
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
o Piauinauta e a Capivara

Carne seca com abóbora

Mas se pode encontrar em qualquer botequim do Rio de Janeiro um prato popular em homenagem aos “paraíbas” (esses mesmos “baianos” de São Paulo): carne-seca com abóbora. Já experimentaram? Mas vejam o sincretismo carioca: vão buscar a abóbora no nordeste e o charque nos pampas gaúchos. A gastronomia carioca tenta agradar os gregos e troianos dessa odisséia brasileira...
Mar Redivivo

O mar de Iracema eu o conheci nas praias do Ceará. De lá para cá eu empreendi muitas viagens marítimas, pois um de meus primeiros sonhos de juventude foi ser marinheiro. Almirante. Mas agora estou viajando em torno de meu quarto. E daqui da amurada de minha fortaleza vejo muitos navios partindo para dar volta ao mundo, coisa que Julio Verne fez em oitenta dias. Hoje se faz em menos de uma semana. E num submarino atômico, em menos tempo ainda.
Tenho aqui em meu quarto, em cima de minha mesa de escrever um globo terrestre, com seus paralelos e meridiano, longitude e latitude, com o simples piparote o faço girar. Poderia chamá-lo de globo aquático, se fosse mais preciso e lógico. Pois ele tem mais água do que terra. Vou virando o globo e navegando.
No momento exato estou no Mar Egeu por onde os atenienses retornaram após vencer a frota persa. Vejo também todo o Mar Mediterrâneo, com as sagas mitológicas do guerreiro Ulisses tentando controlar os elementos mágicos de Circe e vendo seus companheiros transformados em porcos. Venho agora de percorrer Veneza pelo Mar Adriático, faz um tempo delicioso nesses dias de primavera. E assim vou girando o globo e viajando. São tantos nomes estranhos. Mas o importante não é o nome, é a paisagem marinha, é o que o mar significa para a terra, sem o mar ninguém avistaria a terra. Terá a vista. Diz o Marujo no alto da gávea.
De repente meu dedo desliza para o Mar da Noruega, vejo salmões vermelhos nadando numa coreografia feérica e bacalhaus com cabeça. Sim. Com cabeça. Pois eu nunca tinha visto bacalhau com cabeça, a não ser a vistosa estampa do bacalhau da Emulsão de Scoth. Agora estou no mar do Caribe, perto daqui de casa, sinto o cheiro das caravelas de Colombo, ouço o ruído das vozes insatisfeita dos marinheiros em rebelião. Estamos em pleno mar. Logo a America é descoberta, quer dizer, inventada de novo. America, Iracema.
São tantos os mares. E navegar é preciso. Viver também. O mar é meu caminho. O mar vive em nós, em nosso sangue, no sal da terra. Sem o mar Dom João VI, jamais teria fugido de Napoleão, teria sedo pego com sua turma na primeira esquina. Estou vendo agora por onde o Titanic passou. E o lugar onde foi a pique. Era um navio que nem Deus afundaria, diziam os agnósticos. Não foi preciso. Bastou a ponta fiada de um iceberg. São Mares pra valer. Existe até mar de rosas e maremoto e mar remoto, como, por exemplo, o Mar Morto, onde os arqueólogos encontraram algumas pistas da nossa história. Mar Cáspio.
Desci para o Pacifico e estou na ilha de Sesta Feira junto com Robson Crusoé, e cheguei até a ilha do Tesouro, junto com Robert Luis Stevenson. Naveguei para o Mar da China. Mar de Sargaços, ilhas dos Mares do Sul. Na Pérsia vi um guerreiro cheio de ira vergastar o mar, porque seus navios tinham sido engolidos pelas ondas enfurecidas. No Mar da Palestina vi Jesus Cristo, o Cara, surfando, sem prancha sobre as águas, e Pedro homem de pouca fé, tentou imitá-lo, e afundou, como uma pedra. Mar Negro, mar de ostras, pérolas, arrecife, a até de petróleo. Mar de abra os olhos e até de abrolhos. Mares nunca dantes navegados. Cabral, Vasco da Gama, Caminho das Índias. Fernando Pessoas. Espanha e Holanda, brigam pelos direitos do mar.
Meu quarto está sendo inundado de gosto de sal, sardinha e azul. Ouço o rufar de asas de gaivotas albatrozes. Um velho marinheiro de perna de pau cachimba no convés. O mar me navega, um dia morrerei no mar, não sei se é doce morrer no mar. Vou deixar o meu globo em paz, com os encantos do mar. Lancei a ancora no meu porto seguro. Agora tudo é calmaria. Ponto. Quisera ser um grande marinheiro. Mas fico aqui olhando do peitoril da minha janela o mar rugindo lá fora. E penso em Rubião que fitava a enseada da sua casa de Botafogo, e via tudo com ar de proprietário. Os donos do mar. Maranhão...
1 verso de primavera
Um passarinho mínimo
De um azul clarinho
Voava indiferente à sua cor
Parecia um poeminha
Que azul buscava um ninho
Em algum galho de amor
(Climério Ferreira)
Caso de Amor
foi como está
um bar
uma cerveja gelada
e o amor lúdico acontecendo.
Depois todos os beijos
pareciam definitivos
o amor amanhava manhãs
colhia girrassóis à noite
criava constelações.
foi o amor além do amar
além do mal
até tornar-se um desenventivo punhal.
Da Alma
Minha alma...
Ela passeia de mãos
com a espera...
por dias mais azuis...
ou, por um tempo qualquer
que não me arranhe...
Destoca
Para Hilda
deita em minha cama
exorcisa-me
do outro
vem pra tudo
que não quero
entrecoxas
terminado,
não cochila ao meu lado
vai-te
Em Teresina II

