domingo, 4 de agosto de 2013

HABEMUS PAPAM CHARISMATUM


(Edmar Oliveira)
 
E, por cima, argentino! A simpatia e o carisma de Francisco, na sua passagem pelo Brasil, encantaram fiéis, simpatizantes e adversários. Eu sou um dos que não militam nos mistérios da fé. Tenho, inclusive, críticas ao Bergoglio na sua aproximação aos militares da ditadura argentina. Mas parece que um milagre aconteceu no seu assento no trono de São Pedro, tendo inclusive tirado os adereços em ouro e prata da cadeira papal e removido o tapete vermelho das autoridades importantes.

Simples, o homem com uma batina branca em cima da calça preta tem os sapatos desgastados do ateu “Pepe” Mojica, presidente do Uruguai. Carrega sua pasta preta sem ajuda de secretários e foi de encontrão ao povo como um sujeito que repete um Cristo na sua missão evangélica. Na comunidade de Varginha, que conheço do meu trabalho lá, falou a linguagem simples das vielas comunitárias, elogiou o recepcionista que diante de uma visita inesperada coloca mais água no feijon (os de língua espanhola não falam ão de forma nenhuma). Disse que tomaria um cafezinho na casa de cada um, mas cachaça non! (reconhecendo o costume do povo daquela comunidade). Só faltou rezar a missa com a tal cachaça no lugar do vinho. Quando um padre lhe trouxe uma imagem de sua terra, para que fosse abençoada, saiu-se com um singelo “porque você não a abençoa?, sua bênção vale tanto como a minha”. Saiu de um automóvel comum do encontro com os políticos, enquanto estes saíram de helicópteros. (Até que foi providencial, pois uma manifestação esperava os políticos na porta do palácio Guanabara. Eles corriam perigo, o Papa não). Quando foi embora ainda fez a inacreditável declaração a favor dos homossexuais para um representante da igreja católica.

Mostrou o carisma necessário a um líder político, enquanto os nossos políticos carecem do carisma e da humildade de Francisco. O pecador hipócrita Sérgio Cabral até se retratou, prometendo não levar mais sua cachorrinha e as babás no helicóptero do governo nos fins de semana para Angra dos Reis, em nome da humildade. Fez cara de bebê chorão e pediu trégua nos protestos na frente de sua casa. Mas os jovens, abençoados pelo Papa, amaldiçoam Cabral com toda razão. Ainda bem que separam a fé da política num Estado que se diz laico. E o papa ainda lovou o Estado Laico e incitou os jovens à bendita revolta!

Entretanto, essas digressões são apenas para dizer que o Papa, o líder daquele Estado incrustado na Itália, o representante daquela religião que tanto fez mal na história da humanidade, encantou este ateu com sua simplicidade e carisma. Ainda é cedo para avaliar a conduta deste Papa no futuro da igreja conservadora, intolerante, discriminadora, enfim, um monumento cristão que estava perdendo fiéis para as seitas evangélicas pentecostais, que prometem um pedaço do céu aqui na terra com seus milagres mentirosos.

Mas, como diz José Simão, o Papa já fez um primeiro milagre verdadeiro, que foi os brasileiros amarem um argentino. Eu acho milagre também nas atitudes simples e humanas para um cargo litúrgico que sempre teve pompa nas circunstâncias.

O que eu ainda pago pra ver é se a atitude de Francisco não é apenas uma ritualização da famosa frase de Lampedusa: é preciso que as coisas mudem para que permaneçam como sempre foram. Ou se Francisco é tão avançado que o conservadorismo da igreja cortará suas asas para que não faça o voo do impossível.    
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caricatura: Amarildo    

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Há muito tempo esperava uma palavra
assim, de um papa.
Humilde, como o Cristo, acolhendo a todos, com carinho e humildade.
Valeu, ter vivido 77 anos para vê-lo.Se ele vai poder mudar, ou não, tudo o que há de errado.Espero que consiga.

Monica disse...

Até que enfim...Encantada com seu encantamento! Precisamos de Papas Franciscos.
Habemus Papam!

GISLENO disse...

Você encontrou o Amarido?!?!?!?!?!?