domingo, 26 de setembro de 2010

Fronteira Literária: Piauí - Maranhão

Geraldo Borges



O Piauí e o Maranhão compõem – se geograficamente do Meio Norte, região, pré amazônica. Os dois estados possuem uma fronteira que se interpenetram e por isso mesmo trocam bastante influencia, econômica e cultural, principalmente em suas literaturas. De modo que falar de literatura piauiense sem levar em conta o seu forte vínculo com o estado de Gonçalves Dias é querer tampar o sol com a peneira. Até mesmo por que o rio Parnaíba corta os dois estados, melhor dizendo, ume. E é através deste grande corrente fluvial que começa a literatura piauiense, com a mudança de capital para a sua margem. Sem o rio Parnaíba não existiria o Cabeça de Cuia, e sem esse mito a nossa literatura seria mais fraca. Pois a lenda alimenta a literatura.



Teresina ficou conhecida, durante o seu período mais provinciano, como Cidade Verde, devido aos seus quintais e pomares, este titulo lhe foi agraciado por Coelho Neto quando de um passeio a capital do Piauí lá pela década de trinta. O titulo foi orgulho da municipalidade por muito tempo. Hoje a cidade verde está cinza. Mas fica ai anotado a influencia da literatura maranhense. Quem dá nome cria.



Ferreira Gullar quando garoto esteve em Teresina por várias vezes na companhia de seu pai Newton Ferreira que era comerciante. Vinha de trem. Seu pai vendia mercadorias maranhense no Piauí e vice versa. No seu Poema Sujo Ferreira Gullar canta esta experiência de menino. É um poema que liga São Luiz a Teresina. Vejamos o final do poema.



E como era grande o mundo



Há horas que o trem corria



sem nunca chegar ao fim



de tanto céu tanta terra



de tantos campos e serra



sem contar o Piauí





Já passamos por Rosário



Por Vale – Quem – Tem, Queluz.



Passamos por Pirapemas



e por Itapicuru:



mundo de bois, siriemas,



jaçanã, pato e nhanbu.





Este poesia pode ser assinada pelos melhores poetas piauienses, H Dobal, por exemplo. O trem foi um grande elo cultural entre o Piauí e o Maranhão. Atravessando a ponte sobre o rio Parnaíba.



Humberto de Campos é outra figura muita familiar em nosso meio. Um dos maiores cronistas brasileiros. Em seu livro de memórias fala que morou na cidade de Parnaíba, onde passou a infância, Tinha parentesco com a família Véras. O seu texto o Cajueiro é antológico, e esta bem plantado dentro da paisagem piauiense, no quintal de sua casa em Parnaíba. Coisa rara de se ver.



Um dos fundadores da Academia de Letras Piauiense, Higino Cícero da Cunha, nasceu em São Luis das Cajazeiras, atual Timon. Tornou-se famoso pelo folclore que criaram em torno de seu nome. Não só por isso. Uma vez ofereceu cachaça a um caboclo. O caboclo disse. Eu não bebo arco. Ele, então retrucou. Pois do jeito que eu estou aqui eu bebo até frecha.



Eurípedes Clementino de Aguiar nasceu em Matões. Maranhão. Seguiu a carreira política. Mas também era poeta. Cid Texeira de Abreu, poeta, nasceu em Caxias. Maranhão. Felix Aires nasceu em Buriti Bravo, Maranhão. Salgado Maranhão nasceu em Caxias, e foi integrado pela critica contemporânea piauiense como um dos seus melhores poetas, hoje mora no rio de Janeiro. O poeta Rubervan du Nascimento também achou melhor atravessar o velho monge e tornar-se um poeta piauiense, e cidadão teresinense por conta própria.



O. G. Rego de Carvalho privilegia a paisagem maranhense quando coloca em um de seus romances - Rio Subterrâneo, uma chácara em Timon, como parte de seu cenário. O escritor e cineasta Odylo Costa, filho, no seu romance a Faca e o Rio, que foi filmado, tem como cenário a cidade de Parnarama e Campo Maior.



Corre uma lenda, ás vezes a lenda vira história e a história vira lenda, que o poeta da Costa e Silva é catalogado na biblioteca publica do Maranhão, como genuíno, poeta maranhense. Ninguém ganha ninguém perde. Quem canta o rio Parnaíba como ele cantou só pode ser piauiense ou maranhense. Mas a sua biografia relata que ele nasceu na cidade de Amarante, cidade que ele cantou com todo o lirismo de poeta simbolista redesenhando – a envolta na neblina. E se ele fala. E, ao longe, O mugido dos bois de minha terra... Pode também estar falando do Maranhão.



A literatura de Assis Brasil, pelo menos a tetralogia, que se pode considerar piauiense, tem como cenário o rio Parnaíba. È uma história que diz respeito às margens do rio, por que se refere a navegação.



O Piauí historicamente pertenceu ao Estado do Maranhão Grão Para do qual o Piauí também estava anexado. No período colonial o Piauí teve a sua capitania submetida a do Maranhão, por algum tempo. As pequenas cidades e fazendas do Maranhão sempre despejaram imigrantes para a capital do Piauí, que era um centro administrativo em vias de desenvolvimento e ficava mais perto do que a distante São Luis. Geograficamente o rio Parnaíba separa o Piauí do Maranhão. Mas isto é apenas uma linha no mapa, os dois estados estão unidos pelo velho monge fonte de toda a cultura e sobrevivência do povo que habita a sua bacia hidrográfica. E quem canta o rio Parnaíba canta o Piauí e o Maranhão. O rio Parnaíba com seus afluentes, tanto de um lado como de outro alimentam a mesma cultura.

Nenhum comentário: