Por te tombar, tombamos
Paulo José Cunha
O primeiro a tombar, sob a rodas de um TCB,
foi um morador da Cidade Livre,
cujo nome a história não guardou.
Depois tombaram crianças que seguiam pra escola,
pedreiros, comerciários, empregadas domésticas,
músicos com seus instrumentos,
e mulheres gordas com sacolas, essas que não conseguem correr.
Aí começaram a tombar os bêbados,
os vagabundos, os boêmios,
os afoitos e os doidos varridos.
Até que tombaram e vêm tombando
por dentro dos anos, no açougue público a céu aberto,
motoristas e passageiros,
com sua carne fresca, fria e pegajosa.
E assim, por te tombar, tombamos
e continuaremos a tombar, silenciosos,
nesta singela homenagem
aos teus órfãos e viúvas.
Tombemos, pois, a cada dia,
já que assim diz a lei.
E a lei deve ser cumprida a qualquer custo,
eis que a lei está acima de tudo,
inclusive da vida,
assim como da morte.
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