domingo, 18 de dezembro de 2011

ÁGUA


Meus senhores eu  sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a  rata e os entrefolhos
que  lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está  vago
pois lava as mamas e  por onde cago.
Meus  senhores aqui está a água
que rega a salsa e o  rabanete
que lava a língua a  quem faz minete
que lava o  chibo mesmo da rasca
tira o  cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o  cão
que lava a cona e o  berbigão.
Meus senhores  aqui está a água
que lava os  olhos e os grelinhos
que  lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes  lutas
que lava sérias e lava  putas
apaga o lume e o  borralho
e que lava as  guelras ao caralho.
Meus  senhores aqui está a água
que rega as rosas e os  manjericos
que lava o bidé,   lava penicos
tira mau cheiro  das algibeiras
dá de beber  às fressureiras
lava a  tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um  broche.
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MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE (15.09.1765 / 21.12.1805), além de gênio
literário, mostra-nos há mais de dois séculos a preocupação com a água.

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