domingo, 12 de maio de 2013

FISCAL DA NATUREZA, CONFESSO A FÉ


 

Edmar Oliveira
 
Saí de Teresina nos meados da década de setenta do século vinte. Portanto ainda muito jovem e tenho mais tempo de Rio de Janeiro do que o meu viver no Piauí. Entretanto se eu saí das margens do rio Parnaíba, aquele pedaço de terra, de um lado e outro do rio ficou dentro de mim para marcar o filho da terra, por sua vez filha do sol do equador e dos encantos das matas do Maranhão. Explico: nasci na minha Palmeirais e beirei o rio, de um lado e outro, até chegar em Teresina. Mas aí teve um hiato, que marcou as lendas e os mistérios do tambor de criola e do bumba-meu-boi: cresci um pouco lavando a alma e as brincadeiras no rio Itapecuru, em Codó, no Maranhão.

Volto a Teresina já taludo, menino de final de ginásio, engrossando a voz para entrar no científico. Estudei no Colégio Batista e no Diocesano, ensinado por americanos enormes que professavam o protestantismo e padres italianos da Companhia de Jesus. E pude comparar como o deus de cada um deles era diferente do que eu trazia das quermesses do Maranhão embrulhado nas crenças da feitiçaria dos negros. O meu ateísmo tem raízes profundas!

Mas foi um aprendizado maravilhoso embalado por crenças e deuses que me tornaram descrente como deve ser um bom botafoguense fazendo figa e batendo na madeira, vestindo a mesma camisa para ser campeão. A mesma que me deixou, algumas vezes, perder o jogo, mas não a fé.

Sempre perto do dia das mães eu faço aniversário. Outra vez esse ano, ontem risquei mais um ano no meu calendário, desta vez aposentado dos afazeres de servidor público. Confesso que fiquei meio peixe fora d’água, mas vou preenchendo o passar do tempo fazendo letras, além de “enfiar peido em cordão” que é uma das expressões mais misteriosas que a minha avó dizia de quem vive de sombra e água fresca, fiscalizando a natureza. E postei uma foto de um avião que faz a volta lá em casa antes de pousar no Santos Dumont. Um amigo disse que essa era uma ocupação privilegiada a de fiscalizar os céus e os voos dos pássaros.

O Piauinauta agora tem mais tempo de ficar no espaço sideral “prestando atenção” nos acontecimentos. Começando, volto a Teresina...
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desenho de Gervásio com o comentário: "TENTANDO SE ADPTAR À DURA VIDA DE APOSENTADO". Foto do fiscal dos céus. E quem souber o significado da expressão "enfiando peido em cordão", além de não ter o que fazer, me explique. Cartas para a redação que eu já estou fazendo uma coisa que não sei o que é...

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Agora, como nasci no dia das mães, ganhei de Gervásio esse presente:
 

3 comentários:

ricardo guinsburg disse...

Don EDMAR,
Enfiar Peido em Cordão e fiscalizar o Voo dos Pássaros e dos Aviões,é a disponibilidade completa para o Renascimento.
Bem Vindo ao Clube e um abraço fraterno.

João de Deus "Netto" disse...

Entonce, meus parabéns, seu piauiense ateu (ô heresia) fi da mãe!!! quááá!!!
No Diocesano andei me escondendo da missa obrigatória (tinha cabimento?)de toda quarta-feira, mas não foi uma boa ideia não, a pena imposta pelo finado Carlos Breschianni foi pesada...Aí passei a ir pra capela e uma vez lá no recinto, eu "viajava..." até a hora do recreio, onde o sanduba de mortadela do irmão Guido(?) me esperava...

elena disse...

Edmar, tb aposentei...foi muito ruim...Passei quase um ano mal...acho que o pior momento da minha vida. Faz um ano esse mês. Já melhor, adaptada, com um novo vício esse ano: ver filmes e filmes e filmes que baixo baixo e baixo no computador. Fluoxetina e tal. Ainda não acho bom não trabalhar...mas acho muuuuito bom não estar mais na AGU....