domingo, 4 de dezembro de 2011

Brasíla Tombada

Por te tombar, tombamos
                                             Paulo José Cunha


O primeiro a tombar, sob a rodas de um TCB,
foi um morador da Cidade Livre,
cujo nome a história não guardou.

Depois tombaram crianças que seguiam pra escola,
pedreiros, comerciários, empregadas domésticas,
músicos com seus instrumentos,
e mulheres gordas com sacolas, essas que não conseguem correr.

Aí começaram a tombar os bêbados,
os vagabundos, os boêmios,
os afoitos e os doidos varridos.

Até que tombaram e vêm tombando
por dentro dos anos, no açougue público a céu aberto,
motoristas e passageiros,
com sua carne fresca, fria e pegajosa.

E assim, por te tombar, tombamos
e continuaremos a tombar, silenciosos,
nesta singela homenagem 
aos teus órfãos e viúvas.

Tombemos, pois, a cada dia,
já que assim diz a lei.
E a lei deve ser cumprida a qualquer custo,
eis que a lei está acima de tudo, 
inclusive da vida,
assim como da morte.

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