sala do homem naquele ambiente amplo
e escuro. Quando fui recebido o homem pediu meu CPF e abriu toda a minha vida
fiscal no seu computador. Disse que eu tinha que pagar sobre royalties recebido
da Vieira & Lent. Ora, Vieira & Lent é a editora de meu livro “Ouvindo
Vozes” de quem, a título de direitos autorais, eu recebo míseros R$ 2,80 por
cada livro vendido. E o homem tava ali, firme, afirmando que direitos autorais
tinha que pagar imposto de renda. No ano em que me “pegaram” eu só recebi R$
508,00 sobre os quais incidia a facada da Receita Federal. Aí ele viu lá pra
trás também e juntou tudo que eu recebi desde a edição em 2009. Caí na malha
fina e com as multas talvez fique devendo meus direitos autorais.
Aprendi, na prática, que é inviável escrever livros neste
país em que ninguém lê. E o governo ainda bota o leão da Receita Federal para
morder o que o escritor nem ganhou. Surreal!!!!!!!!!!!
Um comentário:
Meu caro Edmar, é assustadora essa perspectiva do leão estar contabilizando e tributando ínfima parcela de obras culturais. Sem querer entrar no mérito daquela máxima que diz que a Receita só tem interesse na declaração dos "peixes grandes", aconselho procurar um Contador amigo, e empurrar goela abaixo do leão suas prerrogativas embasadas. Eu que não dava esse gostinho pra eles de pagar algo mais. Sergival
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