(Edmar Oliveira)
Foi com satisfação dividida que ouvi meus conterrâneos
louvando a chuva que chegou fora de época, agora, em Teresina. Nas redes
sociais os piauienses cantavam o cheiro da terra molhada, a diminuição da
inclemência solar do equador, e deixar o corpo banhar-se nas bicas dos telhados
fartos. Houve mesmo quem gostou de ter goteiras em casa com um telhado feito
mais pra proteger do sol do que da chuva. Aliás, chamamos o guarda-chuva de
guarda-sol pela melhor utilidade da indumentária.
Banhar é um verbo só conjugado na nossa terra. Ninguém lá
diz “vou tomar banho”, mas um delicioso “vou me banhar”. Na chuva então fica mais gostoso. “O menino
banhou?”, conjugamos o verbo na pergunta e eu pergunto quem não foi pra chuva
banhar de alegria quando foi criança?
O carioca não gosta de dias nublado, reconheceu a cantora
gaúcha. Quando aqui cheguei não entendi quando o rádio ou a tv dizia que ia ter
tempo bom e eu saia num sol de rachar que, tirante a brisa do mar, torna o verão carioca muito igual a quentura
do meio dia do sertão. Pra mim o tempo bom deles era aquele calor de amolecer o
juízo, que cansei de experimentar na terra filha do sol do equador. O meu tempo bom sempre foi chuvoso.
Um amigo meu disse que só conseguiu pensar mais devagar
quando saiu do sertão pro litoral. Diz ele que só conseguiu elaborar um
raciocínio mais complexo quando o sol deixou de amolecer seu juízo. Tirando o
exagero, faz algum sentido. Como aquele personagem de um romance do Camus que
comete um assassinato porque estava fazendo muito calor no norte da África.
Camus, sim, exagera. Se seu personagem fosse colocado no sertão seria tomado de
uma fúria homicida bem maior, pensando eu aqui que o escritor nunca imaginou o
calor do Piauí.
Mas devido às mudanças climáticas tá chovendo em julho no
Piauí, coisa de acontecimento extraordinário e de justas comemorações. E aí dá
saudade. Euclides da Cunha, nos Sertões, quando comenta o clima do nordeste diz
que ele faz o homem ir embora e voltar, diferente de outros nômades da terra. É
que no sertão o cinza se faz na inclemência do sol e falta de chuva fazendo o
sertanejo arribar. Mas é só cair as primeiras chuvas que o verde volta e quem foi
embora também volta.
E não é à toa que quando as nuvens cobrem o sol carregadas
de água a gente diz: tá bonito pra chover!
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foto: futebol na chuva e no sol, no Piauí
5 comentários:
O espetáculo não pode parar...
Só sabe interpretar o "tempo bom" nosso, quem vive por muito tempo aqui em Teresina. Estive em Rio do Sul, Santa Catarina, onde o sol quase não sai e, diante de um sol de meio dia equivalente ao nosso sol de 7 da manhã vi o pessoal reclamando do calor. Não me contive e falei: "gente, vocês não sabem o que é e não gostam do sol! Na minha terra faz quarenta graus á sombra e eu adoro o sol!
Só sabe interpretar o "tempo bom" nosso, quem vive por muito tempo aqui em Teresina. Estive em Rio do Sul, Santa Catarina, onde o sol quase não sai e, diante de um sol de meio dia equivalente ao nosso sol de 7 da manhã vi o pessoal reclamando do calor. Não me contive e falei: "gente, vocês não sabem o que é e não gostam do sol! Na minha terra faz quarenta graus á sombra e eu adoro o sol!
Eu não gosto de sentir calor. Seja no sol ou na sombra. Me lembro do calor do sertão como algo quase sólido. Me lembro de ter um cabelo compriiido que ia até a cintura. E um dia em Patos, na Paraíba, saí de casa com ele molhadinho, só foi o tempo de atravessar a rua e entrei na igreja de Santo Antônio...com a cabeleira já sequinha. Mas fui expulsa...Frei Damião não deixava entrar de blusa sem manga... Saudade danada do nordeste!!!
Edmar, conheci seu blog atraves de Sergival, que levei em casa num bate papo maravilhoso em meu taxi. Agora aqui em casa com minha mãe e irmã, me emocionei lendo suas palavras narrando e trazendo de volta sensacões que só puderam ser vividas lá. Tá bonito pra chover !!!!
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