Paulo Vilhena
*
................................................... Para Edmar Oliveira
Era a rua e era a noite:
a tarde não, porque a tarde esfriava no gelatti.:
o novo pasto abrigava nossos sonhos
como éguas com frio
como nicinha doida para estuprar o tempo
e pierre baiano ouvindo núbia lafaiete
enquanto as coroas do parnaíba
aceitavam seus esgotos.
Era noite, era?
E quando fosse outro dia,
e quando fosse mais do que a valia
dessas ruas da glória, Campos Sales?
E se fosse a peteca na praça
que cada um de nós pode comer o dia e o amanhã
o que será mais indigesto –
o que resta de mim ou o que me resta
a tarde, a manhã, o coração ou o dia –
prefiro assim:
na rua da glória empinar lembranças
e por falta de frio
parir-me desse parnaíba,
sem pensão, mas com a pulsão
da poeticidade.
PoeMitos de Parnaíba II

Poeta. Espírita. Espírito
da carne e do osso, a roer
o osso duro do ofício de poetar.
Quixótico, exótico: misto de poeta
e de espírita. Via espíritos no
ar. Nunca estava sozinho:
quando a poesia lhe faltava
os espíritos surgiam e
se insurgiam contra a solidão.
Cavalheiro de fino trato:
tirava o chapéu para os
espíritos que só ele via.
O Fugitivo
Quero fugir de mim
Ficar desaparecido
Quieto no meu canto
Cuidando de meu jardim
Um caminho difícil
De percorrer até o fim.
Às vezes ouço vozes
Ecos no meu ouvido
Um amigo esquecido
Murmura para mim
Bem vindo entre nós
Deixa de te esconder.
Vem à tona vai viver
Toca o teu clarim.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Piauinauta em Paraty

Após o lançamento sideral de "Ouvindo Vozes" o Piauinauta paira em Paraty...
Quem se interessar em ouvir vozes clique AQUI
HISTÓRIAS DO CONCILIÁBULO II
Edmar Oliveira

