(Edmar Oliveira)
E, por cima, argentino! A simpatia e o carisma de Francisco,
na sua passagem pelo Brasil, encantaram fiéis, simpatizantes e adversários. Eu
sou um dos que não militam nos mistérios da fé. Tenho, inclusive, críticas ao
Bergoglio na sua aproximação aos militares da ditadura argentina. Mas parece
que um milagre aconteceu no seu assento no trono de São Pedro, tendo inclusive
tirado os adereços em ouro e prata da cadeira papal e removido o tapete
vermelho das autoridades importantes.
Simples, o homem com uma batina branca em cima da calça
preta tem os sapatos desgastados do ateu “Pepe” Mojica, presidente do Uruguai.
Carrega sua pasta preta sem ajuda de secretários e foi de encontrão ao povo
como um sujeito que repete um Cristo na sua missão evangélica. Na comunidade de
Varginha, que conheço do meu trabalho lá, falou a linguagem simples das vielas
comunitárias, elogiou o recepcionista que diante de uma visita inesperada
coloca mais água no feijon (os de língua espanhola não falam ão de forma
nenhuma). Disse que tomaria um cafezinho na casa de cada um, mas cachaça non!
(reconhecendo o costume do povo daquela comunidade). Só faltou rezar a missa
com a tal cachaça no lugar do vinho. Quando um padre lhe trouxe uma imagem de
sua terra, para que fosse abençoada, saiu-se com um singelo “porque você não a
abençoa?, sua bênção vale tanto como a minha”. Saiu de um automóvel comum do
encontro com os políticos, enquanto estes saíram de helicópteros. (Até que foi
providencial, pois uma manifestação esperava os políticos na porta do palácio
Guanabara. Eles corriam perigo, o Papa não). Quando foi embora ainda fez a
inacreditável declaração a favor dos homossexuais para um representante da
igreja católica.
Mostrou o carisma necessário a um líder político, enquanto
os nossos políticos carecem do carisma e da humildade de Francisco. O pecador
hipócrita Sérgio Cabral até se retratou, prometendo não levar mais sua
cachorrinha e as babás no helicóptero do governo nos fins de semana para Angra
dos Reis, em nome da humildade. Fez cara de bebê chorão e pediu trégua nos
protestos na frente de sua casa. Mas os jovens, abençoados pelo Papa,
amaldiçoam Cabral com toda razão. Ainda bem que separam a fé da política num
Estado que se diz laico. E o papa ainda lovou o Estado Laico e incitou os
jovens à bendita revolta!
Entretanto, essas digressões são apenas para dizer que o
Papa, o líder daquele Estado incrustado na Itália, o representante daquela
religião que tanto fez mal na história da humanidade, encantou este ateu com
sua simplicidade e carisma. Ainda é cedo para avaliar a conduta deste Papa no
futuro da igreja conservadora, intolerante, discriminadora, enfim, um monumento
cristão que estava perdendo fiéis para as seitas evangélicas pentecostais, que
prometem um pedaço do céu aqui na terra com seus milagres mentirosos.
Mas, como diz José Simão, o Papa já fez um primeiro milagre
verdadeiro, que foi os brasileiros amarem um argentino. Eu acho milagre também
nas atitudes simples e humanas para um cargo litúrgico que sempre teve pompa
nas circunstâncias.
O que eu ainda pago pra ver é se a atitude de Francisco não
é apenas uma ritualização da famosa frase de Lampedusa: é preciso que as coisas
mudem para que permaneçam como sempre foram. Ou se Francisco é tão avançado que
o conservadorismo da igreja cortará suas asas para que não faça o voo do
impossível.
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caricatura: Amarildo
3 comentários:
Há muito tempo esperava uma palavra
assim, de um papa.
Humilde, como o Cristo, acolhendo a todos, com carinho e humildade.
Valeu, ter vivido 77 anos para vê-lo.Se ele vai poder mudar, ou não, tudo o que há de errado.Espero que consiga.
Até que enfim...Encantada com seu encantamento! Precisamos de Papas Franciscos.
Habemus Papam!
Você encontrou o Amarido?!?!?!?!?!?
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