Edmar Oliveira
Quando estive em Teresina da última vez reparei que um fenômeno, que já vinha acontecendo de tempos antes, agora está exacerbado. Os prédios se empinando no rumo das nuvens, todo mundo querendo morar atrepado, desvalorização das casas de rua, com os muros ficando mais alto, escondendo as bonitas residências de antes. E as cercas elétricas estendidas no alto dos muros lembrando presídios e campos de concentração. E um medo de assalto, um medo dos mais pobres e pretos muito maior que antigamente.
E, assunto de todos, o aumento da violência na cidade. O medo das pessoas bem maior do que o medo que se tem no Rio de Janeiro. E a pergunta insistente de como é que alguém pode morar no Rio de Janeiro com a violência transmitida pela televisão. Fiquei encasquetado com aquilo.
E matutei aqui comigo: primeiro a televisão tirou de Teresina as cadeiras na calçada à noitinha, quando se ficava a esperar “o vento que vinha de Parnaíba”, numa prosa com os vizinhos. Eu vi essa passagem. Quando a televisão transmitiu a copa de 70 foi com uma imagem trazida do Ceará, que mais chuviscava do que se viam os jogadores correndo atrás da bola. Depois o sonho do Valter Alencar trazendo a TV na canção da Wanderléia: “vem aí a TV/Rádio Club pra você” (alguém lembra aí da música?). Aí as cadeiras saíram das calçadas para prestar atenção nas novelas da TV. Que modelou os costumes, o modo de vestir de todo mundo. A jaqueta Lee fez moda num sol de quarenta graus.
Agora a TV diz todo dia dos assaltos e da violência do Rio. Claro que tem lugares violentos. Toda cidade grande tem. Mas tem muitos lugares em que se pode viver em paz com uma taxa de violência aceitável. No Rio, na Cidade do México, em Tóquio. Não em Teresina. Além de acharem que eu vivo entre rajadas de tiros e assaltos a cada esquina, acham também que essa violência da mídia chegou a Teresina. E deve ter chegado mesmo, mas não em todo lugar. A mídia não ensina direito a geografia e muitos me ligaram para saber como eu estava sobrevivendo às enchentes que aconteciam na Região Serrana a uns 70 ou 100 quilômetros de distância da minha casa. Tipo em Altos e Campo Maior para quem mora em Teresina. Mas a violência de Teresina, dizem, está em toda parte. Andei como de costume e não a encontrei. Sorte minha.
Posso estar errado. A violência chegou a Teresina, como chega a qualquer cidade que cresce assustadoramente, tirando os moradores nativos do lugar. Quando todo mundo se conhece se rouba galinhas. Quando ninguém se conhece a violência campeia. Mas não em toda parte.
Queria estar errado. Mas acho que a mídia ajuda a disseminar um medo sem limites e, geralmente, um medo dos pobres, dos pretos, dos desvalidos...
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Foto da Ponte Estaiada contrastando com o Morro do Urubú (agora eufemisticamente rebatizado de Morro da Esperança) de Paulo Tabatinga.
Foto de cadeiras na calçada, em Oeiras, de Moisés Oliveira Filho.
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