Da ultima vez que estive na terra (por três dias, a trabalho) arranjei um tempinho (como sempre) para ir ao Conciliábulo. Aquela confraria de contadores de histórias que se reúne todo sábado e domingo no bar do Chicão, ali na Coelho de Rezende.
Desta feita tinha uma bonita jovem senhora, vestindo a camisa da confraria, pedindo ingresso naquele antro masculino que vem dos tempos do Clube do Bolinha (a revista mesmo). A negativa estava estampada na maioria dos confrades (dentre os de acordo estava o Garrincha, com a surrada camisa do Botafogo, já se engraçando pros lados da moça). Me juntei aos que queriam a presença da moça no recinto. Depois de um burburinho foi proposta uma decisão democrática entre os confrades. Eu, “saliente” como se diz na terra, me ofereci para defender a entrada feminina no Conciliábulo. Hermeto se propôs defender contra.
Enquanto discursava achava que eu estava deitando e rolando nos argumentos: a confraria devia rever a proibição (1) em nome da beleza; (2) em nome da modernidade; (3) renegando essa “viadagem” de só beber homem com homem; (4,5,6...) etc. etc. etc..., e concluía meu discurso, já inflamado e achando fácil ganhar, dizendo que se minha proposta fosse recusada eu não voltaria mais ao Conciliábulo pela burra teimosia de recusar a presença das mulheres. Silêncio no recinto, cada um refletindo os argumentos usados por mim. E pela cara dos confrades achava eu já ter ganhado a parada.
Hermeto esperou por um silêncio que lhe concentrou as atenções para começar a vociferar em sua voz metálica naquele homenzarrão: “Primeiro, pergunto: quem aqui faz questão que o Edmar volte? Segundo, os argumentos dele ficam fáceis porque a mulher dele ta lá no Rio de Janeiro. Terceiro, trago aos senhores uma reflexão – e olhando nos olhos de cada um – se ela for aceita a minha mulher vai querer vir. A tua também. A sua também. E ficaremos todos aqui com nossas mulheres em volta desta mesa. E digo mais: isso não vai ser mais o nosso bar onde a gente vem falar de política, religião, mulher e sacanagem, que é tudo a mesma coisa. Vai ficar parecendo um encontro de casais e aí é melhor a gente ir pra igreja do que vir pra cá! Tenho dito!”
Foi aplaudido de pé por unanimidade. Na votação “pro forma” até eu votei na proposta de Hermeto do clube continuar no seu machismo arrogante. E mostrando generosidade o Hermeto propôs que, naquele dia, eu e a moça fôssemos aceito na roda. Só naquele dia!
________Foto: três cabras feios no Conciliábulo: Paulo José, Edmar e Assaí.
Não Querer
não quero essa rotina triste
o dedo em riste na menor culpa
e a desculpa nos menores atos
não quero esse beco escuro
esse muro alto onde a gente tenta
pacientemente o outro lado
não quero censura por meu desacato
quando desato consciente
o nó indecente das convenções
não quero o coração acomodado
nem dado a aceitar passivamente
as queixas dementes da razão
não quero a vida com ressentimento
e nem momentos que sejam de abandono
em que o sono se pareça morte.
A VISÃO DE VISITANTE DESATENTO

Engole os becos íngremes
E igrejas proliferam na paisagem
Numa desarrumação espacial
De pássaros embriagados
Os tesouros não mais existentes
Devem ter sido ali postos
Na vã esperança de que humanos
Não habitariam tão inóspita demografia
Desafiando as leis do equilíbrio
Foram sendo edificadas nas encostas
As mais aconchegantes residências
E as mais belas janelas e sacadas
Pedra sobre pedra no passar do tempo
Foi-se eternizando o histórico sofrimento
A que foram submetidos os escravos
Na composição de tão singular beleza
Best-seller
Tez
Tes...temunho
Te...cido
No embaixo da pele.
Expõe ferida
De sangue vivo
Em
Tes...tamento.
O sono do poeta
Durvalino Couto
Atenção:
o poeta vai dormir
As portas estão fechadas?
Mas que loucura é essa?
Abram-se as cortinas
1000TON
Em Teresina I
Paulo Vilhena
A noite emprenhando dos poetas
que nada temem:
recolhem no orvalho ou no calor
o estranho sêmen.
PoeMitos da Parnaíba

Elmar Carvalho
Se bem pesado não dava
sequer meio-quilo. Pai de
Cotinha, mulher bonita e
namoradeira nos escuros
do velho Cine-Teatro Éden – paraíso
de estripulias estrambóticas e eróticas.
O pequenino Meio-Quilo, de lanterna em
punho, a roubar Cotinha dos braços
do namorado, era um filme
à parte.
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Meu Guri

