domingo, 18 de dezembro de 2011

Oeiras visita o Rio

O Rio Continua Lindo

Ferrer Freitas

Estive na última semana  de  outubro  de passagem pelo Rio  de  Janeiro,  que continua lindo, como no samba de  Gil,  acompanhando a   filhota  Juliana e seu "husband", meu  genro Nikolai. Ficamos em hotel  de Copacabana situado no quarteirão entre as  ruas  Ronald de Carvalho e Duvivier, imediações da Praça do Lido.  Na primeira artéria  outrora existiu o "Bierklause", casa de chope  de  decoração  alemã  e  pessoal  de  atendimento vestido a  caráter. Para  tristeza  minha,  hoje  é   uma churrascaria de nome "Carretão".  Na outra, surpreendi-me  de   ainda ali  estar,  mesmo  meio  desativado,  o famosíssimo "Beco das Garrafas", onde inventaram a Bossa  Nova. Trata-se de antiga  travessa  para pedestres que  dava  na  Rodolfo Dantas,  acesso    interrompido por  muro alto. No  térreo  do   prédio  de  nome  “Cervantes”  (o  do  lado  contrário   é  o “Barão  de  Itapetininga”), com  as  famosas boates  de  portas  cerradas,  já  há  algum  tempo,  uma  placa fala de  sua  importância   e,  na  esquina,    uma   loja  de  nome   Bossa  Nova   vende    cd's  e  dvd's,  a maioria de cantores e músicos do importante movimento musical,  além  de  livros.  O beco foi tombado como "Patrimônio Cultural Carioca”  conforme diz  placa  colocada:  “Beco das Garrafas (Bem Cultural Imaterial) -  Circuito  da Bossa  Nova   -  Aqui  artistas  se  apresentaram  nos  palcos  das  boates  Little  Club,  Bottles  e  Baccara  no  final  de  1950  e  início  de  1960.”  

              Por  se  tratar  de  viagem  ao  túnel  do  tempo,  jamais  poderia  deixar  de  rever  o  bairro  de  Noel,  Vila  Isabel,  onde  residi  de  1962  a  1964,    e  aproveitar  para  conhecer  a  estátua do músico e poeta  sentado  à  mesa  de  bar   sendo  atendido  por  garçom  com  pano  à  mão  como se estivesse a   limpá-la,  ainda  exposta  a  letra  do  samba  “Conversa  de  Botequim”,  aquele  que  diz:  “Se   você  ficar  limpando  a  mesa /não me  levanto, nem  pago  a  despesa.”  Desnecessário   dizer  que  é  tudo   em  bronze  e  de  uma  perfeição  inigualável,  inclusive    o  queixo   do   poeta  com   o   afundamento  da  mandíbula,  lado  direito,  causado  por  fórceps  usado  no  seu  nascimento.  Destaque  ainda  para  as  calçadas em pedra  portuguesa do  Boulevard  28  de    Setembro formando  partituras  de  músicas  famosas  do  cancioneiro  popular,  como,   por  exemplo,  o  samba  canção  “Chão  de  Estrelas”,  de  Orestes  Barbosa  e  Sílvio  Caldas.

            Se  fosse  pôr  aqui  tudo  que  vi  (ou  li)  talvez  este  relato  de  viagem  se  tornasse  monótono.  Mas,   não  posso   deixar  de  registrar  (pouca  gente  sabe!)  como  são   inúmeras    as  igrejas  do  centro  do  Rio  em  área  que  permite  o  deslocamento a  pé:  Santa  Luzia,  São  Jorge,  N.S.  do  Carmo  (Memorial  ao  lado),  Santa  Cruz  dos  Militares,  São  José,  N.S. da  Conceição  e  Boa  Morte,  Candelária,  São  Francisco da  Penitência, N.S. da Lapa dos  Mercadores,,  N.S.  Mãe  dos  Homens.  Muitas  em  estilo  barroco,  com  retábulos e  púlpitos  belíssimos.  Tudo  muito  conservado. 

             É  incrível,  mas  o  Rio  de  Janeiro  resiste  a  tudo:  enchentes,  bandidagem,  explosões,  deslizamentos  etc.,  etc.   Em  Copacabana, como  é  sabido,  a  maioria  dos  moradores  é constituída  de  idosos.   Pois,   nada  impede  que  os  velhinhos  e  as velhinhas  desçam   de  seus  apartamentos para  andar  pelo  calçadão,  muito  à  vontade.  É  comovente   ver  os  casais  conversando,  andando  lentamente  para   olhar  a   paisagem  e  o  mar,  muitos   talvez  lembrando o  samba   antológico  “Copacabana”  (“Existem  praias  tão  lindas,  cheias  de  luz./Nenhuma  tem  os  encantos  que  tu  possuis.”),   de   João  de  Barro  (Braguinha)  e  Alberto  Ribeiro,  gravado  em  1946  por  Dick  Farney  com  sua  bela  voz  que  lembrava a  de  Frank   Sinatra,  “the  voice”.  Por sinal Dick, cujo  nome  era  Farnésio  Dutra  e  Silva,   se  vivo  estivesse  completaria  90  anos   no  dia  24  de  novembro.

               Arrematando.  Como  nem  tudo  é  só  alegria,  devo  registrar  que  estava  ainda  no  Rio   quando  faleceu,  aos  87  anos,  aquele  que  considerava   o  melhor  comentarista  de  futebol   do  rádio  carioca, o  gaúcho  Luiz  Mendes,  o  “palavra  fácil”,   conhecido  também  por  “tchê.”   Era   um  figura  extraordinária.  
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(*) Ferrer  Freitas  é  do  Instituto  Histórico  de  Oeiras

   

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