domingo, 12 de setembro de 2010

O nome da ponte nova




Edmar Oliveira
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Por conta de meu trabalho tenho revisitado Teresina por períodos muito curtos. E sou testemunha da modernização galopante que a atravessa. Ela parece decidida a apagar o seu passado que habita minha memória. Tento andar nos lugares de antes, mas eles estão se transformando em moderno numa velocidade estonteante. E quando só me acompanham os colegas de meu trabalho, muito mais jovens que eu, freqüento uma Teresina estranha. Não a reconheço.

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Conheci um restaurante moderno, que se parecia estar muito mais perto do sul maravilha que do nordeste que conheci. Comida pouca, muito enfeitada, muito cara. Esse é o padrão internacional da culinária global. O prato saboreado era “filé a poivre” de uma sofistificação francesa que não combina com a galinha da Júlia da minha antiga Teresina. Bares vendendo chopp no preço de três cervejas. Refrigerantes light no lugar da cajuína.

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Os hotéis encareceram os olhos da cara para competir com os de fora. Os shoppings se espalharam matando o comercio antigo do centro da cidade. Os armazéns foram para as prateleiras dos supermercados com seu padrão igual a qualquer lugar e qualidade nas frutas e verduras que nunca deram na nossa horta. A evolução tem suas vantagens.
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Mas quando tenho um tempo vou no bar do Clube dos Diários, na mercearia do Chicão, no frango da Edinha, no bar do Cunha e arrisco até uma panelada no Riba. Caminho pelas biroscas do Mafuá atrás de pimenta de cheiro, ando na frei Serafim, passo pela Pedro II, vou ao Mercado Velho, ao Troca-Troca e ao cais do Parnaíba que de tão seco traz Timon mais pra perto. Só que até ali a modernidade já chegou: fizeram um shopping popular para tirar os camelôs da praça Rio Branco e fincaram uma estação do Metrô num concreto armado suspenso que tira a vista do rio.
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E ainda prefiro a ponte Metálica do João Luiz Ferreira à modernidade da ponte Estaiada. Nosso povo sabe rir até do progresso que nos ultrapassa. Já mudaram o nome da ponte Estaiada. De tão bonita e imponente que ela é faz o cristão botar a cara pra cima numa admiração abestada. Já foi rebatizada de ponte Abestaiada...



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ilustração de Gervásio Castro

2 comentários:

Netto de Deus disse...

“Caminho pelas biroscas do Mafuá atrás de pimenta de cheiro, ando na frei Serafim, passo pela Pedro II, vou ao Mercado Velho, ao Troca-Troca e ao cais do Parnaíba que de tão seco traz Timon mais pra perto”. Todo este périplo e ainda reclama que a City está moderna? Kêde o final na Praça Saraiva pra registrar uns B.Os por seqüestro relâmpago; assalto seguido de... Opa, esse não! O amigo está aqui contando a história. Edmar, não gosto de bife a Poivre porque não tem “unha”.... quááááá!!! Paulo!

zan disse...

Quando me bate uma saudade qualquer de "civilização", pego um ônibus aqui na rodoviária a cem metros de onde moro e de repente me vejo no meio daquela coisa que virou Teresina. Morei bons e maus momentos nessa cidadezinha que vive querendo chegar a cidadezona (foi sem querer o trocadilho). A última vez que fiz isso - a busca da tal nostalgia de alguma coisa menor que Campo Maior, desculpe o trocadilho de novo - foi no dito dia da pátria, pra encontrar um amigo que não via fazia um tempo. O cara me levou prum restaurante na beira do Parnaíba, de frente pra ponte veia de ferro, Brisa Verde, se não me engano... A qualidade da brisa, da vista e do peixe, valeram a viagem. Teresina ainda tem lugar que dá a impressão que não entrou na "modernidade arquitetônica" dos espigões da zona Leste.