domingo, 15 de janeiro de 2012

Vamos apartar esses caboclos...

Edmar Oliveira

O Piauinauta foi chamado para observar a briga fratricida dos irmãos da nação Piauí na questão da divisão do Estado, que já obteve êxito nos Goiás e no Mato Grosso. Perdeu a parada, por enquanto, nas selvas do Pará, ainda é questão no Maranhão e vez por outra tenta mudar as fronteiras dos brasis.
O que a gente não pode perder de vista é a geografia da política. O Tocantins foi um Estado criado para ser de uma família de políticos. Tocantins significa “essa terra é nossa” em tupi-guarani. Uma família de políticos achou que era deles e ficou com as terras ricas do norte do Goiás. O Maranhão quer se dividir pra ver se um pedaço de terra sai do Império dos Sarneys. Pode sair pela culatra o tiro dos independentes. No nosso caso, a morte recente dos políticos de antiga estripe pode querer forçar a divisão. Portanto as nossas razões, agora, seriam contrárias as do Maranhão.
Quem é da terra sabe que a capital do sul é Brasília e o pessoal pro lados da serra da Capivara acha mais perto Salvador que Teresina. Mas também no Rio Grande do Norte, Natal fica do lado oposto à tromba do elefante e aí Mossoró ocupou o lugar de disputar com a capital. E ainda tem Caicó no fundo do sertão reinando até no interior da Paraíba. Caso igual ao da Paraíba dividida em três internamente: o litoral de João Pessoa; o agreste de Campina Grande e o sertão de Sousa. Bom Jesus, Corrente e São Raimundo Nonato deveriam disputar essa hegemonia no sul para contrabalançar o poder do norte. No Ceará, Sobral solidifica o centro e a terra de Padre Cícero e Barbalha disputam a hegemonia do cariri com Pernambuco. Nesse estado de pernambucanos Caruarú guarda a entrada do sertão, Petrolina plantou uvas nas margens do São Francisco fazendo vinho no nordeste quente vender na Europa fria e de Salgueiro a Bodocó Januário é o maior dos versos de Gonzaga. Ninguém fala em dividir esses valorosos, orgulhos e garbos estados nordestinos.
Portanto, conterrâneos, divisão é proposta a um estado fraco. No Pará, onde tem riqueza e não há distribuição até se pensaria nos minérios dos Carajás e, mesmo assim, a população amazônica rejeitou o racha. No Maranhão até se entende: a dinastia Sarney não entrega o trono do estado mais pobre do Brasil. Sou solidário com os que pensam a divisão. Mas no Piauí que começou a crescer agora vamos manter a calma e segurar o bode pelos chifres.    
 Teresina, na substituição de Oeiras, não ficou nem tanto ao mar ou ao sertão. Mas foi em rumo do povo do norte e ficou perto dos maranhenses do leste, abandonados de São Luis. É a capital do meio-norte, nem tanto ao Amazonas nem ao agreste sertão. Mas deixou o bojudo sul do Estado abandonado e meio. Oeiras era mais equânime na geografia. A capital do fundo do sertão. Porque somos um Estado sertanejo, que só viu o mar entregando grande parte do território mais fino, ao norte, ao Ceará. Único estado nordestino que não tem a capital junto ao mar, Teresina ficou abeirando o rio deixando que as águas do Parnaíba nos levasse ao mar de sempre em quando.
Por mim, se fosse pra dividir afetivamente, melhor seríamos a capital do Parnaiba, de um lado e outro. Eu nasci nesse Estado da graça do rio Parnaíba. Nunca me foi diferente estar de um lado ou outro. O rio me balizava, sempre. A sua navegação e as margens esquerda e direita. Seu leito, minha capital. Só entro numa briga pra dividir se me derem as margens do Maranhão do meu estado Rio Parnaíba. Mas soube que vão me dar é uma barragem, cujo lago engolirá Palmeirais. Assim o sertão vira o mar da profecia e eu numa canoa ganho as terras sob as águas do meu rio...

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