domingo, 13 de maio de 2012

Aprendendo a andar de bicicleta


Geraldo Borges
No meu tempo de menino aprender a andar de bicicleta era uma conquista muito especial. Quando acendiam-se  as luz mortiça na rua Campo Sales  nos antigos postes de madeira, eu ,e  meu irmão, saímos,  e encontrávamos outros colegas, e rumávamos  para o posto de alugar bicicleta, na casa de seu Osíres que não ficava muito longe. Era na mesma rua, dois quarteirões de distancia. Tínhamos o direito de escolher a bicicleta que quiséssemos, a identificávamos pela placa e pela cor da garupa. As marcas de bicicleta que me lembro eram todas escritas em língua estrangeira; Merk Suissa,  Monark, Gulliver, raleigh.

O Aluguel era por hora. Alugávamos geralmente por meia hora. Pois nosso dinheiro era minguado, a gente reunia as moedas e arranjava uma soma que desse para meia hora. Quem desse mais dinheiro andava mais. Como não tínhamos relógio e entusiasmávamos em nossa aprendizagem, caindo e levantando, uma vez por outra, chegávamos a esquecer  o tempo, e pensávamos que a bicicleta era nossa. Só nos dávamos conta da verdade quando uma pessoa do posto nos tirava da brincadeira dizendo que o tempo já havia se acabado.

Esses acontecimentos se deram lá pelos idos dos anos de mil novecentos e cinqüenta. Às vezes chegávamos em casa com os joelhos ralados ou os cotovelos, mas isto não significava nada em relação as emoções que a brincadeira nos proporcionava. Estávamos aprendendo a pedalar, a andar de bicicleta. Possuir bicicleta naquela época dava estatuo. Eu tinha dois tios empregados, um era sargento das forças armadas e tinha uma bicicleta, importada, vinda da Alemanha. Naquele época nem bicicleta se fabricava, no Brasil.O outro tio era empregado do DAC Diretoria da Aeronáutica Civil, coisa assim. Também tinha uma bicicleta para ir ao Aeroporto. Andei algumas vezes na garupa de suas bicicletas. Uma bicicleta pode conduzir três pessoas: uma na sela, outra na garupa e outra no varão, dependendo do dono e de sua força e disposição. O Mauro Bezerra, que morava na Campos Sales, e trabalhava na Mark Jacob, tinha uma bicicleta. Quando passava na frente lá de casa, e coincidia eu estar saindo para o Liceu me dava uma carona. Foi locutor de radio e depois deputado estadual pelo Maranhão. Quem também tinha uma bicicleta era o presidente do aero clube do Piauí, de cujo nome eu não consigo me lembrar no momento. Lembro-me apenas que ele sempre que encontrava uma pessoa conhecida, descia da bicicleta, se emparelhava com a dita pessoa e saiam conversando. Havia também um amigo que conheci mais tarde e que morava em Timon. Como sua casa ficava defronte o centro de Teresina, ele dispensava a bicicleta e vinha de canoa pelo rio Parnaíba. Era mais pratico já que a única ponte que existia naquele tempo era muito longe de sua casa.  Existia também bicicleta para mulheres, mas eram mais raras. E distinguiam – se pela falta de varão. Os carteiros e os padeiros também usavam bicicletas.

 Ainda não havia ladrões de bicicletas, pelo menos em Teresina. A primeira vez que vi um ladrão de bicicleta foi no filme ladrões de bicicletas de Vitorio De Sica,  em que roubam a bicicleta de Antonio, um simples operário. Ele a procura desesperado pelas ruas da cidade. Não a encontra. E então, resolve roubar uma também. Tinha de trabalhar e precisava de uma bicicleta para percorrer as ruas de Roma, isto logo depois da Segunda Guerra mundial.

Meu desejo era ter uma bicicleta, coisa que nunca aconteceu, no tempo certo, uma bicicleta para passear. Aprendi a andar, claro aos troncos e barrancos. Mas quede a minha bicicleta? Meu pai não podia me dar uma bicicleta, que naquele tempo era caro. Se tivesse de me dar uma teria de dar outra para meu irmão. E assim ninguém ganhou bicicleta. Nem que me lembra nunca dirigi as de meus tios, que eram zeloso   e não iam entregar o seu transporte na mão de um  menino meio maluco.

            O tempo foi passando e eu sabia que sabia andar de bicicleta. É coisa que ninguém esquece. Mas para verificar que meu aprendizado não havia sedo esquecido, uma vez por outra alugava um bicicleta e dava uma volta pela cidade, e ia verificando que o numero de bicicletas estava aumentando, com certeza já se estava fabricando bicicletas no Brasil.

 Um dia meu pai comprou uma bicicleta, mas não foi para mim nem para meu irmão. Foi para um parente que morava lá em casa, e era empregado na mercearia. A bicicleta foi comprada não para ele passear, mas para o seu trabalho. Para que ele fosse a rua pagar imposto, e resolver outros problemas. Nós podíamos muito bem aproveitar as horas vagas do meu parente para andar de bicicleta. Mas meu pai não deixava. Sabia lá se a qualquer momento ele não ia precisar. De forma que com o tempo andar de bicicleta para mim tornou-se um sonho esquecido. Aos poucos fui notando que andar de bicicleta requer muito coragem. A gente sair por ai de peito aberto sem nenhuma proteção no meio do transito, sentido o vento nos ombros. Ainda bem que agora existem ciclovias.

 A cidade está cheia de bicicletas fabricadas aqui mesmo em nossos parques industriais. Mesmo assim tenho certeza que ainda existem muitas pessoas que sonham com uma bicicleta e não podem adquiri-la. Hoje também acho que não existem mais postos de aluguel para ensinar andar de bicicleta. Eu acho que qualquer garoto que ganhe uma bicicleta não precisa apreender a pedalar. Aprende na creche, andando em velocípede. Lembro-me que meu filho saiu de um velocípede direto para uma bicicleta já andando, sem precisar dos arranhões nos joelhos e cotovelos, como eu, meu irmão e meus amigos. Da bicicleta eles passam para uma moto, estas máquinas perigosas que roncam por aí pelas ruas e estradas, com seus cavalos fumegando. Costurando, os automóveis. São outros tempos, tempos de muita velocidade. Mas eu acho que está na hora de dar um freio de mão nessa crônica.


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