domingo, 2 de fevereiro de 2014

DISCO RÍGIDO


(Edmar Oliveira) 

Esses cientistas maravilhosos e suas teorias voadoras! Leio nas folhas, aquela notícia fria que é publicada quando falta assunto, que cientistas revisaram a teoria sobre o esquecimento nos idosos. A gente foi convencido que a cada dia perdíamos neurônios e com isso a nossa capacidade de lembrar e associar fica mais lenta na proporção direta do envelhecimento.

Pois bem, agora cai essa tese. Novos testes dizem que a dificuldade de lembrar e associar é proporcional à quantidade de informação adquirida e, portanto, não são os neurônios que morrem os responsáveis, mas é a quantidade de informação que faz o pensamento ficar lento. E explicam a nova teoria com um modelo computadorizado: é como se o disco rígido dos mais vividos (não mais dos mais velhos, reparem na sutileza) ocupasse a memória disponível fazendo o computador de cada um rodar mais lento.

Invalidaram até os testes do século passado, como se eles não correspondessem à complexidade da informação atual. Na nova bateria de testes inventada, são os menos vividos que têm a dificuldade de associar e lembrar de fatos não vividos, mas só conhecidos pela leitura e estudo. A resposta dos mais vividos e que detêm mais informação são lentas, mas muito mais complexas e explicativas, nos novos testes, do que a resposta dos jovens que têm uma memória rápida, estupenda, mas vazia. Como um computador novo, que rapidamente abre os programas, mas não tem conteúdo para ser trabalhado.

Portanto, meus senhores e colegas de vivência, nós teríamos uma grande vantagem em relação aos nossos filhos e netos.

Mas ainda assim fiquei meio encucado: e essa quantidade de informação não tem perigo de travar, como acontece aos computadores? E a gente pode formatar algumas histórias mal contadas? Posso limpar a lixeira de lembranças que já deletei, para ter mais espaço? Assim como os arquivos temporários que ficaram aqui e que não quero mais? E quando vão inventar um antivírus para a demência ou o Alzheimer?

Por outro lado, agora quando esqueço onde coloquei uma chave, não lembro de um compromisso, passo batido numa data importante, posso explicar pela quantidade de informação que obtive na minha vida e não fico mais com medo de que o alemão estava me perseguindo. Até quando não lembro mais o nome dele.

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Para conhecer o assunto:
 
 

 

Já sou avô, em dose dupla. E beleza que ainda me lembro dos nomes deles: Lady Laura e Rei Arthur. Em charge magistral de GERVÁSIO, me preparo enquanto sou:

 



 

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