(Geraldo Borges)
O dia estava nublado. Bonito para chover. Resolvi sair de casa e dar umas voltas pelas ruas da cidade velha de Teresina. Eram mais ou menos oito horas da manhã. Peguei um ônibus lotado. Quando cheguei no centro, as pessoas, ainda, estavam abrindo as portas dos estabelecimentos. Foi até à beira do rio perto do Troca- Troca, e depois resolvi voltar para casa.
No terminal de
ônibus do Mercado Velho, perguntei a uma
moça, que me chamou a atenção, qual era o coletivo que passava em frente do
hospital da Primavera.um ponto de referencia para o meu bairro. Ela falou que, quando o ônibus chegasse, me apontaria.
Logo que acabou de falar o coletivo apontou.
Ela disse, é aquele acolá. E saiu correndo, acenando-me para que a acompanhasse.
Era uma moça de cor preta, cabelos
curtos, ombros redondos, pescoço alongado, cintura fornida. O rosto zangado.Os olhos pareciam dois punhais.
Quando
o ônibus parou e o motorista abriu a porta, ela deixou que eu entrasse em sua
frente. O ônibus estava praticamente vazio. Pois estava indo para os bairros da
periferia. Já era mais de dez horas da manhã, E as pessoa que teriam de vir
bater o ponto no comercio e nas repartições já tinha vindo, como também os estudante.
Passei a catraca e me sentei; o lado do meu
banco ficou vazio. Havia muitos assentos
vazios. Fiquei imaginando que a moça viesse assentar-se ao meu lado Talvez eu
estivesse carente. Não custaria nada iniciarmos uma conversa. Talvez ela
desabrochasse um sorriso. Mas, a moça passou pelo corredor do ônibus, ao meu
lado, indiferente. Ainda pensei em me levantar e procurá-la. Caso o seu assento
ao seu lado estivesse vago. Eu a abordaria e me sentaria perto dela. Desisti.
O ônibus
rodava Eu observava as paradas. Gente
saindo, entrando. Teria ela saído. E eu não dei fé? Acredito que não; ainda
estamos na zona metropolitana. Com
certeza ela é uma moça suburbana. Não me
parece que mora no centro. A não ser que seja uma empregada domestica e esteja se dirigindo à
casa da patroa. Mas, nesse caso, está atrasada. Pois já são mais de dez horas.
Pode ser também, uma moça de programa, que passa a noite fora de casa, e só
volta no outro dia, ressabiada de homens. Pode ser. Mas está vestida, tão
simplesmente, calça Jeans. Nada chamativo. O rosto sem pintura. O sorriso
ausente. O que mais pensar? Eu pensava que bem que ela poderia estar aqui ao
meu lado.
O ônibus
corria. O barulho da catraca em meus
ouvidos, o guizo da sineta pedindo parada.
De súbito me veio a mente o ônibus
cheio. As pessoas se atropelando na
porta para entrar. Algum malandro se aproveitando do excesso de
lotação para cometer saliências com mulheres. Isto me fez lembrar um
caso, contado por uma amiga minha. Ela pegara
um ônibus muito cheio. Um cara, atrás dela, logo
se aproveitou da situação para meter uma coisa dura entre suas coxas. Ela ficou surpresa, e disse para todo mundo ouvi, goza logo cara que eu vou sair na próxima
parada.
Quando cheguei
próximo da minha parada, levantei-me para dar o sinal, e fui me aproximando da
porta traseira quando vi a
moça no fundo do ônibus Sorri para ela.Não
me correspondeu. Eu era apenas um estranho que tinha lhe pedido uma informação, nada mais. Ela
estava séria, encolhida, como uma corça acuada. Achei estranho, muito estranho, aquela jovem
ter se sentado no último banco do coletivo. E costume chamá-lo de cozinha. Por que atravessar todo o corredor do ônibus
vendo os bancos vazios ao seu lado e
assentar lá nos fundos, sozinha.? Estaria com medo de o ônibus ficar superlotado,
e ela ter de enfrentar contatos lascivos
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