Marina da Silva
Geraldo Borges
Marina Silva não é nenhuma Joana do Arco, nem tampouco uma amazonas, mas é mar e selva, duas forças poderosas da natureza, eis a sua primeira e grandiosa afinidade com o Brasil. Palavras sim. Palavras têm força quando não são demagógicas. Fiat lux e a luz se fez.
Marina Silva no principio de sua adolescência era apenas uma menina que não sabia ler, como milhões de mulheres no Brasil, vivendo na ignorância. Alfabetizou-se aos dezesseis anos. E o mais importante formou-se em História, e está escrevendo a sua história. E com certeza conhece o país pagina por página. Gosta de ler, ao contrario de nosso guia, que não gosta, conforme sua própria declaração, e nem ao menos fez questão de adquirir esta salutar habito, tão importante em uma republica das letras. Ler lhe dá sono.
Marina conhece o Brasil de pé no chão. Teve uma profícua militância, incansável, durante muitos anos. Foi uma das fundadoras do PT. De simples vereadora no Acre alçou-se ao Senado. Sua figura chã e retilínea, embora frágil de compleição é um emblema que brilha na constelação de poucos políticos sérios neste país.
Sua retirada do PT aconteceu na hora certa, num momento conjuntural propício, como se a árvores da floresta ativesse dado o fruto certo na hora bem vinda. Bom momento para navegar enquanto a maré estar subindo. Claro que não é só mudando de partido que as coisas se resolvem. Um partido não é o povo, mas o povo é uma assembléia e quando tiver consciência disso será maior do que um partido. O PV pode ser o partido da vitória. Quer dizer um partido que não vise acobertar os corruptos, que não vise um desenvolvimento a custa da miséria da maioria dos deserdados.
Se Marina Silva for candidata a presidente da republica colocará em discussão sua nova mensagem que não é de hoje para um novo desenvolvimento, o crescimento sustentável. Uma bandeira que traduz a paz do homem com a natureza. Mariana Silva sente na própria pele a responsabilidade desta tarefa. Pois já sofreu o desmantelo do desenvolvimento assassino que não respeita o meio ambiente. Estou falando de contaminação de seu organismo pelo mercúrio. O caso dela é conhecido, sem falar de centenas de pessoas que são agredidas todo dia pela ferocidade química e física de uma sociedade consumista.
Quando fenestraram Marina Silva do ministério do Meio ambiente. Marina mar e selva. Apareceu uma oportunidade para que ela saísse do partido. Mas, paciente, reflexiva, não volátil como o mercúrio que corre em suas veias, ela esperou o momento decisivo. Soube fazer a hora, coisa rara. E assim aconteceu.
Muitos episódios políticos de uma comédia bufa, que, são um prato cheio para os programas de humor, estão ocorrendo em Brasília, sob os holofotes da imprensa: a crise do Senado, com todos os seus desdobramentos. O PT perdendo toda a sua credibilidade, o que é uma pena, comendo farelos com os porcos, quem manda ouvir o canto de Circe. A pocilga está insuportável. E por isso mesmo não foi só Marina Silva quem saiu. O senador Flávio Arns gente de boa família, resolveu também pular a janela, tomar fôlego em busca de outro horizonte.
Agora é esperar o desencadear da narrativa histórica, quer dizer dos acontecimentos, do jogo de xadrez. A rainha Dilma segundo a voz dos oráculos está na corda bamba, sem muito equilíbrio. E, além de tudo, não tem mostrado simpatia. Claro que simpatia apenas não ganha eleição. Se ganhasse Marina Silva já estaria eleita. No Brasil o que ganha eleição é dinheiro, aí está o perigo. Mesmo assim o aparecimento de Marina Silva no elenco dos candidatos para presidente da republica é uma guinada nova na luta por espaço político capaz de arejar o meio ambiente e criar uma lufada de esperança para um país onde o mar e a selva tem de ser preservado. Não é Marina Silva?
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Borges, Piauinauta de primeira hora tem todo o direito de politizar. Só lembro ao amigo que Sarney Filho é membro dileto do PV....
A Cara de Teresina
Paulo Tabatinga fez esse vídeo no Bar do Chicão da rua Palmeirinha. Não é a cara da minha Teresina?